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-livia, livia- gritou Pê

-por que está gritando Pedro?- perguntei saindo do meu quarto

-vamos na pracinha- ele puxa meu braço

-não pê, estou esperando minha mae- respondi puxando meu braço de volta

-por favor Dengo- ele faz um biquinho

-ok, chato- revirei os olhos

Saímos da minha casa e fomos em direção a praça, tinha algumas crianças brincando nos balanços que havia ali, alguns vendedores ambulantes entre outras pessoas. Segundos depois consegui ouvi um barulho, era como um disparo

-OS HOMEM INVADIU- gritou um menino com um fuzil em punhos

Várias pessoas saíram correndo, vários outros disparam conseguia ouvir, aquilo era agonizante. Pedro me puxou para dentro de um mercadinho onde o dono fechou as portas, por mais que fosse uma ação comum da polícia, invadir o morro, aquilo era bem aterrorizante.

Minutos se passaram, e os tiros pararam, continuamos em silêncio. O senhorzinho abriu novamente as portas do comércio e eu pude ver uma multidão de pessoas em volta de algo, ou talvez alguém.

-sera que alguém foi atingido Pê?- perguntei

-vamos lá ver- ele me puxa em direção as pessoas

-vai lá você, não tenho coragem de olhar- ele assente com a cabeça e vai correndo até lá, fiquei esperando ele voltar.

Pedro saiu do meio da multidão, ele estava tão branco quanto uma folha de sulfite, era tão ruim assim ver um cadáver? Ele veio lentamente andando até mim, e segurou em minhas mãos

-Dengo- consegui ver a primeira lágrima escorrer em sua bochecha

-o que foi?- senti minhas mãos ficarem frias- me diz Pedro

-a pessoa que foi atingida...- ele respira fundo- é a tia Beth- ele diz e meu mundo para

-você está brincando comigo, não é?- mais lágrimas caem

Eu corri até lá, entrei no meio das pessoas e pude vê-la, minha mãe... Ela estava jogada ali, no asfalto quente, seu avental estava sujo de sangue, me aproximei lentamente e me ajoelhei ao seu lado

-mae?... Mamãe, por favor- sinto lágrimas molharem minhas bochechas- MÃE- eu gritei- POR FAVOR- sinto a mão de Pedro em meu ombro- ACORDA MAMÃE- minha visão fica embaçada, no meu coração não há mais sangue.

Minha mãe, minha jóia rara, ela está aqui, fria sob o chão, por que ela? Por que não uma pessoa ruim? Ela não merece... Muito menos eu. As pessoas já tinham se afastado, não tinha muitas pessoas em volta, algumas somente observava de longe, mamãe odiava ser observada

-vamos Lívia- Pedro tenta me levantar

-não encosta em mim- limpo as lágrimas que insistem em escorrer

Minhas mãos estavam sujas de sangue, eu só queria tirar essa bala de dentro dela, eu não sei quanta dor ela sentiu, não imagino qual foi seu último pensamento...

---

-Mãe- acordo e as lágrimas estão presentes em meus olhos

-você tá bem?- Caio que estava ao meu lado no sofá pergunta, nego com a cabeça e as lágrimas escorrem- não chora loirinha- ele me puxa para um abraço

-eu não consigo- me afastei dele- eu preciso ficar sozinha, desculpa- me levantei e me dirigi ao quarto

Me sentei na cama e limpei as lágrimas, por mais que eu esteja assustada não preciso ficar abraçada com ele, se quer quero vê-lo, talvez se não tivesse tráfico no morro, talvez a polícia não tivesse invadido aquele dia, mamãe ainda poderia estar viva.

-não culpe ninguém Lívia- faço um coque em meu cabelo- ninguém tem culpa

°°°

Tomei banho e me deitei, não sinto sono, então fiquei acordada durante toda a noite, consegui ver o sol nascer pela fresta da janela que havia deixado aberta para o ar entrar.

°°°

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