Gosto de brincar, mamãe

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Era domingo de madrugada. Olhei no meu relógio de pulso que eu tinha colocado há pouco tempo. 2:30, o voo era às quatro. Sentei no sofá, esfregando os dedos nos olhos por conta do sono que se instalava em mim, mas não demorei muito com os olhos fechados. 

- Nossa, o que tem em você? - Perguntou Anne pela quarta vez em três dias. O bilhete havia me deixado assustada, cismada com tudo em minha volta. Eu também mal estava dormindo essas noites, e quando eu lembrava que eu ia para um lugar que uma família frequentou dias antes de se suicidar, meu corpo chegava a estremecer.

- Estou impaciente e com sono. Cadê aquele povo que não chega? - Indaguei. Paulo e Caíque disseram que viam me buscar, mas antes iriam pegar Mila em sua casa. Os meninos não gostaram muito da ideia, ainda estavam com um pé atrás com ela por causa do que ela disse a respeito de mim. 

O som de uma buzina se estalou nos meus ouvidos em poucos segundos. Me levantei preguiçosamente do sofá, e com a ajuda de Anne, me manter em pé.

- Bia, você não está nada legal. Não quer tomar um remédio antes de ir? 

Eu não conseguia ficar em pé por muito tempo por causa do sono, então neguei rápido com a cabeça. Eu não queria dormir. Minha tia desceu as escadas vestida com um roupão branco. 

- São os meninos? - Perguntou. 

- São sim.

Ela me deu um abraço, falando um monte de coisas no meu pé do ouvido caso eu sofresse algum tipo de acidente. 

- Ah, e juízo, viu? Fale com os garotos que não irei falar com ele por estar com roupa de dormir, masa desejo ótima viagem para vocês.

Ela me deu um beijo na testa e eu sorri. Anne também me ajudou a levar a mala lá para fora. Caíque e Paulo estavam fora do carro e Mila dentro dele. Dava pra ver a sua cabeleira loira através do vidro fumê.

- Pensava que você não ia sair tão cedo. - Paulo sorriu e me deu um beijo na testa, igual a minha tia. - Sua tia não vem falar com a gente?

Vi que Caíque abriu o porta-malas sem olhar ou até mesmo falar comigo. Ele ajudou Anne a colocar a minha mala, que nem estava tão pesada assim.

- Não, ela já estava com roupa de dormir e foi logo deitar. Ela mal se despediu de mim. 

- Ei, tampinha! Cadê o meu abraço de despedida? - Anne brincou, já colocando os seus braços em volta do meu corpo. 

- Vou sentir saudades! Você deveria vir pra passar as férias inteira aqui, não uma semana!

Quando eu voltasse de viagem, não iria mais ver a minha prima. Ela irá embora na terça-feira, então essa é a nossa última despedida. 

- Quem sabe na próxima. - Ela riu no meu ouvido. Anne também se despediu dos meninos, mesmo não tendo tanta intimidade com os mesmos. Ela só tinha comigo e Mila, que descobri que já estava no décimo sono no banco do carro.

Olhei pra Caíque enquanto esperava minha prima entrar pela porta de casa. Ele olhou de relance para mim, mas quando percebeu que eu fazia o mesmo, deu um sorriso e entrou no banco de carona.

Paulo foi dirigindo o caminho todo. Em menos de meia hora já estávamos no aeroporto. Se tínhamos conversando no caminho? Trocamos poucas palavras. Fizemos o check-in quando chegamos e nos sentamos logo depois com Mila reclamando que seus pés estavam doendo. 

Ela e seus dramas. 

- Não vai falar comigo? - Falei baixinho quando estava ao lado de Caíque. Paulo foi comprar café no restaurante a nossa frente enquanto Camila reclamava sussurrando dos seus pés quando estava caindo no sono novamente. 

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