5 - Sorte

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" As gotas caíram uma a uma. Gotas de sangue. Nada a incomodou. Nada incomodava."

- O diário traduzido de Katherine Lidell

Dahlia gritou com Aedan. E gritou mais um pouco. Às vezes o garoto tinha a capacidade de tirá-la do sério, com a mesma facilidade de Peter, porém, de um jeito mais enfadonho. O tolo achava que ela tinha todas as respostas do mundo, e mais um pouco. Ela olhou em volta, percebendo o número de pessoas diminuírem, assim que se afastavam da área comercial. A energia de Dahlia se remexia dentro de si, querendo se esvair, mas a menina a puxava para dentro novamente.

O tempo estava nublado e até um pouco frio. Aedan - que por um milagre - estava quieto e apenas observava o lugar com cautela, como se uma armadilha fosse cair aos seus pés. Dahlia queria lembrá-lo que ali era um lugar pacífico, mas ficou reparando no rosto incognoscível do menino, que estava olhando para a areia acinzentada do chão. Ela o viu franzir o cenho, e no momento em que ele a encarou, Dahlia virou o rosto para o lado, com as faces coradas.

− Aqui é tão cinza.

Ela não o esperava dizer outra coisa. Com certeza não esperava. Era normal alguém dar cor a um lugar, mas até ela absorver o sentindo da frase, já havia se passado minutos.

− Fazer o que, não é?

− Por que vocês são tão... Maltratados?

− Esquecidos. Maltratados é um termo muito feio, amigo - ela riu com a própria palavra que a definia muito bem. - É por que somos o país menos privilegiado. Nós temos a natureza como base de nosso sustento, mas também recebemos, pouco, mas recebemos algumas coisas dos outros Reinos vizinhos.

− Por que o menos privilegiado?

− Plantas. Quem liga pra isso hoje em dia?

− A Natureza é um dos principais elementos Terra, eu acho.

− Ela é um elemento Terra, idiota. O problema é o nosso governante. Ele não nos valoriza muito por conta de nosso exército. Não é forte o bastante e por conta disso, ele ignora os problemas de nosso povo - ela deu de ombros como se não importasse. Bem, Dahlia não se importava mesmo.

A jovem havia estacionado a carça perto de uma mercearia, encostadas com outras carças mais inundas ainda. Aedan olhou com curiosidade para aquele meio de transporte. Os que ele usava, pelo que se lembrava, eram algo mais amplo e espaçoso, com direito a um teto.

Mas aquilo... Era um tanto assassino, sem nenhum tipo de segurança. Ele imaginou Dahlia sentada ali, indo para vários lugares sentindo a doce liberdade na ponta da língua. Ele, por um instante, sentiu inveja da vida da garota.

Dahlia amava aquilo. Aquela sujeira pela fuligem, os barulhos da engrenagem funcionando. Ela sorriu, observando seu velho amigo fugitivo.

− Eaí, Steve - ela bateu no triângulo central e várias opções de energia apareceram.

Aedan ficou com uma expressão interrogativa.

− É o nome dele - ela explicou. Ela devia ser muito solitária, pensou Aedan.

− Vamos fazer um passeio? - Ele perguntou, incrédulo com a possibilidade.

− Eu já falei que vamos, ora. Não me amole.

Ela era realmente difícil.

Dahlia estava quase montando na carça, quando um homem esbarrou em seu ombro. Ela quase caiu para frente. Aedan observou as feições da menina, mudarem de tranquilidade para raiva. Tão instantâneo, que ele recuou.

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