18. Painful Night

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Dois capítulos hoje. Beijos e boa leitura. Desculpas pelos oito anos de demora, meu cabelo mudou de cor umas três vezes desde o último capítulo.

P.O.V Camila

Quando atendi o telefone, foi impossível não notar a voz emotiva do meu pai. Parecia que estivera chorando durante horas, o que eu descobri ser verdade poucas frases depois do primeiro olá.

- Aconteceu algo, pai? Você parece... Desesperado. É a mamãe? Ela tá bem? - comecei a ficar nervosa com possibilidade de minha mãe estar sofrendo.

- Na verdade, é sim sua mãe. - ele fez uma longa pausa, pareceu tentar controlar o choro. Nesse momento, meus olhos já começaram lacrimejar. Me sentei na cama, tentando me acalmar. - Camila... É melhor você vir pra cá. O mais rápido possível. Sua mãe... - ele voltou a chorar, descontroladamente. - Ela não vai resistir por muito tempo.

Eu não consegui dizer "tchau" no telefone para me despedir. Eu fiquei completamente estática, comecei a tremer, perdendo completamente a força. Permiti que o celular escorregasse da minha mão e fosse de encontro ao chão. Lágrimas vazavam dos meus olhos e soluços escapavam de minha garganta. Finalmente havia caído a ficha de algo que eu mal tinha parado para pensar desde que fora visitar minha família. Minha mãe estava morrendo e eu tinha que me despedir dela. Eu provavelmente nunca mais a veria depois dessa visita. Ainda entre um choro compulsivo e desesperado, peguei minha mala e comecei a jogar algumas peças de roupa ali. Tinha medo de me atrasar e não conseguir nem ao menos dizer um último "eu te amo" para minha mãe antes que ela se fosse. Logo Lauren entrou no quarto, quando ouviu meu choro.

- O que houve Camz? Por que está arrumando as coisas? Por que está chorando?

Eu parei o que estava fazendo e passei a encará-la, sem dizer nada, esperando que ela entendesse sem que eu precisasse verbalizar a minha dor.

- Sua mãe? - eu assenti, e ela aconchegou meu corpo junto ao seu em um abraço caloroso. - Vou arrumar minhas coisas. Mani e Dinah podem ir também. Vou estar ao seu lado.

- Isso dói tanto, Lo. - disse, entre soluços, com a voz embargada. - Temos que nos apressar. Meu pai disse que ela tem pouco tempo. Algumas horas, talvez.

- Eu sei meu amor, eu já senti isso que está sentindo. Eu vou estar lá por você, o tempo todo ok? Não vou te deixar sozinha. E você vai chegar a tempo.

....

Eu realmente esperava que reuniria minha família antiga e minha nova família novamente em uma ocasião mais feliz. Não esperava que isso acontecesse em uma despedida definitiva. Assim que entrei no quarto, mamãe estava encubada e inconsciente. Papai estava ao lado dela, segurando sua mão. Me aproximei da cama, e acariciei o braço da mulher mais velha, com lágrimas retornando a escorrer por meu rosto.

- Me desculpe, mama, por não estar aqui antes. Eu te amo. - dei um beijo na testa dela. Os batimentos marcados no aparelho estavam fracos. Logo Lauren entrou no quarto de hospital, parando logo atrás de mim. Eu me ajoelhei ao lado de minha mãe, deixando a boca perto do ouvido dela. - Mãe, sei que não pode me ouvir – sussurei – mas eu só queria que soubesse o quanto eu te amo. Sinto tanto que você tenha percebido tarde demais que a minha diferença não era nada de mais. Quero que saiba que, eu amo essa garota parada atrás de mim agora, e que eu espero que algum dia, sejamos como você e o papai, em um relacionamento de décadas que nada pode separar. Eu agradeço por tudo o que você fez por mim, e eu te perdôo pela decisão que tomou quando descobriu sobre a minha sexualidade; consigo entender sua atitude, apesar de não concordar. Eu te amo mama. Eu te amo. - dei um beijo na testa dela.

Meu pai não conseguia se acalmar. Ele chorava muito, soluçava. Lauren continuava lá, para me suportar caso eu precisasse dela. Abracei o papai, chorando junto com ele. Enquanto eu me lamentava com ele, o coração da mamãe parava gradativamente, e não havia nada que eu, ou até mesmo os médicos pudessem fazer.

...

O velório e o enterro de Sinuhe Cabello foram os dois momentos mais tristes que eu já havia presenciado em toda a minha vida. Eu chorava, o papai chorava, a Sofia chorava. Minha irmãzinha, tão pequena e já órfã de mãe. Isso não era justo com ela. Lauren cumpriu sua promessa e não saiu do meu lado nem por um segundo, mesmo quando as coisas começaram a ficar estranhas e recebíamos olhares indiscretos ou perguntas invasivas quando os amigos e familiares um pouco distantes dos meus pais percebiam nossa proximidade, nossos dedos entrelaçados e alguns selinhos que minha namorada me deu para tentar me acalmar.

Decidi que dormiria em casa naquela noite, de forma que nem meu pai e nem Sofia se sentissem tão sozinhos e abandonados pela partida de minha mãe. Eles se animaram um pouco com a ideia de me ter de volta em casa por pelo menos mais uma noite.

- Camila, você tem certeza que não quer voltar a morar aqui? Vai ser melhor para a sua irmã.

- Sim pai, já falamos sobre isso. Além disso, agora tenho minhas responsabilidades em Miami, meu trabalho, escola. E não vou deixar minha namorada lá. Eu prometo visitar vocês pelo menos duas vezes por mês. Vocês também podem ir pra lá sempre que der, levar Sofi na praia, deixar ela brincando com a Nina... - a garotinha sorriu com a minha sugestão, apesar de haver muita tristeza por trás daqueles olhinhos.

- Então você e Lauren estão realmente namorando?

- Sim, já faz um tempinho. Ela é ótima para mim. - eu sorri. Assim que Jauregui era para mim. Motivo para sorrir mesmo quando eu estava triste, passando por algo extremamente difícil. - Bem, já está tarde. Vou deitar. Tive uma ideia papa, porque não fazemos igual quando a Sofi era bebê e a mama tinha que virar a noite trabalhando? Dormimos todos juntos na sua cama?

Minha irmã se empolgou com a ideia e foi correndo colocar seu pijama. Quando já estávamos nós três deitados, no momento em que fechei os olhos, todas as memórias com minha mãe invadiram minha cabeça, eu comecei a chorar, mais uma vez. Um choro silencioso, mas com muita dor e lágrimas. E assim foi a primeira noite sem a minha mãe: Triste, difícil e principalmente dolorosa.

Eclipse - CamrenWhere stories live. Discover now