Acordei sentindo o cheiro de algo queimando, me levanto e ando de vagar para fora do quarto, vou andando por um corredor, até chegar na sala onde também era uma cozinha americana, arregalo meus olhos ao ver uma panela quase pegando fogo no fogão
-Puta merda- falo me aproximando- e agora?- em um ato involuntário desligo o botão do fogão, mas a panela que era cinza se tornou preta como num passe de mágicas
-Vish, eu tinha esquecido que coloquei o leite pra esquentar- Caio aparece na cozinha- cheiro ruim
Eu fico em silêncio e me afasto no fogão voltando para a sala, onde só havia um sofá e uma estante com a TV e um aparelho de som. Me sentei no sofá e fiquei olhando para as minhas pernas que estavam nuas, pois a camiseta que ele havia me entregado ontem de noite só cobria até às metades das minhas coxas
-Ta com fome?- ele perguntou e eu balancei a cabeça em negação- Ta, eu vou dar um saída, você se vira aí, quando chegar vou trazer umas roupas pra você- ele sorri- por mais que você seja gostosa não dá pra ficar andando assim pela casa
Eu não respondi, continuei em silêncio, observei ele pegar sua carteira e a chave do carro e sair, após alguns minutos resolvi arrumar o quarto onde havia dormido, fui até lá e estiquei o lençol da cama, dobrei o edredom e ajeitei os travesseiros. Voltei a me deitar na cama, eu não sentia vontade de sair, comer ou até mesmo beber água, só queria ficar ali, no meu mundo, sozinha.
Eu, com meus 19 anos, já sentia que a vida não valia a pena, é horrível ser tão nova e achar que a vida não presta. Meu pai, o único homem em que eu pensei que nunca faria mal a mim, fez, e eu me sinto um objeto, suja e desprezível.
Eu sempre morei no morro, desde que nasci, mamãe teria um futuro brilhante como enfermeira, mas ela conheceu meu pai, e engravidou, ela veio morar com meu pai aqui na favela, ela tinha uma ótima vida fora daqui, mas ela preferiu ouvir o coração, minha mãe era loira, assim como eu, seus cabelos tinham cachos, e seus olhos eram negros, meu pai sempre disse que tinha medo daqueles olhos. Minha mãe faleceu a quatro anos, uma bala perdida, a atingiu enquanto voltada do serviço, de uma enfermeira ela se tornou empregada doméstica, eu sentia tanto orgulho dela, por lutar, e nunca desistir, ela era meu exemplo de mulher guerreira. Desde aquele dia eu tenho pavor de barulho de tiros, ou quando dizem que os "homens"-polícia- chegaram, tenho medo de ser a próxima e ser atingida por uma bala. Meu pai se tornou viciado, e começou a dever para a boca, e isso resultou nisso, eu, sozinha, dentro da casa de um traficante
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Amor De Traficante
Teen FictionAos 19 anos Lívia é submetida a sua pior experiência de vida, mas isso só deixou mais claro o quão forte ela é. Dada como uma forma de quitar uma dívida de seu pai, Lívia foi morar com um dos traficantes do Rio de janeiro. Um homem machista, agressi...