O jantar das Goldstein - parte II

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Newt se moveu rapidamente para colocar a fechadura da maleta no lugar, antes que Tina percebesse. A conversa à mesa poderia estar animadas, mas apenas Queenie fazia às honras, enquanto o Jacob não passava de um mero espectador encantado. 

— O trabalho não é glamuroso — disse Queniee, meio entediada, a mão contra o queixo delicado e magro. — Passo a maior parte do tempo fazendo café. — Virou-se para a irmã, que se encabulou. — É Tina quem vai fazer carreira... Somos orfãs. Mamãe e papai morreram de Varíola de Dragão quando ainda éramos crianças. 

Tina elevou seu olhar escuro contra Newt, que não retribuiu. Era como se algo houvesse espetado seu coração, fazendo-a fitar seu prato limpo. As pontas das velas balançavam suavemente com o tom da conversa. 

— Ah, que gentil. — Jacob não havia dito nada, mas ela conseguira ler suas condolências com a mente. — Mas temos uma à outra. 

— Pode parar de ler minha mente por um segundo? — pediu Jacob. Quennie se endireitou, soltando um suspiro. — Não leve a mal, eu até que gosto. — Os dois riram animosamente. Newt contorceu o pescoço, desconfortável. Nossa... — Esta comida esta comida está maravilhosa. E olha que é isso o que eu faço, eu sou cozinheiro. Mas está sendo a melhor refeição de toda minha vida. 

Continuamente silenciosos, Newt e Tina ainda trocavam olhares rápidos, agora um tanto mais gentis. Quennie apertou os pulsos, em êxtase. 

— Ai, eu tô amando. Eu nunca tinha conversando com um no-maj antes — disse, fascinada. 

Jacob imitou-a, pondo as mãos sobre o queixo. 

— Sério? — Enquanto eles apenas suspiravam um para o outro, um berev momento de silêncio pairou e finalmente os dois notaram as companhias outra vez, lembrando-se de que não estavam em um encontro íntimo. 

— Não estou flertando — disse Queenie à irmã, recolhendo as mãos. 

— Eu só estou dizendo para não se apegar — balbuciou Tina. O riso de Queenie murchou. — Ele vai ter que ser obliviado. Não é nada pessoal, Sr. Kowalski. 

Jacob assentiu, limpando-se nervoso com o babador. 

— Ah, você está bem, querido? — Os olhos nervosos de Jacob foram de Queenie para Newt, que se levantou de supetão. 

— Srta. Goldstein, eu acho que o Sr. Kowalski precisa ir deitar cedo. Sem falar que amanhã temos que acordar cedo para encontrar o meu pelúcio. 

Queenie franziu o cenho. 

— O que é um pelúcio? 

— Deixa pra lá — disse Tina. Séria, apontou para o cômodo separado por uma porta de escorrer, onde podiam ver duas camas de solteiro encostadas na parede. — Vocês podem dormir aqui. — Tina meneou a cabeça, ordenando que Newt se mexesse e fosse logo escolher uma das camas das irmãs. 


Enrolado como um pacote sob os lençóis das irmãs, Newt fitava uma estante de livros, pensando que se caso ficasse o mais estático possível, ninguém iria perturbá-lo. A porta de correr que acessava a cozinha abriu e uma Tian metida em um longo conjunto azul de pijamas adentrou, carregando uma bandeja om duas xícaras. Remexendo o conteúdo fumegante, duas colheres de prata bateram na borda e repousaram de volta na bandeja. 

Tian ofereceu uma delas a Jacob (sentando com os cobertores até o peito, onde um livro de capa dura, cuja a ilustração de movia vez em  quando, estava repousado); Newt, porém, nem mexeu. Tina deixou sua xícara sobre a mesa de cabeceira e, um tanto chateada com seu silêncio, se foi. 

— Olha, Sr. Scamander — disse Jacob, encantado —, é chocolate.

— O banheiro fica no final do corredor, à direita — avisou Tina, fechando a porta. 

— Obrigado — falou o abobado Kowalski. Enquanto a a porta deslizava, ele ainda pode ver Queenie espiando, metida novamente em seus robes, a morder o lábio inferior. — Está gostoso demais... — disse ele, referindo ao chocolate, aparentemente. Assobiou, prestes a colocar o chocolate para dentro, lembrando de sua querida avózinha, quando Newt levantou-se de supetão. 

Ainda estava metida em seu casaco azul-marinho escuro e calçado com as botas. Parecia até mesmo que estava pretendendo sair... 

Para a surpresa de Jacob, Netw repousou sua maleta no centro do quarto e abriu o compartimento, metendo as botas ali, como descesse por uma escada estreita e metida na escuridão mágica e longínqua da maleta. Por fim, viu apenas os tufos espetados de seu cabelo cor de areia, depois sumiu. 

Jacob soltou um gritinho de assombro e encantamento, como estivesse em um show de mágica. As surpresas daquele dia não paravam. Ele, porém, conteve-se, pensando que as irmãs bruxas poderiam tê-lo ouvido. 

A mão cheia de cicatrize se queimada de sol despontou, chamando-o com o indicador. 

Jacob titubeou, incerto. 

— Vem logo — chamou-o Newt, impaciente. O no-maj repousou a caneca sobre a mesa e encolheu as pernas, entalado momentaneamente na altura do tronco. 

— Que coisa... — Pegando pelos lados, ele impulsionou a maleta para cima, tentando ser levado pela gravidade. Nada aconteceu. Será que ele ficaria preso ali até que as duas bruxas chegassem na manhã seguinte? Alguma coisa, porém, remexeu-se dos lados e, como se a maleta houvesse esgaçado uma bocarra, ele foi subitamente puxado para dentro, enquanto o fechou encerrava a passagem sobre sua cabeça, empurrando-o para dentro do local secreto de Newt Scamander. 


Animais Fantásticos e Onde Habitam - O LivroOnde histórias criam vida. Descubra agora