Termine o que começou

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Desde que brinquei naquele tabuleiro ando tendo pesadelos. Tanto em sonhos quanto na vida real. Eu e minha roda de amigos, tínhamos, sim, jogado Ouija. Inclusive sendo na minha casa, no meu quarto. 

E isso foi, definitivamente, um erro. 

- Opa, opa, opa. 

Sinto o braço de Caíque me abraçando de lado, de um jeito extrovertido que só ele tem. Dou um sorriso amigável para ele, enquanto entramos no colégio daquele jeito. 

- Como vai a vida, meu caro amigo?

Dou um soco de leve no seu braço, me separando dele e andando normalmente.

- Ah, tô levando, sabe? Pensei que eu ia estar pior, mas não. Tô nem aí.

Caíque tinha terminado com a sua namorada, agora ex, há mais ou menos uma semana. Segundo ele, ela estava cansada de sentir ciúmes. E Sara realmente era insuportável quanto a isso, fazendo com que o coitado não aproveitasse bem as saídas com os amigos.

- Mas, e você? Soube que o Paulo foi na sua casa ontem. - Ele dá uma pausa. - De noite.

Balanço a cabeça negativamente enquanto viramos o corredor.

- Não é nada disso, tá legal? Eu só... - Mordo o lábio. Eu sei que todos os meus amigos que jogaram naquele dia também estão vendo coisas entranhas, não só sou eu. Ou seja, todos falam as suas experiências paranormais. Não escodemos. - Eu só tive um pesadelo ontem. E escutei alguns barulhos estranhos também.

Ao falar nisso, me arrepio toda. Aquela era a minha vida depois do Ouija. Eu não conseguia dormir direito, não estou comendo muito bem e nem querendo sair como antes. É como fosse uma depressão, mas sei que não é nada disso.

- Olha, o que anda acontecendo com você, hein? - Indago, na sua direção. Ele dá de ombros, soltando o ar que eu não tinha reparado que tinha prendido.

- Eu só tô com a cabeça em outro lugar. Bia, - Nós paramos em frente a sala de aula. - saiba que não é só você que está nesse jogo. Nós vamos acabar logo com isso hoje a noite. Vou chamar a galera lá pra minha casa, e de hoje isso não passa. Prometemos que íamos falar mais uma vez com aquele espírito, e é o que vamos fazer.

Engulo em seco, me lembrando da voz que falava comigo no pesadelo. Termine o que começou. Parece que começou a ecoar na minha mente de novo. 

Entro logo na sala, já vendo os meus amigos juntos, conversando como adolescentes normais, só que todos temos um pé atrás desde o jogo. Realmente não é algo que gostamos de lembrar, por mais que contemos as coisas uns para os outros.

- Soube das novidades, Bia. - Por um momento penso que Emanoel estava fazendo uma pergunta, porém, com a cara maliciosa que ele fez, não demorei pra me tocar.

- Vai se foder, Emanoel. - Me sento enquanto escuto a risada de Mila e Paulo. - E a propósito, não aconteceu nada de mais, não é Paulo?

Ele balança a cabeça freneticamente, brincando um pouco com a situação.

- Todos nós sabemos que vocês têm uma relação escondida, Beatriz. Não adianta negarem.  O Caíque também viu vocês juntos na noite do... - Mila engole em seco. - Vocês sabem.

- Eu não tenho nada a ver  com o relacionamento dos dois! - Caíque estava vendo algo em seu celular, mas quando ouviu o seu nome, num instante levantou os olhos para mim.

Jogo um lápis nele, e por mais que seja algo bem pequeno, acho que doeu. Era pra doer mesmo.

- Garota agressiva. Não conheci você assim, amor. - Paulo se levanta da sua cadeira, e vejo Emanoel e Mila trocarem olhares. 

GoodbyeOnde histórias criam vida. Descubra agora