O assalto

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Uma longa fileira de postes altos se perdiam na imensa rua de calçadas molhadas da Diamond District. Jacob e Newt seguiam subindo por elas, passando por uma interminável sequência de vitrines de luxo comportando os mais diversos itens a preço de vidas inteiras de trabalho: esbanjando jóias encrustadas em brincos, colares e anéis cintilantes. A calefação continuava a subir, correndo pelo meio fio, e esquentava ao menos um pouco o vento enregelado que atravessava seus rostos, secando os olhos. 

Jacob ainda não estava acreditando que havia se metido naquilo e, olhando vez ou outra, como se esperasse que a bruxa Tina aparecesse de súbito, se espichava os olhos grandes e pretos sobre o ombro, resfolegante. 

—  Eu estava prestando atenção em você no jantar —  comentou Newt, vagamente. 

—  É mesmo?

—  As pessoas gostam de você, não é, Sr. Kowalski? —  As botas grandes e pontudas de Newt batiam sobre o solo como o andar engraçado de um pato. Jacob, por um segundo, perguntou-se se ele realmente tinha outros amigos que não fossem apenas para falar de bestas mágicas. 

—  Ah, mas as pessoas gostam de você também, não é? —  disse, tentando soar alegre. 

—  Não, não gostam. Eu irrito as pessoas. —  Talvez ele entendesse um pouco disso, mas Jacob esperava que não fosse comum ele sair por aí caçando criaturas perdidas em Londres também. 

—  Ah —  murmurou rapidamente. Newt, porém, não pareceu se afetar muito. 

—  Por que decidiu ser padeiro? 

—  Por que... aquela fábrica de enlatados está me matando. É lá que eu trabalho, todas as manhãs. Está matando todo mundo. Suga sua energia. —  Virou-se para ele, de repente: —  Gosta de enlatados? 

—  Não. 

—  Eu também não. Por isso eu quero fazer doces —  sorriu —, para deixar as pessoas felizes. Vamos por aqui...

Encaminharam-se por uma outra esquina, passando pela milésima joalheira daquela parte da cidade. As luzes estavam desligadas, mas os mostruários de bustos cintilavam sob a luz farca dos postes públicos. Dezenas de colares esbanjavam cordões finos e grossos, pedras que pareciam pesar quilos caindo dos pingentes. 

— Então, conseguiu o empréstimo? —  indagou Newt. 

—  Não —  confessou, não muito decepcionado, mas sempre com aquele humor positivo e zombeteiro. —  Parece que não tenho garantias. Devo ter ficado muito tempo no Exército, sei lá. 

—  Você lutou na guerra? —  exclamou Newt, assombrado. Não conseguia imaginar o homenzinho alegre com um rifle maior do que seu tronco, correndo entre trincheiras de aviões inimigos. 

—  Claro que luteri. todo mundo lutou. Você não? 

—  Eu atuei mais com os dragões —  comentou, displicente. —  Barrigas-de-ferro Ucranianos, na Frente Oriental. 

Um chiado baixo, como o de vazamento de gás, obrigou Newt a parar. No capô de um carro estacionado, um enfeite dourado havia sido arrancado, provavelmente uma pequena estátua ou uma estrela. A quentura do motor expelia um rastro fino que se dissolvia no ar da noite. Abaixo, porém, um segundo rastro apontava as pistas do paradeiro do tal ladrão: uma trilha de diamantes atravessava o asfalto, parando aos pés da vitrine de uma joalheira particular. 

—  Algum problema? —  disse Jacob, mas Newt andava a passos lentos, observador, os ouvidos apurados, seguindo o rastro. Passou pela vitrine e sua visão periférica deu de frente com um robusto mostruário que segurava duas pulseiras douradas. Era fofo como uma almofada e parecia ter um bino fino...

Animais Fantásticos e Onde Habitam - O LivroOnde histórias criam vida. Descubra agora