Os dois bruxos e o no-maj desceram pela esquina e se depararam com dois mecânicos sentados no meio-fio junto de um automóvel tombado para o lado, as rodas quebradas apoiadas em um hidratante enquanto o motorista ainda confuso esperava para poder voltar para casa.
— À direita, por aqui — guiou-os Tina, puxando o cambaleante Jacob. Vez ou outra ele olhava com certa confusão abobalhada para os dois, como um galináceo de olhos esbugalhados. Tina estancou, olhando para ver a entrada da residência, do outro lado da rua, por trás de um caminhão estacionado. — Mas é bom que vocês saibam que não podemos entrar com homens no prédio.
— Sendo assim eu e o Sr. Kowalski podemos encontrar outra acomodação. — Newt já puxava Jacob, quando Tina segurou o pulso do no-maj, puxando os dois.
— Não, não podem. Cuidado aí... — Escorreram pela calçada e, abrindo a porta com leveza, os três subiram as escadas de dois em dois passos, silenciosos como baratas, respirando pela boca, a fim de evitar a sombra da senhoria, no térreo.
— É você, Tina? — perguntou ela, fazendo-os estancar. Jacob pulou onde estava, recuando para a parede. Newt tentou acalmá-lo antes que ele soltasse um gritinho.
— Sim, Sra. Esposito — respondeu a bruxa.
— Está sozinha? — A voz não parecia desconfiada, mas como se fizesse aquilo todos os dias.
— Sempre sozinha, Sra. Esposito. — Quando ouviram o murmúrio sob seus pés, caminharam devagar até a porta de um apertamento confortável por onde soava uma canção tocada por uma vitrola, no canto de uma sala pequena e bem iluminada.
Foi um com uma risada malandra que Jacob fitou algumas peças íntimas levitando sobre um varal suspenso no ar, secando perto da lareira. Newt ignorou-os, voltando-se para o crepúsculo das janelas, como se dali pudesse ver seus animais que deixavam um rastro cada vez mais ínfimo, enquanto seu tempo se esgotava.
A boca escancarada de Jacob vasculhou os móveis e o chão até se depara com a seda de um robe que escondia atrás do umbral dos quartos adjuntos à cozinha. Uma mulher alta e magra, de lábios carnudos, olhos grandes e curiosos, o cabelo curto como o de Tina, mas melhor cuidado e loiro, fitava os vistantes com interesse. Ao seu lado, as mangas de uma um vestido levitavam, levados pela linha de uma agulha que terminava a bainha.
— Tina — disse ela —, você trouxe homens para casa.
— Senhores, essa é a minha irmã. — Os olhos de Tina se voltaram para suas pernas e os homnes entenderam a deixa para desviar o olhar. — Melhor vestir alguma coisa, Queenie.
— Ah, claro...
Com movimentos de uma fada, Queenie pareceu dançar com os dedos a varinha que ordenou para o vestido sair do manequim e sobrevoar sua cabeça, enquanto ela punha as mangas com delicadeza. Tina recolhia as peças íntimas com rapidez, mas Jacob mal percebia, vidrado na figura da sala seguinte.
Enquanto isso, a música da vitrola ressoava lenta, devia ser uma valsa. Um ferro de passar terminava de engomar os lençóis do no quarto, enquanto pequenos objetos se remexiam na cozinha.
Newt continuou perdido na paisagem de concreto.
— Quem são eles? — perguntou Queenie.
— Esse é o Sr. Scamander — respondeu Tina. — Ele cometeu um grave infração contra o Estatuto Nacional de Sigilo .
— É um criminoso? — indagou a irmã, ainda meio escondida ao lado da porta. Tina reitoru os sapatos com alívio.
— É, sim. E aquele é o Sr. Kowalski. Ele é um no-maj.
Jacob acenou. Queenie, porém, se sobressaltou, voltando-se para a irmã.
— Um no-maj? Tina, o que está aprontando? — Não parecia repreendê-la, mas de fato muito entusiasmado com os infratores.
— Ele está doente. É uma longa histórias. — As duas observaram o homem curioso, esquecido no meio da conversa, e Tina teve de elevar o tom de voz para que ele as desse atenção. — O Sr. Scamander perdeu umas coisas e eu vou ajudar a encontrá-las.
Queenie apressou-se para perto de Jacob quando o homem grande despencou no sofá, suado, a ferida do pescoço ainda vermelha.
— Ah, precisa se sentar, querido. Não comeu nada o dia todo. — Jacob perguntou-se se era tão evidente sua fome. — Ah, que triste — soltou ela. — Não conseguiu o dinheiro que precisava para a padraria dele. Você faz pães e doces?
Jacob assentiu com um sorriso bobo. Como ela poderia saber?
— Eu adoro cozinhar — disse ela, animada.
— Você é uma Legilimente? — perguntou Newt, finalmente interessado.
— Sim. Mas sempre tenho dificuldade com os britânicos. Acho que é o sotaque.
— V-você consegue ler mentes? — perguntou Jacob.
— Não se preocupe, querido. A maioria dos rapazes pensa o mesmo que você quando me conhece. — O que realmente ele estava pensando sobre ela? — Agora você, precisa comer.
Saltitando até a cozinha, Queniee juntou-se a irmã e com vários acenos de suas varinha, pratos, panelas, legumes e o outros ingredientes voaram. Newt, que estava de volta à janela, e não muito à vontade para ficar para um jantar, afastou a cortina para o lado e vislumbrou novamente o gira-gira perto da janela das Goldstein. Com apreensão, Newt o fitou, cada vez mais nervoso, e ao percebê-lo, fugiu outra vez.
— Cachorro-quente no almoço, de novo? — disse Queniee.
— Não leia minha mente — inquiriu Tina.
— Não é um almoço muito saudável.
Com uma automaticidade mundana, os aceno de varinhas encantava Jacob, que encarava a faca cortando a cenoura sobre o panelão de água, os pratos sendo postos sobre a mesa, os guardanapos atravessando a cozinha como pássaros, e a jarra de leite servindo os copos.
— Sr. Scamander — disse Queniee antes que a mão dele pudesse encostar na maçaneta. Tina fuzilou-o, as mãos na cintura. — Prefere torta ou strudel?
Os olhos Newt escorreram de um lado para o outro, culpados, tentando achar um escapatória. Mas como poderia fazê-lo tão próximo de uma leitora de mentes? Tina continuou a fitá-lo, o pescoço meneado em direção à mesa.
Envergonhado, Newt continuou imóvel.
— Na verdade, eu não tenho preferência.
— Prefere strudel, não é? — Queniee perguntou a Jacob, que já havia se aproximado, o guardanapo enterrado na gola do paletó. Ele sorriu, assentindo para as velas que se assentavam sobre os castiçais. — Está decidido!
Um leve choque se fez ouvir quando Queniee apontou sua varinha para o alto e, como pétalas de flores, a massa e grãos bailaram, unindo-se no folheado recheado que foi se formando até pousar sobre o prato principal, assado e salpicado de farinha. Logo ali, a luz havia baixado e as velas estavam acesas.
Jacob aspirou o delicioso sabor que o folheado soltava, encantado.
— Venha comer, Sr. Scamander — chamou Tina, encostada em uma cadeira. O receio de Newt era nítido. — Não vamos envenená-lo.
Ninguém viu, mas olhinhos pretos observaram a cena, saídos do bolso do casaco azul do bruxo.
Jacob arregalou os olhos, ordenando que ele se aproximasse.
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Animais Fantásticos e Onde Habitam - O Livro
FanfictionJá imaginou como seria ler o filme de Animais Fantásticos como um livro? Sentir a emoção de tentar descobrir o que vai acontecer a cada capítulo? Foi exatamente o que eu quis descobrir e sentir quando comecei a escrever essa fanfic. Newt Scamander c...