Lost

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Demorei para assimilar quem eram as duas mulheres atrás de mim. Não foi difícil reconhecer Karen, que se encontrava no mesmo estado que eu e minha mãe. Entretanto, a outra precisou de alguns minutos até que o nome Aaliyahestampasse minha mente. Precisei piscar algumas vezes para captar que minha ex cunhada já não era mais uma criança, até porque já faziam quase sete anos que eu não a via. Quantos anos ela já deveria ter? 16? 17? A bolsa nas costas indicava que ela havia acabado de sair da escola, então não deveria passar dessa faixa. Entretanto, a semelhança com o irmão ainda me atordoava.

— Catherine! — voltei a realidade com Karen me dando um abraço rápido, que rapidamente tratei de retribuir.

Me afastei, limitando-me a um sorriso como cumprimento. Não conseguia pensar em algo bom o suficiente para dizer, e um simples "oi" não me parecia lá muito apropriado. Sorri para Aaliyah, mas ela apenas desviou o olhar. Não consegui me preocupar com o humor de uma adolescente de prováveis 17 anos, então apenas voltei a fitar o delegado, que assistia a cena com certa indiferença.

— Quero vê-la. — falei, o mais firme possível.

— Ela está conversando com a psicóloga agora, Srta. Wood. — falou, colocando as mãos nos bolsos. — E eu preciso explicar a você e ao pai a situação da criança, ela tem apenas 6 anos e sem o tratamento adequado, a situação pode ficar ainda mais confusa para ela.

— Não me ensine como cuidar da minha filha. — rebati, ignorando o olhar feio da minha mãe. — Eu quero vê-la!

— Catherine! — replicou ela, mas continuei a ignora-la.

— Eu passei quase sete anos lamentando a morte dela, sendo que na verdade, ela estava viva! — disparei, sentindo a irritação fazer com que uma onda de adrenalina irradiasse pelo meu corpo. — Pedir para que eu espere mais algumas horas é demais pra mim! Claire é minha filha, eu preciso vê-la!

O delegado suspirou, dando olhadas rápidas para minha mãe, meu pai e Karen, e então voltando para minha mãe, que crispou os lábios. Logo em seguida, ele passou a mão pela nuca e usou a mão livre para indicar para que o seguíssemos. Rapidamente me adiantei, seguindo logo atrás do policial enquanto ouvia as passadas dos outros logo atrás de mim.

Subimos uma escada pequena, e em minutos nos vimos em um corredor menos movimentado. O delegado nos guiou até o final do mesmo, onde paramos perto da penúltima porta. Havia uma janela um tanto grande demais ali, onde podíamos assistir o que se passava dentro de uma sala. Na mesma, tinha uma mesa pequena onde uma mulher de cabelo escuro e uma garotinha loira estavam sentadas, e instantaneamente, lágrimas brotaram nos meus olhos. Minha Claire!

Me aproximei do vidro, tocando o mesmo enquanto tentava assistir o que se passava lá dentro. A mulher falava e fazia algumas pausas, mas a garotinha parecia responder monossilabicamente. Tentei observa-la melhor, mas ela mantinha a cabeça abaixada, provavelmente tentando fazer o cabelo cobrir as laterais do rosto. Dei uma olhada rápida para as pessoas a minha volta, vendo que todas pareciam concentradas na cena da sala, então, caminhei de lado e devagar até chegar na porta e a abri, ignorando os gritos de protesto quando eles notaram o que eu fazia.

Os olhares de ambas se voltaram para mim, e pela primeira vez, consegui olhar para o rosto daquela garotinha.

Nada nunca tinha sido tão óbvio: Era realmente a minha garotinha. Minha Claire.

Os cabelos loiros idênticos aos meus, presos numa trança que começava a se desfazer, faziam um par perfeito com os olhos castanhos um tanto esverdeados herdados de Shawn. Mordi o lábio inferior assim que senti o mesmo tremer, não iria aguentar chorar mais uma vez. Sua expressão permanecia assustada enquanto ela me observava, os olhinhos brilhando e a boca comprimida. Não pude deixar de notar quando ela apertou um cachorro de pelúcia maltrapilho que estava em seu colo.

Broken Strings | Shawn Mendes ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora