Existência cruel

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Algo pesado estava em cima de mim, quase não deixando eu respirar. Consegui abrir meus olhos, mas eu não conseguia mover nem um dedo. Tentava, tentava, e tentava de novo.

Eu ainda estava no banheiro e me lembrava mais ou menos do que tinha acontecido. Eu tinha pegado no sono deitada no chão, não é?

A pressão perto dos meus seios me deixava cada vez mais incomodada. Tentei falar alguma coisa, não saía nada. Gritar? Nem pensar! Eu estava paralisada, encarando o teto branco com a luz acesa, até sentir uma presença muito estranha perto de mim. Rolei meus olhos pelas paredes e eles pararam no espelho. O garoto estava ali, aquele garoto, o garoto de sempre.

Tentei gritar com todas as minhas forças de novo, porém fracassei. Não, isso não é real. Tentei fechar meus olhos, mas nem isso eu conseguia. O pavor estava tomando conta de mim.

– Não tenha medo, mamãe! Eu estou aqui. – O garoto, que tinha a cor de seus cabelos morenos, disse.

Isso não é real. É só um pesadelo. Senti meus olhos lacrimejarem, eu vou entrar em pânico. O moreno levou seu dedo indicador até sua boca, fazendo um 'shh' baixo para os meus ouvidos.

A pressão em cima de mim parou. Meus olhos se fecharam e finalmente consegui me encolher para o cantinho da parede. Não tenho coragem de olhar para nada agora. O que tinha sido aquilo? Um pesadelo? Ou foi real?

– Mila! Você dormiu, garota? – Ouvi Mila bater na porta e gritar por mim.

Ai, meu Deus. Eu tinha que abrir meus olhos agora. Eu tinha que falar alguma coisa também.

– S-sim! – Gaguejei um pouco, acho que nem deu pra perceber.

– Ela dormiu lá dentro. – A ouvi comentar.

– Ela estava tão cansada assim? – Era a voz de Paulo. Eles já estava aqui no nosso quarto?

Eu precisava volta para lá, sair desse banheiro. Mordendo o lábio inferior, abri meus olhos devagar. Não vendo nada de assustador, me tratei de levantar sem olhar para nada, só pro meu alvo que era a porta.

Antes de abrir a fechadura, verifiquei com meus dedos se eu estava chorando. Não, não estava.

– Nossa, bia, você tá bem? – Mila estava escorada no armário, que era em frente a porta do banheiro, com os braços cruzados. Dei um sorrisinho e direcionei meu olhar para o lado, vendo Paulo e Caíque sentados.

Passei a mão na cabeça, como se tivesse sentido dor.

– Eu apaguei no chão desde a hora em que chegamos.

– Você dormiu a manhã inteira! – Paulo se levantou e caminho até mim, me dando um beijo na testa e segurando meus braços. — Eu fiquei preocupado.

Percebi que Camila e Caíque se olharam com uma cara de nojo.

– Vamos parar com essa gayzagem, toda? – Caíque também se levantou, parando ao meu lado.

– Gayzagem? – Sorri, tinha vezes que inventavam cada palavra...

– Você dormiu a manhã inteira então, Bia. – Olhei confusa para ele. Que horas eram? – Já são uma da tarde, hora de almoçar.

Meu. Deus. Do. Céu. Uma da tarde? Eu não dormi, eu hibernei então.

– Acho que ela tava tendo sonhos eróticos pra dormir tanto, né. – A loira brincou e todos riram.

Se ela soubesse o que realmente tinha acontecido agora, acho que isso não sairia de sua boca.

– Eu preciso primeiro de um banho. Podem ir na frente, já já encontro vocês no restaurante.

GoodbyeOnde histórias criam vida. Descubra agora