A espiã

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Reapareceram subitamente, caindo um sobre o outro em uma escadinha apertada, em algum lugar abaixo da superfície. 

Trêmulo e suando, Jacob somente pôde perceber uma pontada na mão que segurava o ovo. Um bico de filhote despontou no meio da escuridão do interior da casca. 

- O que está acontecendo? - indagou, confuso, encarando o inglês. O homem estendeu a palma para que ele lhe passasse o filhote que nascia, pondo a varinha entre os dentes. 

Cuidoso, o inglês viu uma ave estranha e meio... peluda nascer e piar, ou tinha relinchado? Jacob não saberia dizer. 

- M-m-mas... - O outro não lhe deu ouvidos, descendo a escada um pé depois do outro, sem tirar os olhos do filhote. - Poderia me dizer o que está...? - No alto da escada, por entre as grades, Jacob se situou na área restrita aos funcionários. Como poderia ter parado lá? Não ficou muito tempo para descobrir; o Sr. Bingley caminhava em sua direção, duro como uma múmia com os braços colados ao corpo. - Eu estava lá... Agora eu vi parar aqui. Mas seu estava lá... 

Cambaleante, encontrou o inglês ajoelhado próximo a um cofre de portões banhados a ouro. A maleta estava aberta enquanto ele repousava o bichinho recém-nascido na escuridão do compartimento. 

- Fica quietinho aí. Todo mundo quieto - murmurava ele. 

- Oi! - chamou Jacob, abobalhado. Ouviu mais guinchos, todos diferentes entre si, todos providos da maleta aberta. Era como se o homem conversasse com um min-zoológico aos seus pés. 

- Fica quieto, Dougal, não me faça ir até aí. Não quero ter que descer até aí... - Uma plantinha despontou do bolso do mago, o tronquilho Pickett, e apontou para a porta do cofre. Espremendo-se entre as frestas, o pelúcio lutava para chegar ao outro lado da passagem trancafiada. Os pezinhos de toupeira sumiram pela fresta. - Não! Você não faça isso! 

Os dois não perceberam, mas alguém descida pelas escadas anteriores. 

- Alohomora! - Newt apontou a varinha e as válvulas pesadas deslizaram imediatamente. Tanto Jacob como o estranho ficaram embasbacados. 

- Ah! - disse uma voz conhecida. - Então vai roubar o dinheiro, não é? 

Sem voz, Jacob e Newt encararam o Sr. Bingley. Ele apertou um botão acoplado à parede e um alarme soou por todo o prédio. 

- Pretificus totalus! - Com um sobressalto, o gerente se viu atingido por um feixe de luz azulado provindo da varinha de Newt, e as mãos juntas ao corpo se colaram de vez, assim como os pés e o pescoço endureceram. O homem caiu de costas, duro como um cadáver a fitar o teto sem nada poder fazer, apenas murmurar coisas incompreensíveis atrás dos lábios colados. 

- Sr. Bingley! - exclamou Jacob. A porta do cofre deslizou finalmente, ao som perturbador e preocupante do alarme da segurança.  Newt saltou para dentro do cofre e encontrou todos os compartimentos revirados. Em um deles, estava o pelúcio, metido entre notas novas de dólares, colares e uma barra de ouro. 

- É sério?! - disse, estupefato. O bicho murmurou, vencido, deslizando a barra furtivamente para dentro da bolsa. Newt agarrou-o e ele ainda tentou se desvencilhar; virou-o de ponta a cabeça e centenas de pertences preciosos escaparam pela bolsa, montando uma pilha que se desarrumava e espalhava por todo o compartimento do cofre. - Não, não faz isso - riu Newt, fazendo cócegas e liberando cada vez mais objetos, moedas, colares, pingentes e pulseiras. 

Jacob ainda encarava o corpo caido e a cena que se desenrolava. 

Passos apressados desceram pela escada e três guardas fardados apareceram. 

Animais Fantásticos e Onde Habitam - O LivroOnde histórias criam vida. Descubra agora