31. A última Dolman

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14 de fevereiro, ao amanhecer - quarta-feira

- Tem algumas pessoas lá fora que querem te ver. – Anna afagou meus cabelos, assim que chegou em meu leito e me encontrou acordada.

- Minha cabeça ainda está doendo muito. - falei, sentando-me na cama. - É uma boa ideia ver quem quer que seja?

- Se quiser, pode descansar mais!

Assenti, fechando brevemente os olhos.

- Como os outros estão? - perguntei, preocupada. - Naomi está bem? Ellen e Bernardo estão vivos?

- Estão todos melhores do que você! - ela respondeu, e eu não sabia se poderia considerar aquela resposta como positiva ou não. - Naomi veio te visitar algumas vezes. Você precisará ter muita paciência com ela. - Anna entortou o lábio para a direita.

- O que quer dizer com isso? - perguntei, aflita.

Ela sentou-se na borda de minha cama, e disse no tom mais pacífico possível.

- Ela não se lembra. - Respondeu, parecendo pesar quais eram as palavras ideais para o momento. - Não se lembra do que aconteceu na infância de vocês, nem do momento em que foi sequestrada. A única memória que ela tem recordação, foi da última vez que se viram, por isso ela sabe que vocês são gêmeas, e durante esses dias, eu e Octavius temos protegido ela e contado a verdade aos poucos. O que aconteceu com os pais de vocês, porque ela foi sequestrada e tantas outras coisas. Mas tudo aos poucos, então tenha toda paciência possível.

Assenti, respondendo:

- Pode deixar, ela é minha irmã. Devo isso à ela.

Anna afagou novamente minhas madeixas, me lançando aquele olhar maternal que ela só usava após eu sobreviver à alguma enrascada.

- Ela vai precisar disso. - Anna exclamou, e levantando-se de minha cama, disse. - Ellen também veio te visitar algumas vezes. Ela está preocupada com você.

- Bom saber que ela não me deixou! - disse eu, feliz por ter pelo menos uma amizade verdadeira. - Mas para ela, seria melhor que se afastasse de mim. – respondi evasiva, imaginando se meu esforço para manda-la utilizando o poder de minha mente à enfermaria havia sido útil. Afinal, Gustav havia cortado sua garganta.

- Não se martirize. Você ajudou a salvá-la! - ela sussurrou, medindo minha pressão. - E quanto aquele seu namoradinho, o Bernardo... - assim que ela citou o nome dele, senti-me estremecendo por dentro. - Ele está melhor. Sabe que não poderá voltar a vê-lo, certo? - Anna sabia o momento ideal para estragar um momento bonito com algum assunto que me chateasse.

- Sei. Sim. - respondi, pensativa. Sabe-se lá as coisas ruins que poderiam acontecer caso eu resolvesse colaborar com o que o destino havia traçado. Seria difícil de aceitar, mas não seria impossível conviver com isso.

O quanto eu poderia estar enganada?

- Posso mandar entrar? - Anna interrompeu meus pensamentos, e não entendi no primeiro momento, até me dar conta de que ela se referia às pessoas que queriam me ver.

- Claro! - dei de ombros, tentando ficar animada, embora sentisse que minha pele abatida e pálida pela falta de Sol não ajudaria muito nesse aspecto. Anna saiu, e quando voltou, trazia consigo quatro meninas de cabelos longos e coloridos. Elas salvaram minha vida e eram descendentes de Meninas de Seda. Aquilo me fazia sentir um certo remorso por nunca ter dado devida importância à elas. Nós poderíamos ter sido boas amigas, e quem sabe eu até entrasse pro clube. Nada mais justo, e seria uma boa ser uma Veux, talvez com o cabelo cinza. Eu poderia até pensar na ideia mesmo, me livrar um pouco do ruivo natural e desapegar de tudo o que já havia acontecido.

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