28. A verdade descoberta

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- Eu já cheguei até aqui. Pare de mistério, seu covarde. Revele sua face! – gritei loucamente com quem quer que estivesse ali, exalando minha fúria, assim que atravessei o caminho e uma luz clareou bem à minha frente, com minha visão enfraquecida.

- Ainda não!– ele respondeu. O filho de Callum. Finalmente estávamos próximos um do outro. Talvez poderíamos jogar conversa fora e depois ele poderia me contar como pretendia me torturar até a morte.

Tortura lenta, ou será que para ele eu já havia sofrido demais? Ri dessa possibilidade. Ele não me atrairia como uma presa para seu esconderijo se não tivesse algo muito pior reservado para o final.

Estava cansada e meu corpo doía por completo. Não seria muito difícil para ele fazer o que bem entendesse comigo.

- Onde está Nicole? - perguntei, dando uma olhada ao redor. A garota no chão não possuía o corpo franzino de Nic. Era Naomi. Vê-la ali me fez sentir aflição e angústia. Dobrei-me sob meu estômago.

- Aaaaaaah! – gritei, um arrepio subindo de minhas pernas, passando inteiramente por minhas entranhas.

Eu me lembro de tudo! Caí aos prantos, ajoelhada. O último ano. Naomi sendo sequestrada. A dor que eu senti. A vida falsa que levei, e tenho levado. A Catarina. Oh! A Catarina! Claro que ela sabia de tudo. Sua mãe foi uma descendente da Sociedade.

Levantei em um impulso, abalada por aquela tortura em minha mente.

As lembranças...

Elas me vieram à mente como um clarão luminoso que surge após um intenso blackout. Senti como se durante todo este tempo uma luz estivesse apagada em minha memória, e agora, já não mais tremeluzente, a luz acendia fortemente em uma rajada só.

Luminescente. Intensa. Perturbadora. E maligna.

Finalmente compreendia cada passo que havia deixado passar. Cada momento do último ano que eu me esquecera. Agora retornava à mente.

E não apenas tudo começou a fazer sentido, como meus poderes ficaram mais intensificados. Bem mais! Intensamente como nunca antes.

- Não deveria se preocupar com isso agora! – A voz dele ricocheteou pelas paredes, saindo da escuridão onde estava, e vindo ao meu encontro. Uma máscara lhe cobria o rosto todo, e por cima de suas vestes pretas, uma capa enorme do mesmo tom, e um capuz a lhe cobrir a cabeça.

- Me fale, filho de Callum. - repliquei, reunindo para perto de mim a maior quantidade de ar que eu conseguira. Minha rinite estava atacada novamente, e aquele lugar abafado só fazia a situação toda piorar.

- Não me chame assim. - ele reclamou, e pude perceber que entortara os lábios para o canto.

- Eu não sei seu nome. – anunciei, só estão dando conta que sabia sim. Gustav. - Não pelo menos o nome pelo qual eu conheço você.

- Me conhece? Por que tem tanta convicção disso? – brincou ele, dando mais um passo em minha direção, e eu senti meu coração se apertando cada vez mais em meu peito.

Senti vontade de dizer: "Os leitores poderiam ficar decepcionados se você não for alguém que eu conheça." Mas achei melhor não. Ele poderia nem saber que fazia parte de um livro.

- De algum modo, eu sei que te conheço. - rebati, analisando-o. Se ele quisesse me matar naquele momento, teria feito desde que eu chegara ali. Ele era esperto. - Seus lábios. Me trazem algo familiar.

- Ah, sim. Meu desejável lábio não é mesmo? - deu mais um passo em minha direção, e eu senti minha espinha inteira se arrepiar.

Será que... Não pode ser. Debati comigo mesma, tentando acreditar que aquele não era o único destin que meu coração não queria que fosse.

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