22. Ele me encontra - parte 2

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17 de janeiro - quarta-feira

Faltavam alguns dias para o meu aniversário. Ah, uma droga, viu! Ser tão jovem, ter o destino tão marcado pelo obscuro, a experiência de um primeiro amor...

Aceitei que toda a atração que eu sentia por Bernardo não era apenas brincadeira de criança que diz gostar do primeiro rostinho bonito que vê pela frente, mas havia algo nele que despertava em mim um sentimento tão intenso e puro.

Seus olhos sempre brindavam com um olhar divertido quando me via. Seu sorriso estava a todo o momento no rosto, especialmente para mim, nem imaginando o quanto possuía um efeito devastador.

Esbarrei em Estevam. Ele é extremamente tímido e reservado, então um "Oi" foi o máximo que conseguiu dizer para mim. Ele era tão... diferente, vez ou outra me assustava.

Após tanta relutância, Anna me concedeu aquele dia como folga. Ellen não estava nada interessada nas aulas que teríamos aquele dia, pois um sorriso travesso brindou-lhe a face assim que anunciei que aquele dia poderíamos cabular uma aula ou outra para colocarmos o papo em dia.

- Sabe o que significa? - perguntou para mim e Nic, enquanto nos empurrava delicadamente para fora do vão da porta. - Que nós poderemos sair! Arthur falou de um lugar ótimo, é a Cachoeira de Aldeam. Fica alguns quilômetros daqui, mas podemos sair e voltarmos sem que ninguém note. O que acham?

Nem hesitei em pensar, e concordei. Era uma boa ideia, e assim, eu esfriaria a cabeça.

- Sabe o que seria melhor ainda? - disse eu, tendo uma ideia. - Sairmos às escondidas.

Os olhos de Ellen brilharam ao ouvirem minha ideia, e Nicole ficou boquiaberta, indignada por algo tão maléfico sendo expelido em minha boca.

- Olha só o que estou fazendo com você, Nat! - Ellen exclamou, parecendo feliz. - Mais alguns dias de convivência comigo, e até a Nic certinha estará desse jeito.

- Eu... não! - Nicole disse, dando de ombros. - É bom alguém... manter a cabeça no lugar.

- Mas perder a linha vez ou outra, não faz mal para ninguém. - Ellen deu uma piscadela em direção à Nic, depois me encarou. – Como colocaremos esse plano em prática?

- Vocês só terão que me ajudar à driblar Anna. – respondi, um sorriso maquiavélico me dominando o semblante.

***

Anna era a maior enfermeira, e, portanto, possuía o Pó Púrpura, aquele que fazia com quem o ingerisse, ficar do tamanho de uma barata. Ellen e Nicole a distraíram, enquanto eu iria direto ao seu armazenamento de poções. Ela guardava o pó no armário atrás do balcão, junto com todos os remédios da Enfermaria.

- Não acho legal... fazermos isso. – Nic demonstrou insegurança. - Se pegarem... a gente... estaremos ferradas.

- É aí que tá a emoção da coisa. - Ellen riu, colocando o braço no ombro de Nic. - Nunca sabemos se pode dar certo ou não.

Paramos na frente da Enfermaria, trocando olhares de cumplicidade. Ellen sabia ser uma ótima atriz quando necessário, então fingiu passar mal, apoiando-se em Nicole. Elas adentraram, e eu permaneci do lado de fora. Dei uma espiadela, e como previsto, Anna estava sozinha. Nenhum aluno ferido, e nenhuma outra pessoa para ajudá-la.

- Conselheira... Anna... nos ajude. - Nic dramatizou, rendendo-se à nosso plano. - Ela está... passando mal.

Anna saiu de trás do balcão, indo socorrê-la. Deitou Ellen na maca, medindo sua pressão. Entrei na Enfermaria, tirando meus sapatos para não fazer barulho. Fui direto ao balcão, abrindo o armário com todo o cuidado possível. Localizei os potinhos do pó cor púrpura, quatro frascos saíram. Ia devolver um, mas antes que eu pudesse pensar duas vezes, ouvi o som autoritário da voz de Anna:

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