Estou perdendo a cabeça

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Procurei primeiro Caíque no dia seguinte. Não foi difícil, ele estava conversando com um garoto mais novo, acho que era do fundamental. Escutei um pouco a conversa dos dois antes de Caíque se virar pra mim. Eles estavam falando sobre conselhos amorosos. Quase ri quando percebi que dois garotos falavam disso.

– Caíque? – Cutuco seu ombro. Ele se despede primeiro do garoto e se vira.

– Você não vai adivinhar o que eu descobri!

Ele estava eufórico, parecendo que havia ganho na loteria. Percebi que ele também não estava diferente de ontem quando nos falamos por telefone.

– Você não me explicou direito ontem.  Por que não apareceu lá em casa? – Perguntei, parecendo carente.

Caíque me olhou nos olhos, só que o seu sorriso ainda não desapareceu.

– Eu sei que sou muito importante na vida das pessoas. – Revirei os olhos, mesmo sabendo que era verdade. – Mas quando fui embora da sua casa ontem, decidi procurar sobre o que a gente descobriu, sabe? Aquilo foi bem intrigante.

Caíque continuou falando alguma coisa, mas não consegui prestar atenção por causa de uma tontura que me deu na hora. Me segurei nele, fechando os olhos e engolindo em seco. Um enjoou tomou conta do meu estômago, e senti minha nuca começar a suar frio.

– Você tá bem? – Escutei ele perguntar. Fiz que não com a cabeça.

Me separei dele e olhei pro lado, onde vi Mila me olhando na frente da porta da nossa sala.

– Preciso falar com ela.

– Não, agora não.

Caíque me puxou e fomos nos distanciando aos poucos. Eu não estava raciocinando muito bem agora. Tudo parecia ficar devagar, sem sentido. 

– O que tá acontecendo com você, hein? – Ele me sentou num banco. Agora, todo meu corpo estava suando frio.

– Eu... Eu... – Tentei dizer algo, só que nada da minha boca saía. Por um instante me lembrei de Paulo. Onde será que ele estava agora?

Fechei meus olhos quando senti a minha tontura passando. Respirei fundo e aquilo me fez relaxar aos poucos. Mordi o meu lábio inferior e tombei minha cabeça pro lado, rindo sem motivo. Não senti mais os braços de Caíque segurando os meus. O clima havia mudado. E quando abri os olhos, eu não estava no colégio.

Aquelas árvores não me traziam medo algum. O anoitecer? Também não. Eu estava no meio do cemitério, feliz. Sorrindo como se estivesse no melhor lugar do mundo.

Me encontrei sozinha, sentada na grama morta e encostada em uma árvore. Olhei para os lados, não tinha ninguém.

– Mamãe, mamãe! – Escutei uma voz masculina me chamando, parecia de uma criança.

Sem pensar, respondi:

– Vou te procurar!

Era estranho. Não parecia eu, não poderia ser eu. Mas era.

Me levantei num pulo contra a minha vontade. As minhas mãos estavam sujas, então as limpo na minha calça enquanto procurava o meu filho.

Espera, meu filho?

– Filho? – Sussurrei para mim mesma, não esperando nenhuma resposta. Porém, estava bem na minha frente.

– Oi, mamãe. Cadê o papai? – Um garoto de uma estatura baixa perguntou, entrelaçando suas duas mãos nas minhas. Elas estavam geladas.

– Papai?

Os olhos do garoto eram verdes, penetrantes. Pude perceber que ele tinha uma marca vermelha no meio do seu pescoço, e aquilo me fez arrepiar.

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