Caderno negro

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– Eu nunca mais quero sair desse quarto! – Estressada e confusa, me joguei na cama. Camila veio atrás de mim.

– Qual é, Bia! Você só meio que gritou do nada. – Ela deu de ombros, fazendo um biquinho pra não rir. Mais uma vez me queimo de vergonha.

Depois do acontecido no restaurante, algumas pessoas e garçons foram ver o que tinha acontecido. Caíque também foi, o seu olhar em cima de mim foi estranho. Tá tudo estranho, e olha que é do o primeiro dia ainda.

– É sério isso? Vai ficar aí morgada o resto da semana porque gritou no meio de um restaurante? Essa não foi a Beatriz que eu conheci.

– A Beatriz aqui mudou bastante de uns tempos pra cá. — Afundei minha cabeça no travesseiro e veio uma vontade de dormir. Mas eu não queria fazer isso, estava com medo de que aquele mesmo pesadelo, ou sei lá como se chama aquilo, viesse me atormentar.

– O que disse?

– Nada.

A escutei bufar e sair do quarto, falando alguma coisa sobre garotas mimadas. Como se ela não fosse nem um pouco.

Virei de um lado, virei para o outro e não consegui arranjar uma posição confortável. Acabei me sentando na cama e ligando a televisão, procurando algo bom. Nessa hora só tinha os reality shows da MTV, que eu não estava nem um pouco interessada agora.

Meu celular apitou com uma mensagem de Paulo.

"Vai pro meu quarto agora. Já já chego aí  e a gente conversa sobre o que aconteceu, beleza?"

Achava fofo como Paulo andava se comportando comigo ultimamente, até sorri com a mensagem, mas passou pela minha cabeça que poderia ser Caíque mandando aquilo se nós não tivéssemos discutido.

Calcei minha sandália e saí do quarto indo em direção ao dos meninos. Com alguns olhares estranhos no meio do caminho, cheguei lá em um minuto. Acho que todos estavam me achando uma louca. Como a porta estava encostada, entrei. Pensei que Caíque ou Paulo estava no quarto pra deixar a porta aberta, porém não estavam. 

Por que meninos tem que ser tão desorganizados ao ponto de deixar a porta do quarto do hotel aberta? Onde qualquer um podia entrar e fazer sei lá o quê. 

Decidi fechar a porta e me deitar na primeira cama do caminho. A TV também estava ligada, mas sem volume algum. Estranho. Peguei o controle de a desliguei, olhando para a porta do banheiro. Um dos dois poderiam estar lá, porém a porta estava aberta e não vinha nenhum som de lá. É, e lá estava eu sozinha. 

Algo tinha me chamado atenção na mesinha de canto. Uma gaveta estava meio aberta e dava pra ver algo preto nela. Me estiquei e vi que parecia ser um caderno. Seria o cardápio, lista telefônica ou algo do tipo? Não tinha isso lá no meu quarto, então o peguei.

Não, não era nada do hotel. Eu já tinha visto esse caderno antes, só não lembro onde. Ele parecia ter algo peculiar, algo que me chamasse atenção. Então eu o abri.

2016, 14 de junho

Algo em seus olhos brilhava, não sei o que era.

Espera, essa letra era de Caíque. Eu conhecia porque pedia direto pra ele me passar as tarefas por fotos. Tentei fechar o caderno, mas em vão. Ele falou sobre os olhos de alguém, queria saber quem era, por mais que fosse errado eu estar invadindo sua privacidade.

Assim que entrei na casa dela, consegui sentir uma energia ruim. Uma energia péssima. Pude ter certeza que ela não estava bem.

Minha casa. Energia ruim. Isso era um tipode diário?

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