Capítulo 1

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*Narra Nilce*

Esse é um dia como qualquer outro. Leon sai para trabalhar, acordo meus filhos para tomarem café da manhã, depois eles almoçam, se arrumam, e vão para a escola. Fico arrumando a casa, e na maioria das vezes, só fico sentada no sofá, assistindo tv. Não sou daquelas mulheres "neuras", que ficam todo dia, limpando cada pedaço do chão. Não deixo de fazer minhas tarefas e obrigações, mas não sou perfeccionista. Não tenho amigas, por incrível que pareça. Quando era criança, tinha só umas duas amigas, e o resto, eram meninos, pois achava os meninos muito legais. Minha mãe chegou a ficar até preocupada com minhas amizades, pois não me via muito com meninas, e ficava com medo de que eu deixasse de ser feminina. Grande bobagem, mas, tudo bem... É minha mãe!

Na época em que ela trabalhava na secretaria da escola, ela fez questão de me apresentar duas meninas, uma mais velha que eu, e outra mais nova, filhas da inspetora, para fazer amizade e trocar "papéis de carta". Malditos papéis de carta... Tive que começar a colecionar por causa delas. No recreio, o tempo era de vinte minutos, e, cinco minutos, ficava com as meninas trocando os tais papéis de carta, e os outros quinze, jogava futebol com os meninos. Eu era simplesmente um moleque em um corpo de menina.

Fico lembrando esses momentos, e me dá muita saudade. Quando somos crianças, não temos responsabilidades e nem preocupações. Ainda bem que aproveitei, e muito, esses belos momentos enquanto podia. Paro de pensar em minhas lembranças para voltar ao trabalho, pois agora sou adulta, mãe, esposa e dona de casa. Dirijo-me a cozinha para começar pelo menos adiantar um pouco a janta, enquanto não dá o horário das crianças chegarem da escola, e, se Leon chegar, e o jantar não estiver pronto e com as crianças sentadas a mesa, vou escutar baboseira pelo resto da noite. O telefone sem fio, que está em cima do balcão nesse momento, começa a tocar, e eu atendo.

— Alô, meu bem?

— Sim. — respondo.

— Hoje não poderei chegar as oito, porque tenho muito trabalho a fazer aqui na empresa, e não posso deixar para amanhã. — explicou Leon.

— Ok. Pode ficar tranquilo.

— Desculpe meu bem... É que você sabe... Agora sou um dos chefes, e o trabalho e a responsabilidade aumentam cada vez mais.

— Sim, claro. Não fique assim meu amor, eu sei muito bem que você queria vir para jantar conosco. — falei.

— Então tá bom. Acredito que lá pras nove e meia ou dez horas estarei aí. — falou ele.

— Ok.

— Tá... Tenho que desligar. Tchau meu bem, te amo! — despediu-se ele.

— Tchau, também te amo!

E ele desligou. Agora com esse cargo na empresa, está um pouco difícil Leon estar com a família, mas, tanto eu, como meus filhos, sabem que esse é o trabalho dele, e ele têm que nos sustentar, e cuidar de nós. Não é toda vez que ele chega tarde do serviço, mas quando ele precisa ficar na empresa, ele fica, e sem reclamar. Tenho orgulho dele em ser assim, tão educado, paciente, tranquilo, a mansidão em pessoa. Ele sempre é muito amoroso comigo, e fica sempre ao meu lado quando pode. Isso me fez lembrar o dia do nascimento dos meus filhos. Leon teve toda a paciência do mundo em me aturar, e ficar ali, naquele quarto de cirurgia, ao meu lado segurando minha mão, enquanto eu dava gritos horríveis e escandalosos por causa das terríveis dores ao colocar meus filhos ao mundo. A alegria em ver os olhos de Leon brilhando e cheios de lágrimas, emocionado ao ver seus filhos, me invadia. Era uma alegria sem fim. Um momento épico e vitorioso, pois tinha vencido todas as complicações durante minha gestação. Leon foi um pai coruja e babão, e é até hoje. Ele trata muito bem nossos filhos, e principalmente a mim. Fico às vezes até um pouco envergonhada por não ter toda aquela paciência, e calma que ele tem, mas tenho meus motivos. Tenho muita sorte, pois Leon me compreende de todo o jeito, e isso me deixa muito feliz.

Olho para o relógio, e vejo que já está na hora de meus filhos chegarem da escola. Termino de fazer mais algumas coisas, e vou até a rua para esperar o ônibus da escola chegar. Após alguns minutos, o ônibus chega, e meus filhos aparecem. Mario vem correndo me abraçar, Luigi me abraça em seguida. Zelda se aproxima com um semblante preocupado e tenso. Conheço muito bem essa menina... Ela aprontou alguma coisa! De semblante feliz, mudei para semblante sério e frio.

— O que você fez Zelda? — perguntei secamente, e ela não disse uma palavra. — Bom... Vamos entrar e aí você me conta. — completei.

Entramos, e mandei Mario e Luigi irem tomar banho, e mandei Zelda ir para seu quarto e me esperar. Mas antes dos meninos irem, Mario me pediu uma coisa.

— Mãe...

— Sim...

— Por favor, não bata na Zelda. — disse ele com semblante e voz preocupados.

— Tá bom. — respondi fazendo pouco caso. — Agora já para o banho! — ordenei, e ele foi.

Chegando ao quarto de Zelda, bati na porta, e ela disse para entrar, com sua voz extremamente chorosa. Quando entrei, ela já estava com lágrimas em seus olhos e aflita.

— Ta... Explique-me o que aconteceu. — falei parando em frente a sua cama, e cruzando os braços.

— Levei uma suspensão. — respondeu ela chorando e com medo.

— SUSPENSÃO ZELDA?! — gritei revoltada. — Já perdi até as contas de quantas vezes você já foi suspensa... E agora qual foi o motivo? Colou chiclete no cabelo da diretora outra vez? Ou escondeu a prancheta da professora de Educação Física, como fez no mês passado? — disse extremamente revoltada e com total frieza. — FALA ZELDA!

— É... Os meninos e eu jogamos um balde de tinta azul na inspetora. — respondeu ela cabisbaixa e com medo.

— Não acredito que você fez isso Zelda. — falei colocando uma das mãos em meu rosto, inconformada.

— Foi sem querer mãe...

Me aproximei, e peguei em seu braço agressivamente, a fazendo chorar mais ainda.

— Você acha que foi sem querer Zelda? Acha que foi sem querer? — questionei dando vários chacoalhes.

— Ta doendo mãe! — resmungou Zelda chorando.

— É pra doer mesmo! — esbravejei olhando para o fundo de seus olhos.

Já estava preparada para pegar meu cinto, e bater forte, até Zelda ficar desacordada, mas lembrei que fui interrompida pelo pedido desesperado de Mario, para não bater em sua irmã.

— Você vai ficar de castigo, me ouviu bem?

Zelda apenas respondeu balançando sua cabeça positivamente.

— Eu só não te bato, porque Mario me pediu. — falei e soltei seu braço, que no momento, ficou roxo de tanto eu apertá-lo. — E não adianta dizer nada do que aconteceu aqui para o seu pai, pois você sabe o que acontece...

— Não vou contar nada. — respondeu ela soluçando.

— Muito bem. Agora me dê seu tablet. — falei estendendo a mão para pegá-lo, e ela entregou. — Um mês sem seu tablet.

— Mas...

— Nada de "mas"... É um mês sem jogar e ponto final! — exclamei irritada. — E também não vai sair de casa, nem para ir no mercadinho da esquina, e vai arrumar seu quarto também.

— Ta bom... — disse ela cabisbaixa e soluçando.

— Agora já para o banho! — ordenei.

Zelda obedeceu e foi tomar seu banho. A minha vontade era de espancá-la, como fiz em outras vezes, mas resolvi liberá-la dessa vez. O castigo já está de bom tamanho.

Uma psicopata entre nós {COMPLETO}Onde histórias criam vida. Descubra agora