Epílogo

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16 de fevereiro, sexta.

Octavius e Anna prometeram que naquela tarde levariam à mim e Naomi para o casarão das Meninas de Seda. Haviam diversos portais espalhados em todas as dimensões.

Vi Mariane, e ela estava simpática como sempre.

- Vocês são um bando de idiotas retardados. - ela exasperou, parecendo decepcionada. - Quem esse Marcos filho da mãe pensa que é? E onde a Nole estava com a cabeça em trair você de tal forma? Minha Fada Caída, onde o mundo vai parar com essas crianças? - sabia que no fundo ela estava fazendo o mesmo que Maitê fez quando soube que Penélope havia sido assassinada: Às vezes, fingir que não se sente nada, é a melhor saída para não ter seu coração ferido. Mas a maioria das vezes essa teoria se torna falha, quando se descobre que guardar os sentimentos no fundo do peito, só fazem a dor ser pior quando aquilo tudo explodir.

E para Mariane, não faltava muito até que isso acontecesse.

***

Octavius nos transportou até a entrada da casa. No alto do portão, lia-se uma placa:

Linhagem Dolman

O destino estava obstinado em me fazer terminar do mesmo modo como comecei, na casa da família. O local estava abandonado, mas apenas uma pessoa digna de ser uma Menina de Seda poderia adentrar o portão, então eu e minha gêmea entramos. Aquele lugar que eu conhecia tão bem em sonho, mas na realidade era muito mais frio e sombrio do que imaginara. As folhas secas chacoalhavam nas árvores, e um vento passado por nós, bagunçando nossas madeixas. Acho que já está na hora de cortar esse cabelo. Deixar para trás tudo aquilo que não me fez bem.

A sala estava com os móveis envelhecidos, teias de aranha cobriam cada canto e desciam do teto até o piso. A sala, embora estivesse diferente, ainda pude reconhecê-la. As três cadeiras das Meninas de Seda principais. As Supremas de Seda. E as menores ao redor.

Um grande espelho se encontrava próximo ao canto.

- Venha! Quero te mostrar uma coisa! – a voz de Naomi anunciou.

Ela puxou o espelho, e o abriu, mostrando que ali havia uma passagem. Entrou, e eu na confiança de que nada poderia dar errado, a segui.

Chegamos do outro lado, onde uma cama cobria metade do cômodo.

- Aqui... É o antigo quarto de Victoria. – disse ela. – Nossa mãe. Arregalei meus olhos, observando a cada detalhe daquele quarto.

Algumas fotos pendiam na parede, mas a que me chamou a atenção foi o maior deles, uma imensa foto de corpo inteiro de minha mãe. Victoria! Uma boneca de porcelana estava delicadamente posta em sua cama, com os braços na região do colo.

- Esse quadro é em tamanho real. – disse Naomi, notando meu interesse. Ela se aproximou mais de mim. – Tenho um presente para você.

Ela abriu a primeira gaveta do criado mudo, o qual estava do lado da cama.

- Agora sim você será uma verdadeira Menina de Seda!

Era uma caixa, daquelas de joias, um pouco maior do que o convencional.

Abri-a, e me deparei com duas máscaras, em tamanhos ajustáveis, mas idênticas. Elas eram prateadas, e cobriam boa parte do rosto. Meus dedos estremeceram ao tocá-la. Era tão frágil e bonita, que senti até medo de que pudesse se desfazer em meus dedos. Coloquei-a em meu rosto, e logo ela se alterou. Ficou menor, e sua cor mudou de prata para dourada. Meus olhos ficaram sobressaltados, e mudaram a coloração também. Ficaram num violeta vívido e brilhante.

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