1 - Fuga

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"Há uma lenda, de que um dia, existirá uma rainha que governaria sem coração. Ninguém hesitaria seu comando. Todos seriam tão gratos à Rainha."

- Lendas de Uma Pedra Sem Fim

A vida na vila Mendorya estava longe de ser perfeita. Os ninlinheiros plantavam e colhiam seus vegetais chorosos através de energia que percorria por seus corpos. Dahlia observou a mulher mais velha, em torno de cento e vinte e dois anos. Seu rosto era marcado pelas duas linhas de energia que poderiam girar em torno de cinquenta por cento. Um ponto a mais e ela poderia ter uma vida de luxo, ou pior, trabalhando para o Rei.

Dahlia terminou de limpar a tampa de lixo e tirou a bandana suja do rosto suado. O Sol de Mandorya estava queimando a sua pele, e a menina decidiu colocar sua jaqueta feita de trapos, mesmo que isso a fritasse por dentro.

Dahlia observou a mulher novamente. Será que um dia chegaria a cento e vinte e dois anos? Ela riu de sua própria interrogação. Coçou a cabeça quente e tentou tirar a franja minúscula da testa. Suspirando, ela notou uma pequena multidão correr do outro armazém.

Roubo. A garota se levantou bruscamente e sentiu a arma coçar dentro de sua jaqueta. Roubos ficavam cada vez mais frequentes na Aldeia e muitos já decidiram fechar suas lojas por tempo indeterminado. Ela se sentia mal por isso. Não gostava de quanto os aldeões ficassem à mercê desses infratores de merda.

A jovem saiu da tenda de seu ferro velho, com um pedaço de madeira em mãos. Não era a melhor arma, mas ela tinha lá seus truques. Não podia mostrar a faca que estava emperrada em seu sutiã. Seus punhos tremiam agarrado ao pedaço de arma improvisada. Ela não iria bater, apenas assustar. Com passos lentos, ela se se aproximou dos meninos que tentavam arrancar um saco de frutas da mão de uma mulher de meia-idade. Pessoas e poeira tomavam conta da visão de Dahlia. Dois meninos correram e restou apenas um. Com um ataque surpresa, ela bateu na canela do menino que se desequilibrou e caiu no chão. Ele usava uma máscara e Dahlia já havia visto algo assim antes. No quarto de seu irmão.

O coração de Dahlia e bateu mais rápido e o tempo desacelerou. Ela piscou algumas vezes e se agachou para tirar a máscara. O céu pareceu escurecer diante deles e tudo o que menina sentira foi decepção. Indignada, recuou três passos.

Peter estava branco como cera. Ele não falou nada. As pessoas tinham voltado a suas vidas normais e a mulher do tomate desaparecera no mesmo instante em que Dahlia havia chegado para "salvar o dia". Peter tentou falar algo, mas sua irmã não quis ouvir. Estava cansada e estava prestes a chorar na frente de todas aquelas pessoas e a culpa era toda dele. Dahlia tinha certa noção de que ninguém iria ligar se ela estava chorando ou não, mas mesmo assim ela se importava. Detestava mostrar suas fraquezas ao público.

− Me siga. Agora - disse Dahlia, com as palavras duras, sem um pingo de açúcar e Peter se levantou, esparramando areia para todo o canto. Desajeitado, conseguiu se erguer depois de três tentativas falhas. Suas faces estavam coradas e o cabelo, preto e liso, lhe tampava o rosto.

Os dois começaram a andar e Dahlia comemorou por dentro, por nenhum segurança ter aparecido. Geralmente, eles apareciam três vezes por ano, apenas para ganharem salários ainda maiores. Inúteis Regenciais.

− Eu não queria...

− Cale a boca, Peter. Aqui não. Podem nos ouvir.

Esconder Peter dos Regentes era uma tarefa árdua e perigosa. Peter era um menino travesso para a idade. Ele gostava de se infiltrar nas mais coisas mais aventurosas, trazendo com si problemas que no final, era Dahlia quem resolvia.

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