Capítulo 13

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Alguns meses depois...

-Narra Leon-

Mais um dia de trabalho. Pelo menos, hoje é sexta-feira, e poderei ficar com minha família no final de semana. Chegando na empresa, gravo os vídeos, e mando para a edição. Não consegui me acostumar ainda com essa ideia de ter um editor trabalhando para mim. Sempre editei meus próprios vídeos, e agora tenho uma pessoa que faz esse trabalho. As edições que o editor faz, não ficam ruins, mas sinto falta de pegar o material bruto, e fazer praticamente tudo sozinho. Faço algumas finalizações nos vídeos, mas não é a mesma coisa que pegar o material e lapidá-lo da forma que você quer. Mas tenho que aceitar, pois agora tenho muito mais trabalho para fazer. A responsabilidade de ser um dos chefes da empresa, é muito grande, e muito cansativo também.

Em minha sala, recebo papéis e mais papéis de relatórios para analisar. Verifico e-mails, e tudo mais. O desempenho da empresa até que não está ruim. Estamos conseguindo, todo mês, fechar no azul. Durante o serviço, penso em chegar mais cedo em casa para fazer uma surpresa. Fazia um bom tempo que não fazia surpresas para a Nilce e para as crianças. Todo dia chego tarde, e as vezes até viro a noite na empresa, se é preciso. Mas dessa vez, essa ideia não quis sair da minha cabeça. Decidi chegar em casa uma hora mais cedo. Então, adiantei o máximo que pude na empresa, e mais tarde, rumei em direção a minha casa.

Faltava apenas quinze minutos para chegar em casa, mas, durante o trajeto, não me senti bem. Estava com algum pressentimento. Um pressentimento ruim. Nunca me senti desse jeito, tão tristonho, mas ignorei, e continuei a dirigir. Estacionei o carro na garagem, como sempre faço, e destranquei a porta da sala. Comecei a escutar gritos e mais gritos, que vinham do quarto. Achei muito estranho. Rumei em direção a porta, e ao abri-la, me deparei com uma cena horrível.

Não acreditei quando vi aquilo. Ao entrar no quarto, meus olhos começaram a ficar feridos com aquela cena. Ver minha esposa, minha querida mulher, espancando Zelda, uma criança, uma simples criança indefesa, me fazia ser o pior pai do mundo, o homem completamente irresponsável, por deixar acontecer aquela barbaridade.

— Nilce! O que está fazendo? — gritei com lágrimas em meus olhos.

Nilce virou-se, e olhou-me surpresa, por alguns segundos.

— Papai me ajuda! — exclamou Zelda chorando.

Corri e puxei Nilce pelo braço. Olhei bem no fundo de seus olhos.

— Por que fez isso? Por quê? — as lágrimas escorriam. Minha voz não saiu com autoridade alguma, só saiu com pura tristeza e indignação.

— Ela não me obedecia Leon! — disse ela com voz alterada.

— Mas precisava bater desse jeito na menina? — gritei com todas as minhas forças. — Eu tive a ideia de sair mais cedo, e quis fazer uma surpresa pra você e pras crianças. Mas acho que quem recebeu a surpresa aqui fui eu né? — esbravejei totalmente furioso.

Nilce assustou-se com minha reação. Ela não sabia se ficava séria, ou se chorava. Ao fundo, escutava-se o choro de Zelda.

— Zelda... Pode ir pro seu quarto. — falei e ela veio abraçar-me completamente desesperada e chorando de soluçar. — Calma princesa, o pai vai resolver isso tá?

Zelda apenas assentiu com a cabeça, e foi correndo para seu quarto. Nilce e eu ficamos frente a frente. Seu olhar tornou-se frio e ao mesmo tempo triste. Eu não sabia mais o que dizer. Ficamos em silêncio por alguns minutos.

— Me explique Nilce... Por que fez isso com a nossa filha? — a questionei.

— Eu... Eu... Não sei Leon. Não sei... — disse ela abaixando seu olhar.

— Nilce... — levantei seu rosto. — Por favor, não faça mais isso com nossa filha.

— Eu... Vou tentar. — respondeu ela.

— Eu só não vou te denunciar, porque quero resolver isso com diálogo. Não gosto de tomar decisões precipitadas. — respondi com voz trêmula. — Mais tarde nós conversamos. — e saí daquele quarto, totalmente indignado.

Fui ao quarto de Zelda e bati na porta.

— Quem é? — perguntou.

— Sou eu princesa. — respondi.

— Pode entrar.

E lá estava Zelda, soluçando.

— Viu o que a mamãe fez? — perguntou ela em meio aos soluços.

— Vi e isso é muito errado filha.

— Agora vou ficar com aquelas marcas de novo.

— De novo? Como assim? A sua mãe já tinha te batido antes?

— Já papai.

— Espera... Então aquelas manchas que apareceram em sua testa naquele dia, era a surra que você tinha levado?

— Sim. Mas eu não podia contar nada pra você, porque se eu ou os meninos contassem, a mamãe iria bater em nós. — falou ela aos prantos. — Ela sempre nos bateu, principalmente em mim, por causa das minhas travessuras. Acho que ela não me ama papai. Ela me odeia, me odeia!

— Minha princesa... Não diga isso. Ela ama você... — e a abraçei.

— Eu amo a mamãe, mas ela não me ama!

Zelda só chorava, me fazendo chorar também. Não acreditava no que estava acontecendo. Nilce já batia em nossos filhos, e eu não percebia. Me senti um completo imbecil. Nilce estava sabendo esconder muito bem as coisas. Mas ela é tão doce e gentil com as crianças e comigo. Preciso mesmo conversar com ela, pois isso está muito estranho.

Após o jantar, encarreguei-me de colocar as crianças para dormir, e tentar acalmá-las, dizendo que eu conversaria com a mãe deles à respeito dos maus tratos. Fui para o quarto, e Nilce já estava na cama.

— Vou tomar banho, e quando eu sair, teremos uma conversa séria. — disse.

— Ok. — respondeu ela.

Uma psicopata entre nós {COMPLETO}Onde histórias criam vida. Descubra agora