Mais perguntas, menos respostas

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Se passou três dias depois que Emanoel foi embora do hospital. Eu me sentia destruída por dentro, sem vontade de viver. Peguei os meus fomos livros que estavam espalhados em cima da carteira e os joguei na bolsa. Pra quê eu vim pra aula, se nem prestei atenção em nada do que os professores estavam falando?

Só minha tia pra me obrigar mesmo.

Não falei muito com Mila hoje, nem com os meninos. Só conversei um pouquinho na hora do intervalo, porque sempre sentamos juntos. Mas fora isso, não troquei duas palavras.

- Sabe, eu tava pensando em pagar um professor particular. O que acha, Bia?

Mila perguntou, sorrindo. Enquanto nós estávamos caminhando, ela tagarelava sem parar.

- Ótimo!

Não preciso forçar um sorriso, só acelero o passo pra sair daquela escola. Disse pra minha tia que ia pra casa dela depois da aula, mas a verdade é que não chagava nem perto disso.

Escutei as vozes dos meus amigos dizendo um tchau, só que nem respondi. Virei a esquina e fingi ser uma adolescente normal, com problemas normais.

Só indo pra um cemitério pra visitar um bosque. Só isso.

Olho pra trás pra ver se ninguém me seguiu, e por incrível que pareça não. Achei melhor assim. O cemitério ficava um pouco longe da escola, então a única maneira era pegar um táxi, mas um ônibus que passou na hora que eu estava no ponto de ônibus parecia a opção mais rápida.

Não sou de andar de ônibus, porém, acredito que o povo reclama quando está lotado. Por sorte, as cadeiras de trás estavam vazias. Sentei em uma delas, com ninguém ao meu lado. Imaginei de Mila estivesse comigo, provavelmente deveria estar tendo um treco nesse momento.

Meu celular vibrou dentro da minha bolsa. Olhei para os lados pra ver se ninguém me via, e levei o celular ao ouvido.

- Alô? - Me abaixei um pouquinho pra perto da bolsa, que estava no meu colo.

- Sabia que pegar ônibus de meio dia não é tão agradável quanto pensa?

Caíque?

- O quê? Como descobriu?

- Achou mesmo que eu não percebi o seu jeitinho hoje? Você estava bem pra baixo, e também a sua tia não foi te pegar hoje. Você está fugindo ou é só imaginação minha?

Sorrio de lado. Fugir seria uma boa opção. Ou pioraria tudo de uma vez?

- Eu só estou indo pra um lugar.

- Posso saber que não avisou a ninguém?

Reviro meus olhos. Eles estava parecendo o meu pai nessas horas, quando ele ainda era vivo. Mordo meu lábio, não sabendo se aquela sensação era boa ou ruim de ver que uma pessoa se importa de verdade comigo, ao ponto de fazer uma grade de perguntas.

- Eu quero fazer isso sozinha, sabe?

Eu não queria, mas disse.

- Fazer o quê, Bia? - Escuto ele respirar fundo.

Eu contaria pra ele agora ou depois? Acho que ele me acharia uma louca, mais do que o normal. E além do mais, não é certeza que vou obter alguma resposta. Se eu fracassar, não quero que ninguém saiba.

- Eu vou desligar, depois eu falo com você. Tchau.

Coloco meu celular de volta na bolsa, e olho ao redor. Um homem com uma cara esquisita estava olhando pra mim, e aquilo me fez arrepiar.

Meu Deus, eu não posso ser assaltada agora. Agarro a minha bolsa e volto a olhar pra rua. Aquilo pode se chamar de sorte ou não sei o quê, mas quando dei por mim já estávamos em frente ao cemitério. Me levantei rápido e puxei a cordinha.

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