2 - Casamento

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"O amor assustou a jovem. Ela nunca se sentira tão frágil!"

- A ilusão do amor, diversos autores.

Romena colocou a tiara de três faixas peroladas sobre a cabeça e escovou os cabelos pela vigésima vez. As ajudantes prendiam adornos de ouro sobre seu vestido branco aveludado. A menina sorriu com sua aparência no espelho enorme de seu quarto. Não sabia o porquê de seu pai ter lhe dito para que se arrumasse com as mais belas joias e que estivesse às oito horas em ponto na mesa de jantar, pois tinha uma surpresa para sua filha, a herdeira.

Romena quase tinha uma ideia, mas não queria que fosse verdade. Desde criança alertava aos pais de que ou governaria sozinha, ou governaria com um homem que ela amasse verdadeiramente, mesmo achando que talvez nunca fosse encontrá-lo, já que raramente saía do castelo. Eles sempre diziam que apoiariam as suas decisões e ela acreditava. Eles sempre foram verdadeiros com ela, e não seria um noivado que romperia esse sentimento de confiança.

Mas no fundo, Romena já estava cansada e empurrou a sensação de traição para fora. Era difícil, pois ela era herdeira. Ela não seria livre como sua irmã mais nova, Yara. Yara era o espírito da liberdade no reino de Altyra. Saia quando queria e dizia o que lhe dessa vontade. Romena, um dia, já desejou a vida de Yara. Pacífica, livre. A princesa mostrava apenas cinco por cento de si nas apresentações da Corte. A herdeira desejada. A bela menina que tomaria o Reino de Altyra em breve.

Uma mentira.

− Alteza? – Disse uma das criadas. Romena não percebeu que estava encarando as flores rosas do outro lado da janela. Ela sorriu para a mulher.

- Acompanhe-me, Mandy. Seja o que for, se desmaiarei, espero que me segure.

Mandy, a criada, riu com a piada de descontração da princesa. Romena foi na frente, passando pelo largo corredor azulado, enfeitado com flores silvestres e várias pinturas que a própria princesa fazia. Ela sentia orgulho de si quando pintava; diferente de quando atuava para a sua Aldeia, seu Reino. Tocou em suas linhas de energia, tentando se acalmar.

Mandy estava calada atrás dela, seguindo os passos silenciosos da menina. Romena passou a mão pelo corrimão da escada, e sentiu uma pressão na barriga. Nervosismo. Inseriu um sorriso falso no rosto e desceu as escadas, com a mão firme apoiada no corrimão para lhe dar sustento. Ela sabia que não aguentaria aquele sorriso por muito tempo. Respirou fundo e seguiu seu caminho até a sala de jantar principal.

Ela olhou para trás. Tentou captar algo pelo olhar carinhoso de Mandy, então ela soube. Mandy queria protegê-la seja lá daquilo que estivesse conversando com seus pais na sala de jantar. Aliás, fora Mandy quem cuidara realmente de Romena quando era criança. Os pais viviam ausentes pelo trabalho e praticamente não tinham tempo para as filhas.

Os únicos momentos que Romena tinha com seus pais, eram quando eles faziam viagens pelas Terras de Altyra. Apenas eles.

− Que os Cosmos a protejam, minha querida. Que o amor vença. Não se esqueça disso – disse Mandy. Romena abaixou os olhos, para que a criada não a visse chorar. Nem mesmo ela sabia o motivo para tanto alvoroço.

Os guardas estavam vigiando a grande porta arabescada. Ela assentiu e eles abriram.

Romena observou primeiramente os pais. O Rei Rax e a Rainha Lizandra estavam com os rostos pálidos, com medo do que a filha poderia fazer. Lizandra estava com o cabelo loiro firme sobre os grampos. Nenhuma ruga sob a pele perfeita. A Rainha Intacta.

Então, desviando o olhar do de sua mãe, Romena olhou para o rapaz que estava ao lado e o reconheceu imediatamente. Seu peito arfou e sua boca escancarou um bocado. Denver Onyrius. Ele deu um sorriso malicioso em direção à princesa e ajeitou o casaco vermelho de veludo.

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