29. O golpe final

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- Nicole! – repeti o nome da fée que saltitava à minha frente. Seu sorriso, outrora meigo, ganhava forma de cinismo em seus lábios finos, sua feição contraía as linhas espessas de sua testa. – Não acredito que... – meus olhos foram tomados pelas lágrimas que desceram voluptuosamente.

- Surpresa? – seus olhos se tornaram arregalados, denotando todo o sarcasmo que havia em sua fala. – Achou mesmo que durante esse tempo eu fui sua amiga? – não havia interrupção alguma no que dizia.

Pelo visto, nem a pausa que ela dava entre uma palavra e outra era verdadeira.

- Por que você fez isso, Nicole? – perguntei, o olhar banhado em lágrimas. Meus braços pesavam em meus ombros, e apesar do cansaço que me dominava quase completamente, sentia os poderes remexendo dentro de mim.

Em pouco tempo, estaria eu dominada por completo pela força que impulsionava meus punhos a lutarem. Pelo poder incontrolável que revigorava em mim. Pelas lembranças, há muito perdidas, mas que agora voltavam com intensidade.

– Por que você fez isso, Nicole? – repeti a pergunta, já sentindo o peso de meus braços. Eles permaneceram estáticos rentes minha cintura.

- Sabe o que é? – ela arregalou os olhos mais uma vez. Eles passaram da coloração mel ao vermelho. Vermelho sangue. – Eu cansei de ser a boazinha.

Ela deu um pulo em minha direção, transformando-se novamente em um majestoso animal de pelo lúgubre reluzente.

Gustav observava a cena com os braços cruzados, dando seu trabalho como finalizado. Ele não havia me levado ali para que eu lutasse com ele. Callum queria que eu lutasse com a pessoa pela qual eu enfrentei os quatro desafios.

"Para salvar aqueles a quem ama, terá que estar disposta a se sacrificar primeiro".

Eu estava disposta. A salvar Naomi. Bernardo. E quem mais fosse preciso. Nem que para isso, eu precisasse derramar até a última gota de meu sangue.

As garras da pata dianteira do animal fincaram como um gancho em meu braço. Ela soltou a garra de uma só vez, puxando para baixo até rasgar metade do meu antebraço. O sangue jorrou para os cantos.

- Aaaaaaah! – urrei de dor pela pele dilacerada. Elevei meu outro braço em sua direção. Minha fúria contida era expelida de uma só vez. O meu poder despontava pelas correntes sanguíneas, jorravam de meus pulsos como se houvessem entrado em atrito com as veias roxas demarcadas na região.

Oscilava minha mão, que outrora possuía aspecto natural de pele, agora o tom arroxeado tomava conta.

Nicole saltava em minha direção com mais fúria que da outra vez. Formei uma parede de ar na minha frente, sua figura animalesca tombou contra meu poder.

- Olha só quem está nervosinha! – debochou ela, ainda com a cara no chão. Voltou a forma humana, com um arranhado em sua testa – Quase me fez quebrar a unha. – ela fez escárnio descontroladamente, jogando a cabeça para trás.

Lancei uma barreira contra ela, a imobilizando no ar durante alguns segundos. Tempos suficiente para amarrar os quatro lenços em suas pontas, improvisando uma bandagem para meu braço lacerado.

- Nervosinha é o cacete! – revidei, elevando ao ar apenas meu braço que não estava ferido. – Você vai aprender a lição que merece, vadia!

Ela formou uma cratera no chão, abrindo uma rachadura entre meus pés.

- A única coisa que sei – ela pulou sob a pequena montanha que construiu, ficando em seu topo – é que hoje você vai conhecer a sua mãe. – deu uma pausa, reparando que suas palavras eram a lufada mais violenta que eu poderia receber. Mais até do que o ataque.

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