5. A chegada em Âmbar - parte 2

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Fui para meu quarto imediatamente. O nervosismo me subia pelo peito e descia me fazendo bufar. Contrações invadiam meu peito, ritmicamente, subindo, descendo, e apertando levemente meu coração sobressaltado.

Um misto de sentimentos me tomou por completo, passando pela raiva ao medo.

Possuía raiva de meus falsos avós por terem mentido durante todos esses anos para mim. Nada em que acreditei até hoje era verdade. Minha existência não passou de um compilado de mentiras que me fizeram engolir durante tanto tempo, e agora que a verdade havia sido revelada, a fúria me dominava.

E então, surgia o amedrontamento. Não há medo tão forte quanto o medo do desconhecido. E saber que eu deveria enfrentar um mundo novo daqui em diante, deixava-me em uma situação aterradora de medo.

- Ahhhhhhh! - uma dor me comprimia a coluna vertebral. Elevei meu pescoço, e me joguei no chão. Que dor terrível! Pensei, não conseguindo conter. O que está acontecendo comigo?

Perguntava-me.

Deitei no chão, ao lado da cama, enquanto encarava o guarda-roupa à minha frente. Minhas pernas fraquejavam, e de tão bambas não me consegui por de pé.

- Eu preciso arrumar essas malas! - exclamei, estendendo um braço em direção à porta do guarda-roupa, ainda cogitando me rastejar para chegar até ele. Pequenas faíscas laranja saíram de meus pulsos. - O que está acontecendo comigo? - me perguntei novamente. Aquilo não parecia bom.

A faísca laranja foi ficando mais forte e intensa, até tornar-se uma rajada de luz. Uma grandiosa rajada de luz alaranjada, que saía de meus pulsos. Ainda apontava em direção ao guarda-roupa.

- Ahhhhhhhhhhhhhhhhh! - doeu ainda mais. Fechei os olhos, como se a escuridão dentro de mim pudesse amenizar aquela dor física que me comprimia. Abri os olhos novamente, ao sentir na ponta de meus dedos, algo grande e revestido em tecido.

As portas estavam abertas, e as malas bem à minha frente. Olhei para minha mão, que já havia cessado a luz, com o peito arfante por tudo.

Não acredito nisso! Engoli em seco, me recusando a acreditar que tudo aquilo realmente estava acontecendo. Eu posso mesmo fazer magia!

Apoiei-me sob a cama, conseguindo finalmente levantar. A dor em minha costa não havia passado inteiramente. Olhei novamente para minhas mãos, dessa vez, ambas apresentando a luz alaranjada. Lancei a direita em uma parte do guarda-roupa, que fez todas as peças saírem saltitantes, e caindo desastrosamente sob as malas.

Com a esquerda, lancei na prateleira de livros, mas meu poder enfraqueceu. Os livros caíram estrondosamente no chão.

- Está tudo bem?! - Anna perguntou, passando pelo corredor.

- Tá sim! - gritei de volta, tomando cuidado para não demonstrar que eu tive uma manifestação de magia.

Ah, caramba! É coisa demais para um dia só!

Peguei o diário de Antonella Dolman. Anna me deixou ficar com ele, mas disse que eu deveria cuidar como se minha vida dependesse dele, pois, na realidade, realmente dependia.

Coloquei o diário em uma das malas com livros. Debrucei-me sobre meus joelhos, e tentei digerir tanta informação que foi jogada até mim de uma forma tão fria. Meu mundo simplesmente virou do avesso.

Tenho um inimigo. Posso ver gente que já morreu. Não tenho mais família. E não sou humana.

São informações demais para uma adolescente.

Abaixei a cabeça, só desejando que nada daquilo estivesse acontecendo. Mas não seria surpresa, se eu descobrisse algo mais.

"O que falta agora? Eu sair voando por aí? Lançar algum poder sei lá onde, sendo que nem sei do que sou capaz de fazer ou como controlar? Eles não deveriam ter esperado tanto para me contarem isso. Não deveriam. Não deveriam!"

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