Capítulo 22

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Minhas criadas estavam me esperando no quarto, para me lavarem. Havia uma camisola, verde e frágil em minha cama. Elas tiveram a delicadeza de não tocar na minha mala.
As criadas eram cuidadosas, era bem claro que sabiam de cor essa rotina do fim do dia, mas não faziam às pressas. Acho que a intenção delas era oferecer o máximo de conforto, mas queria mesmo ficar sozinha. Não podia apressá-las enquanto lavavam minhas mãos, desamarravam meu vestido e colocavam um broche prateado com meu nome na camisola. Elas faziam várias perguntas que me deixavam muito constrangida. Eu tentava responder sem ser grossa.
- Estou tão cansada, ia me ajudar muito a espairecer se pudesse passar um tempo sozinha. - Falei na esperança que elas entendessem.
Na verdade, elas ficaram com um ar decepcionado, tentei consertar.
- Vocês todas são muito eficientes, é que estou acostumada a ficar sozinha. E fiquei rodeada de gente o dia todo.
- Mas senhorita Mertiniss é nosso dever ajudá-la. É nosso trabalho - replicou Anye, que parecia ser a chefe delas, ela estava à frente de tudo, Mary era a mais sossegada e Lucy parecia bem tímida.
- Gosto muito do trabalho de vocês, e com certeza vou precisar de ajuda amanhã, mas esta noite só preciso relaxar. Se quiserem ajudar, um tempo sozinha seria bom para mim, e se vocês estiverem bem descansadas pela manhã, poderão fazer tudo da melhor maneira, não acham?
Elas trocaram olhares.
- Bem, imagino que sim - concordou Anye.
- Uma de nós deve ficar aqui caso precise de algo - disse Lucy, aparentando nervosismo.
- Se eu precisar de algo toco a campainha, vai ficar tudo bem.
Anye sorriu e parecia que estava começando a me entender.
- Certo, senhorita Mertiniss, nós a veremos pela manhã.
As três fizeram uma reverência e saíram do quarto. Anye me lançou um último olhar, acho que eu não era exatamente o que ela esperava, mas não parecia irritada com isso.
Assim que elas saíram, descalcei minhas luxuosas pantufas e estiquei os dedos dos pés no chão. Comecei a desfazer minha mala e encontrei o cordão de tordo que tinha ganhado de Madisson, coloquei no pescoço, sentia saudades dela, sentia saudades de todos, com toda certeza esse lugar não é para mim.
Guardei minha mala no armário gigantesco, dei uma olhada nos vestidos, eram poucos, o suficiente para mais ou menos uma semana.
Peguei as poucas fotos que tinha da minha família e prendi na moldura no espelho, era tão alto e largo que podia ver as fotos sem tapar a visão do meu corpo. Os poucos livros que carregara encontraram um lugar na útil prateleira próxima da porta que levava a sacada.
Quando coloquei um dos livros na prateleira uma foto caiu dele, era Peeta e eu, uma foto tirada por mim, uma semana antes de nossa separação, ele estava sorrindo, abraçado comigo, meus olhos se encheram de lágrimas. Não sabia onde a foto ficaria, mas coloquei em meu criado-mudo.
Deixei meu pensamento ir até ele, será que ele queria me dizer algo antes de eu partir? Será que ele queria pedir desculpas? Será que ele queria dizer que ainda me amava?
Afastei esses pensamentos, não podia deixar aquela esperança crescer dentro de mim. Eu precisava odiá-lo, esse ódio me faria avançar.
Mas a esperança doía. E com ela vieram as saudades de casa. Nem reparei quando comecei a chorar. Fui até a sacada, senti o ar fresco e pensei em sair de lá, imediatamente.
Tirei a camisola, junto com o broche e coloquei minha calça que tinha vindo para cá e uma blusa qualquer, coloquei minhas botas gastas e peguei minha mala, colocando nela todos os livros e fotos que tinha acabado de tirar dela.
Corri até um dos corredores vazios, não vi nenhum guarda, e quando escutava passos me escondia ao máximo. Eu não conhecia muito bem o Castelo mas sabia que havia uma janela bem pequena, onde eu poderia pular e cair no Jardim, era uma ideia louca, mas precisava sair de lá, virei à direita e vi a janela e a sombra de alguma pessoa. Olhei para ver se reconhecia o rosto e ali estava o Príncipe Maxon. Fiz um barulho estranho que acabou denunciando minha presença.
- Quem está aí? - Falou ele bem mais próximo.
Saí de onde estava e fui até ele.
- Me desculpe alteza - fiz uma reverência e continuei - Sou uma das filhas de um dos cozinheiros, estava indo de volta para casa, mas, acabei me perdendo.
Eu estava ficando louca. Ele chegou mais perto e me olhou fixamente, até que caiu na gargalhada. Olhei para ele furiosa.
- Está rindo de que?
- Desculpe Querida,  Mas eu conheço você, é uma das selecionadas, Mertiniss, não é?
- Eu não sou sua querida! E não sou selecionada, sou uma garota que está indo para casa.
- Eu reconheceria você, eu que te escolhi, está querendo fugir? - ele olhou minha mala. Adeus plano, irei ser banida para sempre.
- Eu vou voltar para meu quarto.
- Espere, por que quer ir embora?
Não aguentei e explodi.
- Por que? Porque aqui é uma jaula. esse concurso idiota, você nunca amou ninguém? E quer escolher sua mulher por um concurso? Você é baixo a esse ponto?
- Entendo que possa dar essa impressão, que tudo possa ser visto como entretenimento barato. Mas meu mundo é muito fechado. Não conheço tantas mulheres. As poucas que conheço são filhas de diplomatas, e geralmente temos pouquíssimos assuntos em comum, isso quando falamos a mesma língua.
Maxon achava graça daquilo e deu uma risadinha, Não fiquei impressionada.

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