Mar de pesadelos

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O vento era frio, muito frio. 

Termino de pular a grade, vendo os meninos me esperando. 

- Vocês têm certeza disso? - Eu estava assustada, e acho que todos aqui estavam se sentindo assim.

Senti falta da Mila, mas os garotos não a chamaram. Eles acham que ela ia ficar reclamando toda hora. E, bom, isso era verdade.

- Qual é, Bia? É só um cemitério! - Zomba Paulo, e dou um soco no seu braço direito.

- São 2:34. - Diz Caíque, olhando pelo seu relógio com dificuldade por causa da escuridão.

Foco o que tem no meu caminho. Era sinistro estar no cemitério à essa hora. Engulo em seco e deixo os meninos irem na frente. 

- Aonde vamos primeiro? Ainda não entendi o que estamos fazendo aqui. -Limpo minhas mãos na calça jeans, que estavam suando e sujas por causa da grade. 

- É difícil de entender que viemos achar o Emanoel? - Caíque levanta uma sobrancelha. 

- É, sim. - Cruzo os braços. - Vocês não viriam aqui por acaso. Aconteceu alguma coisa e vocês não querem me contar.

Eles trocam olhares novamente, só que agora é como se fosse cúmplices de algo. Aí tem. 

- Eu sabia!

Paulo coloca a sua mochila para frente e a abre, pegando três lanternas e jogando duas para mim e Caíque.

- Depois contamos para você, Bia. Só você. Não temos tempo para historinhas agora.

Ele ascendeu a sua lanterna em direção a um túmulo, o que me fez dar um pequeno salto para trás quando assustou um certo tipo de bicho. Caíque troca um olhar com seu amigo, como se fosse um "cala essa tua boca, idiota".

Paulo dá de ombros, e, com um sorriso de lado, segue em frente. Sinceramente, qual é a dele tá sorrindo no meio de um cemitério?

- Quer conversar sobre o telefonema depois? - Sinto o hálito quente de Caíque acima da minha orelha. 

Não sabia se depois seria uma boa hora para lembar do que passei minutos atrás, então nego com a cabeça. Era melhor eu guardar isso para mim, pelo menos por enquanto.

Começo a seguir Paulo, com Caíque logo atrás de mim. Perfeito, se tiver alguma assombração no meio do caminho, não vou ser eu a primeira a ser pega. Limpo as minhas mãos novamente na calça. 

- Vocês não querem conversar? - A voz de Paulo parece muito alta nesse esquisito. - É melhor, sabe? Pra não ficar tão sinistro quanto parece. 

Dava pra perceber que sorria enquanto falava. Algumas vezes, ele era assim. Quebrava o gelo nas piores horas. Como naquela noite. Como na nossa noite.

- Que tal um jogo de perguntas e respostas? - Sugere. 

- Ah, claro! Um joguinho no meio de um cemitério. Ótima sugestão, cabeça oca! - Caíque ironiza. Não teve como não soltar uma risada baixa. Paulo dá uma olhada para trás rapidamente. Uma olhada para mim.

- É bom te ver sorrindo de novo. - E, então, volta a olhar para frente.

Me pergunto o porquê dele dizer isto. Se foi pra mexer comigo, conseguiu. Eu não podia mentir, eu gostava dele, sim.

- Acho que a Camila não ia reclamar tanto se estivesse aqui. - Decido falar, mesmo sendo mentira. Queria tirar da minha cabeça aquela cena que achei constrangedora. - Ela vai reclamar quando descobrir que fizemos algo sem ela estar no meio.

GoodbyeOnde histórias criam vida. Descubra agora