04. Afraid

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VOLTEI. Boa leitura. Esse capítulo não tem música. Superem.


P.O.V Lauren

Acordei um pouco atrasada nesta manhã. Depois de me arrumar para ir pra faculdade, assim que saí do meu quarto, pude ouvir as duas mulheres que deram a família que eu sempre precisei, conversando, na cozinha. Cinco anos haviam se passado desde quando aquela moça loira me acordou enquanto eu dormia na rua.

Cinco anos vivendo maravilhosamente bem, minha vida era simples, mas muito melhor do que a vida que eu levei enquanto morava sob o mesmo teto do que aquele monstro que eu costumava chamar de pai. Eu não as considerava como mães, eram muito jovens para isso, mas eram as melhores irmãs mais velhas que a vida poderia ter me arrumado. Elas tinham uma filha... Nina. Outra longa história. A pequena era como se fosse minha irmãzinha, amava aquela garotinha tanto quanto amava Taylor. Meu pai, finalmente tinha sido preso, pegando dez anos por estupro e pedofilia. Não acho que tenha sido tempo suficiente para afastar aquele monstro de mim, mas já era alguma coisa.

Assim que entrei na cozinha, me surpreendi ao ver um rosto desconhecido. Sorri para a garota simpaticamente, porque pelo jeito que Dinah e Mani estavam empolgadas com a presença da menina, ela só podia ser alguém bom.

- Ah, Lern, deixa eu te apresentar – minha irmã se levantou e veio até mim, simpática. - Essa é a Camila, ela foi babá da Nina quando você tava fazendo intercâmbio. Mils, essa é a Lauren, minha, é... irmã? - a morena olhou pra mim, em busca de aprovação, e eu assenti com a cabeça. - Mas pode chamar ela de branquela, A4, sulfite, leite azedo, qualhada, clara de ovo cozido, Michael Jackson 2010... Muitas variedades.

- Não fode Mani – reclamei batendo no braço dela. Camila riu da nossa briguinha e se levantou, aproximando-se de mim. - Oi. - falei tímida.

- Oi. - sorriu novamente, exibindo seus dentes perfeitos. - Não sabia que a Mani tinha irmã...

- É complicado, vários fatores envolvidos. Sou irmã de todo mundo nessa porra, não de sangue, é claro. - expliquei meio enrolada.

- Tá, tá. - cortou Dinah. - Lern, Cami vai dormir no seu quarto, por você tudo bem? Tretas rolaram, tetas também, se quiser mais detalhes pergunta pra ela, que se quiser te conta.

- Sem problemas. Pode ficar o quanto for preciso. Contanto que não fique mexendo nas minhas maquiagens igual a um certo alguém, né Nina? - olhei para minha pequena que ria com uma carinha de sapeca.

- Por mim fechado, mas faz empréstimos? Gostei do batom. - Comentou a garota de traços latinos sobre o meu batom vermelho. Ela olhava diretamente pros meus lábios me fazendo sorrir.

- Claro. - concordei.

- Só não pode liscar os aimários e nem pintar as paledes. - complementou Nina, fazendo a melhor cara de brava que uma criancinha de quatro anos poderia fazer.

Eu ri e fui até minha irmã mais nova. A peguei no colo e ela continuou comendo seu pãozinho bem de boa enquanto eu dava um beijo estalado na sua bochecha rosada. Mani e Dinah sorriam encantadas com a fofura da filha e Camila apenas observava.

Depois de me enrolar por mais um tempo, comendo e conversando com a minha família, finalmente saí para a faculdade. Estava no segundo ano de psicologia, seguia os mesmos passos de Normani. Queria ajudar mais crianças como eu a superarem traumas, assim como minha amiga me ajudou a superar os meus. Eu não estava 100% recuperada, e não acredito que algum dia eu estaria, carregava muitas cicatrizes e não havia tempo no mundo que pudesse curá-las. Eu continuava tendo medo das pessoas. Conversava e interagia normalmente, era até amigável. Mas meu problema era o contato físico.

As únicas que podiam me abraçar e se aproximar de mim eram Dinah e Mani. Com Nina era diferente, porque meu problema era apenas com adultos, principalmente homens. Quando algum garoto encostava em mim, até mesmo sem querer, eu apenas travava e começava a tremer e essa foi a razão por eu nunca ter beijado ninguém, mesmo com 19 anos, continuava sem saber como era sentir uma boca na minha, ou até mesmo a sensação do sexo onde o medo não fizesse parte, e sim prazer. Algumas cicatrizes sempre continuam a doer.

Por isso eu fazia psicologia. Queria cuidar de crianças que passaram por traumas assim, queria ajudá-las a se recuperar, tentar fechar seus machucados antes de que se formassem cicatrizes. Queria dar apoio para que elas não se sentissem como eu passei a vida me sentindo, até o dia em que Dinah e Normani me salvaram: fraca, impotente e frágil, exposta e vulnerável para que toda a maldade do mundo me atingisse. Meu pai era um monstro e eu que me sentia errada e suja, pelas nojeiras que ele fazia comigo.

Estava feliz pelo fato de que Michael Jauregui perderia 10 anos de sua vida preso em uma cela, pagando pelos crimes que cometeu contra mim, e minhas falecidas mãe e irmã. Mas o que me assustava, era que metade desse tempo já havia se passado, e eu temia o dia em que a outra metade também chegaria ao fim.

Eu não tinha muitos amigos na faculdade, exceto por uma baixinha que se pagava de santa religiosa, mas, na verdade, vivia fazendo merda e tomando no cu por isso. Essa era Ally, a garota que parecia um anjinho, mas que na verdade era mais perigosa do que a Dinah de TPM sem um pote de Nutella.

- Laur, você prometeu, porra! - reclamou a baixinha quando eu disse que não ia sair com o Brad, amigo do crush dela, Troy.

- Allce, sou a virjona daqui. Não me pressiona. - Allyson não sabia da verdade, pelo menos não por inteiro. Não gostava de compartilhar minha história porque além de fazer com que as lembranças voltassem, fazia as pessoas me olharam com pena, e eu realmente odiava isso. - Não gosto dele, nem fodendo que saio com ele só porque você quer muito dar pro Troy. - a anã me chutou por baixo da mesa.

- Não fala assim, sou uma moça direita! - protestou, me fazendo gargalhar alto. Ela revirou os olhos e o sinal tocou, informando que o almoço havia acabado.

Depois de mais 3 aulas, finalmente o dia letivo tinha se encerrado. Quando cheguei em casa e abri a porta, me surpreendi com o que vi no sofá da sala.

Eclipse - CamrenWhere stories live. Discover now