Capítulo XII

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Era noite novamente e Daryl se via sem pregar os olhos. O único som além dos grilos e do eventual cacarejar das galinhas era o choro de Beth. Aquele som parecia ecoar em seus ouvidos, lembrando ele a cada momento que por mais que estivesse ao lado dela, esse era um tipo de trauma que ele dificilmente conseguiria apagar dos pensamentos dela.

O arqueiro se perguntava como Carol conseguia dormir naquele mesmo quarto. Talvez ela também não conseguisse, afinal, agora ele podia observá-la pelo canto de seus olhos zanzando pela cozinha com um copo d'água na mão.

— Você também não consegue, não é? — ela cochichou enquanto se aproximava dele e sentava-se no braço do sofá.

— Ela pelo menos está acordada? — ele respondeu com uma nova pergunta.

— Não. E não importa o que eu faça, ela simplesmente não acorda. E, quando finalmente acorda, ela evita falar sobre isso. — Você acha que tem algo a ver com aquilo em Shirewilt?

— Pela forma que ela se debate... Ela me derrubou no chão uma noite dessas quando tentei sacudí-la pelos ombros.

A expressão tensa de Carol era evidenciada pela fraca luz que vinha do abajur aceso em um dos cantos. Era claro que ela estava muito mais preocupada com o estado de Beth do que com uma boa noite de sono.

— Anda. Deita aqui e vê se dorme um pouco — Daryl indicou o colchonete onde deveria estar deitado.

— E você?

— Vou tentar fazer alguma coisa.

Beth já estava acordada quando Daryl chegou ao quarto que ela dividia com Carol. Ela se sentia uma inútil por não conseguir se controlar e sabia que Carol não dormia há várias noites. A loira se encolheu em uma bola e tentou secar as lágrimas rapidamente antes que Daryl sentasse na beirada da cama.

— Me desculpe se te acordei — ela murmurou com a voz embargada, sem encará-lo.

— Eu não dormi ainda.

— Sabe, Daryl, por mais que eu tente, simplesmente não consigo esquecer.

Ele se remexeu desconfortável na cama, sem saber exatamente o que dizer. Beth se esticou um pouco, torcendo-se para virar seu corpo na direção do homem. Hesitante, ele deitou na cama e ela se ajeitou no peito dele, fungando.

— Eu sinto as mãos nojentas dele por todos os lados. Quando eu fecho os olhos eu sinto a respiração quente e úmida dele nas minhas costas. O frio da lâmina na minha barriga, quando ele cortou as minhas roupas. Eu tento fugir, mas eu não consigo. Ele parece impossivelmente forte, eu me debato e grito em vão, porque ninguém está vindo.

— Chega. Por favor — Daryl pediu com a voz trêmula.

Ele sabia que ela precisa falar, mas ele não queria ouvir. Sentia raiva de si mesmo por não estar lá. Droga, ela estava do lado dele, dormindo, e ele não viu quando ela saiu.

Beth mordeu a língua com força e respirou fundo. Ela queria parar de chorar e seguir em frente, porém sempre que fechava os olhos voltava para aquele lugar. Havia passado por muitas coisas. No hospital, Gormann tinha tentado também, mas ela havia conseguido se livrar dele.

Ela sentiu a mão de Daryl hesitantemente pousar em seu cabelo, uma carícia desajeitada e tímida.

— Eu devia estar lá, mas eu não estava — Daryl resmungou e Beth quis encará-lo. A voz dele estava estranha, como se chorasse. Ele segurou sua cabeça bem firme contra o peito dele. — Eu não vou deixar nada te acontecer agora.

— Você não pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Eu fui estúpida em sair sozinha — ela protestou.

— Eu também não estava lá quando eles te levaram daquela casa.

Soft Heart [Bethyl] REESCREVENDO!Onde histórias criam vida. Descubra agora