Capítulo 23 - Natalie

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Tudo estava relativamente bem, até a noite de quarta-feira. Desculpe, a terrível-horrenda-desastrosa-noite-de-quarta-feira. Melhor agora.

Quando eu voltei para a editora, fui direto procurar a carta que Alexander tinha mencionado durante a nova conversa "via-mensagem". Eu acabei me derretendo ainda mais por aquele homem... Mas, enfim, eu deixei, sim, uma resposta e não tive nenhuma carta dele na terça, mas vamos falar disto depois.

À noite, tive minha conversa séria com Clara, posso acrescentar que não foi das melhores. Talvez eu tenha sido um pouco severa e rude com ela. Ou talvez eu esteja exagerando. Mas o que eu podia fazer? Ela é minha amiga e não podíamos não ter esta conversa. Então, muito contragosto, nós fomos conversar.

- Penitência? – murmurou no momento em que nos sentamos na cama dela. Uma cama bem grande e a qual nunca irei me acostumar.

- Não fale assim, precisamos conversar – toquei no seu ombro e a esperei assentir. – Clara, eu já te deixei muito tempo nessa situação e, por isso, que você terá que mudar. – Ela me olhou de forma indignada. – Eu te amo demais, respeito suas decisões e aguento outras; mas não posso deixar que continue assim. – Rolou os olhos e abriu a boca para contrariar. – Não! Não me interrompa. Sei que você passou muita coisa por conta do seu pai, da sua mãe e... do Henry. Clara, precisamos falar dele. – Segurei seu braço, mas ela já estava em outro planeta.

- Não quero falar sobre ele, por favor – pede, parecendo bem interessada na costura do edredom da cama.

- Tudo bem, então, falemos da sua mãe...

- Eu não quero falar de nenhuns deles, Natalie – murmurou.

Eu sei que é difícil para ela, mas pra mim também é difícil vê-la chorar quase toda santa noite por causa de um deles ou de todos. Odeio vê-la usar quase sempre uma máscara que esconda a verdadeira Clara, a Clara que conheci.

- Eu sei - falei gentilmente –, mas também sei que você não pode mais ficar desse jeito. – Ela balança a cabeça e continua não me olhando. – Se lembra de quando eu disse que deixaria você fazer o que quisesse, tomar um rumo da sua vontade? – Assentiu. – E se lembra que eu também disse que se eu te visse no fundo do poço, teria que te tirar de lá de qualquer jeito? – Fui um pouco mais para perto dela, cautelosamente. – Hein? – Assentiu um pouco relutante, e eu peguei sua mão. – Então, é isso que estou tentando fazer. – Nada da parte dela. – Olha, se você cooperar, eu deixo que escolha de quem vamos falar primeiro, tá?

Clara levantou a cabeça e, pela primeira vez, me olhou nos olhos. Eles estavam cheios de lágrimas prontas para serem derramadas. Apertei mais forte sua mão e ela retribuiu o aperto. Aos poucos, aos poucos, repetia na minha cabeça.

- Você não sabe negociar muito bem, sabia? – Um mínimo esboço de um sorriso se passou e eu soube que demos um  passo largo. – Comece com a minha mãe, acho que ela é a menos patética de todas – acrescentou em um sussurro.

- Clara, não fale assim dela. Não sabemos por que ela era tão fraca a ponto de não se permanecer sã por você. E também sabemos que o seu pai nunca foi dos melhores com ela... – Clara meneou a cabeça e continuei: – Acho que... ela não teve pessoas da família dela nas quais poderia ter confiado e, não sei, talvez ela achou que seu pai seria uma pessoa que preenchesse todas as lacunas do seu coração.

- E por que ela inventou de engravidar? Tipo, se ela viu que o casamento com meu pai não estava dando certo, por que engravidar? – Nesse momento Clara já estava gesticulando.

- Porque ela achou que um filho traria o seu pai mais perto dela e, assim, salvaria a família que, possivelmente, sempre quis ter. Apesar de tudo, ela queria se sentir amada. Mas...

Até Que A Luz Se ApagueOnde histórias criam vida. Descubra agora