12. O que vem após a morte

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- Natalie! - a voz feminina me chamou. Meus olhos pesaram, mas fiz um esforço para ver quem era.

- Catarina? - perguntei, na dúvida se tudo o que eu vivera até então não passara de um sonho.

Ela sorriu para mim, e disse num sussurro:

- Você precisa de um pouco de pó nessa pele pálida! - acariciou meu rosto, parecendo preocupada.

- Cat? O que aconteceu com você? Está manchada de sangue! - apontei para seu vestido de estilo antigo, preto. Uma grande bola de sangue se anunciava na direção de seu peito. Suas madeixas loiras estavam presas em um coque desgrenhado. Algumas mechas lhe caiam sob uma enorme máscara que lhe cobria os olhos. Seus pulsos estavam cortados. Sua face estava pálida e seu toque era gélido.

Ela entristeceu o olhar, como se lhe doesse falar sobre aquilo.

- Eu tenho que deixar você, Natalie! - ela respondeu agora cabisbaixa. - Espero que tenha aprendido alguns truques de maquiagem comigo. Não me terá mais por perto para lhe arrumar quando precisar. - seu olhar tinha ternura, e um pesar enorme, apesar do incrível humor em suas palavras. - Não queria que fosse assim. Que eu tivesse que me despedir de você tão cedo!

Sentei na ponta do sofá, me dando conta do rumo que aquela conversa estava tomando. Tentei tocar seu rosto, mas minha mão ultrapassou diretamente.

- Você está mesmo... – engoli em seco, antes de conseguir completar a frase.

- Morta?! É claro que sim. Olhe o meu estado! - ela olhou para si mesma com pena, e depois voltou seu olhar para mim. - É tão irônico que uma pessoa que foi vaidosa a vida toda venha a morrer com uma roupa tão brega e cabelo desgrenhado. - ela tentou ajeitar uma mecha atrás da orelha, e sorri ao vê-la pela última vez como ela sempre foi.

Vaidosa, mas com um senso de humor que não tinha pra ninguém.

- Onde nós estamos?! - perguntei, me sentando e analisando o ambiente.

- Na sua cabeça. Entre todas as Meninas de Seda, você é uma das poucas que tem o dom de ver e falar com mortos.

- Minha cabeça? - repeti. - Mas essa é a sala da sua casa.

- Sim. Porque é onde seu corpo realmente está nesse momento. - ela olhou em volta. - Vou sentir falta disso.

- Como você sabe sobre...

- As Meninas de Seda? - ela completou, uma vez mais. - Era isso o que eu queria te contar. Depois que vocês sumiram da casa onde moravam, eu a invadi com aquela cópia da chave que me deu uma vez! Revirei-a toda, mas consegui encontrar um endereço da família Dolman. Fui até lá, e descobri a sede dessa sociedade. Bem, mais ou menos. Ela tem vários portais. O que fica no Brasil, não é longe de casa - ela engasgou um pouco com a própria voz, mas prosseguiu - É horrível, Natalie. O que fizeram a elas...

- Eu sei. - completei, lembrando-me do que já me falaram sobre a Sociedade Meninas de Seda. - As assassinaram de uma forma terrível mesmo.

- Não isso. - ela franziu o cenho pra mim, estranhando o fato de que as Meninas de Seda não estivessem mais vivas. - Elas não morreram. Pelo menos não a maioria. Mas estão numa condição que seria melhor se tivessem encontrado a morte.

- Condição? Que condição? - Me exaltei, querendo saber o que havia acontecido. - Se a maior parte não morreu então o que aconteceu com elas?

- Elas foram traídas por alguém da própria casa. Alguém que fazia parte, mas havia sido expulsa por se envolver com o inimigo. Ela se revoltou, Natalie! Se revoltou, e juntou forças com Callum para fazerem o que fizeram. E ninguém desconfiou. Meu Deus, ninguém desconfiou!

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