Isso não é real

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Não queria ir pro colégio. Não queria ver ninguém.

Eu ainda me encontrava chocada pelo que tinha acontecido na noite passada. Não sei por onde anda Emanoel, e nem se ele ainda respira, o que me faz ficar com um peso nas costas. Se não tivesse sido aquele jogo, aquele garoto brincalhão ainda estaria no meio de nós como uma pessoa normal.

Passo a mão no meu cabelo, tentando ajeitar aquela juba morena de uma vez por todas. O amarrei em um coque apertado, pegando a minha mochila e indo para a cozinha.

- Bom dia, meu amor. - Minha tia fala enquanto me sento.

- Bom dia, tia. - A meu desânimo estava bem explícito.

Também cumprimento a Verônica, umas das empregadas de casa. Ela serve o suco, e a agradeço.

- Aconteceu alguma coisa que eu não estou sabendo? - Minha tia, Ana, quis saber.

Bom, eu decidi jogar um jogo que invoca espíritos com meus amigos em uma noite, não jogando da maneira correta. Agora nós nos assombramos, vemos vultos, avisos e sombras bizarras. E também não posso esquecer do meu amigo que simplesmente sumiu do mapa.

- Não há nada de errado, se é essa a sua pergunta. - Dou de ombros e tomo um gole do suco de laranja.

- Não vai comer nada, querida?

Nego com a cabeça, já me preparando para o sermão. Eu não sentia fome desde ontem, quando vi aquele sangue na parede. Quase passei mal com o cheiro da tinta que compramos para ajeitar aquela sala.

- Você sabe muito bem que isso pode fazer com que você passe mal no meio da aula, e não quero ver você lá no hospital.

Quase solto uma risada, mas só se eu estivesse no clima.

- Eu não vou passar mal, garanto. Eu só... - Dou de ombros. - eu só não estou com fome. Comi assim que cheguei em casa.

- Ah, e em falar de ontem, como foi lá na casa do seu amigo?

Minha tia pegou o jornal que estava em cima de uma das cadeiras. Eu sabia que sempre quando chegava a hora de sua leitura, não fazia questão de saber o que acontecia ali na mesa. Então apenas disse um sim, e cinco minutos depois levantei para me retirar.

(...)

- Eu ainda não sei como a gente vai contar pros pais do Emanoel que o filho evaporou. - Mila deita a sua cabeça na mesa da cantina.

Bocejo mais uma vez. Eu estava acabada.

- Nós não vamos dizer nada. - Sugere Paulo, olhando para a mesa e depois para mim. - Eles vão vir perguntar para nós o que houve, só que vamos responder que não sabemos. Simples.

Para Paulo parecia tão simples, mas imagino que há uma máscara por trás dele. Também não estava se sentindo bem.

A energia naquele dia tava sendo muito negativa.

- Temos que encontrá-lo antes que a polícia o ache. - Caíque já pensava num método para começar a busca. - Só não tenho nenhuma ideia de onde ele possa ter ido parar.

- Emanoel sumiu do mapa, Caíque. Onde mesmo você pensa que ele vai estar? Fumando um cigarro dentro de um shopping?

Mila num instante levantou a sua cabeça. O seu lápis de olho que tinha colocado na noite passada, ainda estava um pouco borrado. Ela não quer criar esperanças para si mesma.

- Alguém não pode sumir do mapa totalmente. Do nada. Tem que ter uma explicação lógica.

- Nada desse rumo sobrenatural tem lógica, Caíque. - Rebato. Tenho, sim, expectativas altas de encontrar meu amigo. Porém, não posso pensar tão alto, pois o tombo pode ser feio.

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