4 - Temor

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"Tudo pode voltar ao normal novamente. Se um dia, eles acordarem, todos os outros dormirão em paz."

- Ezra Verner e os Contos de Uma Pedra Sem Fim

Dahlia já havia terminado a sopa. Peter comia como se fosse a melhor refeição do mundo, mas a fome era sim. Ela enganava as pessoas. Assim como Dahlia engava grande parte de Mendorya. Enquanto Aedan tomava o seu banho da beleza, a menina observava o seu irmão mais novo comer.

− Vai engasgar, moleque. Eu não cortei em pedaços tão pequenos assim...

Peter rolou os olhos, acostumado com o comentário.

− Eu estou com fome – ele mastigou mais um pouco e disse − Por que não temperou?

− Eu estou sem energia para isso e você nunca fez nada perto de mim. Como sua numeração pode ser tão alta se você é um preguiçoso? – Ela brincou. Sabia que não podia ficar gastando a energia do irmão, por medo dos Regentes. Eles poderiam capturar Peter por ele ser tão forte.

− Pelo menos eu posso usar para atrair as garotas.

− Ver para crer.

− Você é chata.

Um cheiro delicioso invadiu a sala, onde os irmãos comiam e discutiam. Ela olhou para o lado, tentando descobrir se aquilo era um tipo de pegadinha, até que viu os olhos castanhos amendoados de Aedan, que havia acabado de sair do banheiro. Aedan estava... diferente. Talvez por que estivesse seminu em sua frente e sem aquela barba horrorosa de antes. Mas algo mais a atraiu... Aedan estava usando um perfume estranhamente comum. Ela piscou e olhou para Peter, que se recusava a olhar para ela.

− Você fez isso?

− Você não estava em casa. Usei minhas habilidades para criar o sabão.

− Não deveria ter feito isso. Por que o fez?

− Porque você quase nunca me deixa criar as coisas, então não amola!

Aedan sempre chegava ao momento errado. Aqueles irmãos só discutiam e ele não tinha paciência para ouvir a baboseira deles. Respirou fundo, enquanto assistia Dahlia praticamente babar por ele.

− Que cheiro delicioso é esse?

Ou pelo perfume dele.

− Eu encontrei no chão do seu banheiro. Pensei que tinha percebido...

Ela não tomava banho?

Dahlia raramente tomava banho, por que raramente ficava em casa. Ela chegava exausta e saía cedo para catar lixo e ir direto para tenda. Geralmente, os cheiros dos sabões eram mais fracos, mas aquele... Aquele foi o cheiro mais delicioso que ela já sentira. Ela ficou com raiva de Peter.

Dahlia virou-se lentamente em direção ao irmão, que ainda comia desesperadamente. Ele a encarou como se dissesse "o que foi?".

− Quero matar você! – ela falou para Peter.

− Deixe-me terminar de comer, então você me mata. Quero morrer feliz.

Dahlia se virou novamente para Aedan, que a encarava de volta, com o cenho franzido. Ela era um pouco porquinha.

− Eu usei aquelas suas folhas de altrão para tirar a barba – avisou.

Aquelas folhas foram um milagre na vida de Aedan. Sua barba coçava, pinicava e lhe dava uma aparência não tão apresentável. Ele encontrou aquelas folhas próximo ao espelho do banheiro e esfregou contra a pele, até os pelos caírem. Realmente um milagre.

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