Animais Fantásticos e Onde Habitam - O Livro

O desembarque da maleta

A década de vinte poderia ser tida como um suspiro digno de um recomeço, tanto para a comunidade trouxa como para a confederação internacional dos bruxos. A Primeira Grande Guerra trouxa trouxe as provocações necessárias para que isso, contudo, não acontecesse.

O intenso esforço da comunidade bruxa de não interferir diretamente nos conflitos foi suficiente para que as baixas de aurores e civis trouxessem o caos para as reuniões da confederação internacional, ferroando as leis do sigilo, fazendo com que os ministérios e governos do mundo inteiro escondessem ainda mais a população mágica, algo que não agradou muito a população duende e levou a uma intensa balbúrdia no que se transcorreram os anos de contenção de dragões pelo Departamento de Regulação de Criaturas Mágicas, por exemplo, na Inglaterra.

Não foi à toa que Newt Scamander acabou por trabalhar nove anos naquela sessão do Ministério da Magia, após sua formatura em Hogwarts. Muito bem recomendado por seus professores (mesmo com uma expulsão) o prodígio não teve problemas de desemprego. Bom, uma carta de recomendação do ilustríssimo Prof. Alvo Dumbledore abriria muitas portas. Mesmo assim, o melhor dos trabalhos pode se tornar monótono quando se passa maior parte do tempo trancafiado em um cubículo de um escritório compartilhado no subsolo de Londres.

A única companhia do tímido Newt era seu colega de cubículo Ronald Abbot, um homem de bom humor, mas de poucas palavras.

Cada vez mais recluso, Newt viu a oportunidade de se ver novamente no ramo das criaturas selvagens - como fora em Hogwarts, antes do fatídico acidente -, quando estava pronto para abanar a cabeça e bater na porta do diretor para pedir sua carta de demissão.

E quem trouxe tal notícia foi ninguém menos do que o quieto Abbot, quando largou uma manchete enorme e estrondosa da primeira página do Profeta Diário sobre seu balcão, enquanto saia para o almoço na Trafalgar Street.

Newt pegou a matéria e viu a foto do homem que estaria para mudar o curso da comunidade bruxa do século XX em poucos anos.

Geleirt Grindelwald aparecia com os dizeres de "procurado", ao lado de uma mini biografia de sua vida agitada e popular (e temido) como aluno na academia búlgara de Durmstrang. Seu discurso fervoroso de como os trouxas eram como ratazanas parasitas e doentias, além de empecilhos no segmento da normalidade da vida de um bruxo comum, que deveria por lei viver nas sombras (como um verdadeiro rato), aparecia nas manchetes como sinfonias agitadas para quem compartilhasse de sua opinião, mas não tivesse coragem de fazê-lo.

Mas até para Durmstrang, o lar da magia das trevas, os pensamentos e ideais de Grindelwald era demais para se escutar sem um arrepio na espinha.

"Leta concordaria com isso...", pensou Newt, varrendo os pensamentos da mente no momento seguinte, dobrando a página para a segunda folha, deixando de lado a antiga amada e a transcrição de Grindelwald "por um bem maior".

Abaixo de uma propaganda revoante de vassouras Clepsweek, a reportagem trazia o depoimento de uma velha bruxa de nome Aya, no sul do continente africano, sobre o temor que vivia a sua vila, ao lado de um verdadeiro caso de Obscuro.

"A menina foi presa desde cedo pelos pais trouxas, quando apresentou a divina arte da levitação ao fazer flutuar por uns três minutos a carroça do pai.", contou a velha. "A coitada agora continua acorrentada no porão da casa, gritando todas as tardes e todas as noites, rugindo quando ameaça entrar em colapso e explodir a casa com os moradores dentro..."

Aquilo foi como um estalo para Newt Scamander, que não tardou a deixar Abbot a ver navios quando o cumprimentou após voltar do almoço, e vê-lo ir até a sala do diretor pedir sua demissão.

Mal chegara no corredor acapertado de roxo, sobre os ladrilhos negros e brilhantes dos corredores ampinhados do departamento, encontrou com o próprio diretor.