Mom

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Não conseguia sentir nada do meu corpo, apesar de saber que ele tremia de ponta a ponta. Minha postura estava rígida e meu olhar estava fixo na estrada a frente, mesmo que ele se desviasse quase sempre na direção do retrovisor, onde eu podia ver Claire no banco de trás, mas isso só servia para que o pânico me dominasse e meu pé afundasse cada vez mais no acelerador. Sabia muito bem que o meu dom para a direção era limitado, mas pela minha menininha, eu me tornaria a melhor motorista daquele mundo em questão de segundos.

Segui para o primeiro hospital que consegui avistar na estrada, jogando o carro com tudo na direção da saída e ouvindo buzinas e xingamentos logo após. Minhas mãos apertavam o volante como se nunca mais fossem soltá-lo, mas assim que parei a frente do hospital, me atirei o mais rápido que pude para fora do carro, correndo o máximo que minha bolsa estourada permitia.

Haviam duas mulheres na recepção, que me olharam assustadas assim que cruzei as portas duplas. As lágrimas escorriam desenfreadas enquanto eu tentava organizar meus pensamentos, obrigando o meu corpo a impedir que o estado de choque tomasse conta.

— Moça...? — uma delas se levantou, sendo seguida pela outra enquanto se aproximava.

— A minha filha... — respirei fundo, sentindo então a primeira contração. Soltei um grito, me apoiando no balcão. — Minha filha levou um tiro, está no carro. Pelo amor de Deus, ajuda ela.

— Chame o Brad. — falou uma delas, fazendo a outra correr rapidamente até algum tipo de telefone.

— Brad, temos uma emergência na recepção. — anunciou ela, me encarando com preocupação.

— Vem, sente aqui. — a outra segurou meu braço devagar, tentando me levar até uma das cadeiras, mas apenas neguei.

— Preciso... Preciso que ela fique bem. — falei, apertando os olhos com a segunda contração.

— Ela está em trabalho de parto. — a do telefone veio na nossa direção.

A aquela altura, todos os outros pacientes que aguardavam já nos olhavam com preocupação, mas apenas me obriguei a permanecer alheia. Um batalhão de enfermeiros surgiu do corredor, sendo dividido entre os que vinham na minha direção e os que corriam até o carro com uma maca. Tentei observar o que acontecia, mas senti um choque se espalhar pelo meu corpo ao mesmo tempo em que minhas pernas cediam. Os enfermeiros me seguraram antes que eu chegasse ao chão.

— Oh meu Deus... — ouvi a voz da moça da recepção.

— Vamos levá-la para o centro cirúrgico, anda. — falou um enfermeiro. — Lacey, pegue a outra maca!

— A pressão dela está caindo! — alertou uma voz feminina.

— Qual o nome dela?

— Não sabemos, ela chegou em trabalho de parto com a filha baleada...

— Levem a menina para o centro 2.

Tentei falhamente enxergar, mas tudo o que via eram borrões. Senti Evan pela primeira vez naquelas horas e respirei fundo, sabendo que ele precisava sair o mais rápido possível.

— Evan... — sussurrei em meio ao caos, finalmente sentindo enquanto eles remexiam o meu corpo para colocá-lo na maca.

— Quem é Evan? O seu marido? — uma voz masculina soou, e observei os borrões das luzes no teto me indicarem que estávamos em movimento.

— Shawn... — minha voz saiu falha.

— Shawn... Ei, como era mesmo o nome daquele cantor famoso com a filha desaparecida? — as lágrimas escorriam conforme os enfermeiros debatiam entre eles.

Broken Strings | Shawn Mendes ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora