Capítulo X

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Beth observou a grande pilha de pedras mais uma vez, depositando uma cruz improvisada com alguns gravetos no alto dela. Ela tinha encontrado uma fotografia antiga do pai e posicionou o porta-retratos ali.

Várias outras pessoas importantes estavam ali também e ela sentiu uma saudade enorme do tempo em que todos estavam vivos, mesmo de Jimmy. Ela definitivamente não havia sido apaixonada por ele, mas Beth pensou que jamais encontraria outro garoto depois que aquela doença se espalhou. Ele era atencioso e seu pai gostava dele, entretanto, beijá-lo não despertava nenhum tipo de reação especial em Beth.

Perder pessoas agora era algo corriqueiro, mas ela sabia que por mais que tentasse seguir em frente, parte dela havia partido junto em cada uma das vezes.

Já havia voltado atrás sobre sua promessa de não chorar mais; era algo que ela fazia muito mais do que de costume nos últimos meses. Estava tão cansada...

Ela só queria que seu pai estivesse ali, ele saberia o que dizer. Era quase como se ela pudesse vê-lo, sentado ao seu lado com a bíblia na mão e um dos braços entorno dos seus ombros. "O plano de Deus é perfeito, minha menina", ele diria e, então, pediria para que ela cantasse uma das canções do coral da igreja que ele tanto gostava.

Mas aquilo não aconteceria. Ele sequer estava ali sob aquela pilha de pedras. Seu corpo foi abandonado ao relento na prisão. Se ela soubesse... se ela sequer cogitasse... Ele partiu seu um adeus e aquilo era doloroso demais. Justo ela, que sempre odiou dizer adeus, via-se arrependia por não tê-lo feito.

Aquele lugar era um cemitério. Sua mãe, Shawn, Otis, Sophia, Patrícia, Jimmy, Dale e agora seu pai. No começo pensava que tudo o que o grupo de Rick havia trazido consigo era morte, mas agora podia ver que o mundo se resumia simplesmente a isso.

Cansada até mesmo para chorar, Beth sentou-se no chão, entre a lápide improvisada de seu pai e sua mãe. Ela abraçou os joelhos e orou, pedindo para que, de onde quer que eles estivessem, cuidassem dela.

Ela não queria pensar sobre a noite anterior, mas Daryl não saía de seus pensamentos. Inconscientemente levou a mão aos seus lábios, como se ainda pudesse sentir o calor e o gosto. Ironicamente, a pessoa mais quebrada e escura que ela conhecia havia se tornado sua luz no fim do túnel.

Sentia-se horrível apenas por pensar na forma como tudo havia acabado. Ela não queria lembrar daquele homem sujo que havia lhe atacado, mas quando fechou os olhos e sentiu as mãos de Daryl aproximando-se de seu íntimo fora como se tudo voltasse à tona. O pavor que sentiu naquele dia foi como um balde água fria. Quando abriu os olhos novamente e pode ver que no local daquele homem estava Daryl, tudo o que pode fazer foi chorar.

Daryl estava observando Beth por um longo tempo antes de finalmente resolver se aproximar. Ela estava sentada no chão, as lágrimas correndo em seu rosto incontrolavelmente, as mãos apertando o peito como se aquilo pudesse aplacar a dor que sentia. Ele conhecia aquela expressão, tinha visto diversas vezes durante as noites em que passaram juntos após a queda da prisão. Ela sempre fazia aquilo quando pensava que Daryl não podia vê-la.

Havia pesado sua decisão por centenas de vezes antes de parar ali, mas Maggie tinha razão; tinha sido um inferno perdê-la, como se toda e qualquer esperança estivesse escapado como água entre seus dedos. Agora ela estava ali e ele precisava parar de agir como se não se importasse, porque sim, ele tinha toda a certeza do mundo que se importava com ela.

O medo ainda estava lá. Daryl estava cansado de perder pessoas e podia ver que ela também. Ele não queria que Beth fosse apenas mais uma lembrança como todos os outros que partiram antes dela. Ela era o único fio de esperança que mantinha o arqueiro de pé, não aceitaria perde-la de novo, não aceitaria não tê-la de novo.

Soft Heart [Bethyl] REESCREVENDO!Onde histórias criam vida. Descubra agora