6 - Charme

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"Era uma vez, um menino e uma menina que se apaixonaram. De reinos distintos, eles se entregaram. Uma peste, uma aberração, algo apareceu. E ao menino, o mostro comeu!"

- Contos de Fadas 

Quando Aedan chegou a casa, ele estava exausto. Peter estava deitado no estofado, dormindo. Dahlia foi até ele e lhe deu um beijo na bochecha. Ela estava claramente cansada, ele conseguia ver por seus olhos que pareciam tão antigos...

− Preciso falar com você - ela sussurrou. A casa estava escura. Ela pegou uma lamparina e mandou Aedan a seguir.

Os dois se sentaram na varanda. Dahlia limpou rapidamente as unhas na calça e olhou para Aedan, que havia esticado as pernas. Ela olhou para ele rapidamente, de uma maneira tímida, mas logo uma expressão dura assumiu seu rosto.

− Conte a sua história de merda - ela falou. Simples, direta e rápida. Aedan quis rir da sua própria situação.

− Eu contaria se eu soubesse.

− Não estou de graça, garoto. Conte logo ou será despachado ao amanhecer.

Aedan a odiava. Odiava aquele mundo, por que com certeza, ninguém o intenderia. Um pobre coitado que poderia muito bem se fingir de louco para roubar e sumir com os pertences no dia seguinte, sem deixar rastros.

Ele riu amarguradamente.

− Não acredita em mim, não é? - Ele perguntou.

− Não. O que você quer com Peter?

− Não quero nada com seu irmão. Eu só quero um lugar para morar temporariamente.

Dahlia esfregou as têmporas. Por que ele mentia? Quem aparecia do nada, sem saber de onde é? O que ele queria com sua família? Ela queria chorar por infelizmente, acreditar nele. Por que seus olhos tinham de ser tão sinceros?

Ela detestava confiar nas pessoas.

− Uma noite. É tudo o que você tem - ela falou. As palavras eram pesadas até mesmo para ela.

Aedan olhou para ela, orgulhoso, não disse nada. Apenas a encarou, com um profundo suspiro. Ele assentiu e entrou.

− Fique com o quarto de Peter, já que ele tomou a sala para si - ela sussurrou e continuou sentada com a lamparina acesa, encarando o nada.

− Você está bem? - Ele perguntou com receio. Ela estava pálida e não piscou nenhuma vez. A jovem fechou os olhos.

− Vá.

E Aedan foi. O quarto de Peter estava com uma placa escrita "meninas não entram". Ele soltou uma risada abafada e entrou no cômodo escuro. Avistou a cama iluminada pela lua. As cortinas balançavam suavemente pelo vento e Aedan se deitou, apreciando cada centímetro. Era melhor do que dormir no chão cheio de galhos e folhas, com certeza.

Ele fechou os olhos e pensou em Dahlia, sozinha, estática na varanda. Olhando para o vazio.

Ela era um pouco paranoica.

O rapaz se virou novamente e chutou as cobertas para fora, sentando-se. O quarto de Peter era um pouco deprimente, pois tinha roupas em um canto e uma escrivaninha de madeira com alguns papéis.

Não havia foto. Apenas papeis em branco.

Aedan parou de analisar o pobre quarto de Peter. Agora ele podia compreender por que o garoto fora tão imprudente. Ele queria dinheiro para construir algo em sua vida, mesmo que o roubo não fosse o caminho correto. Ele estava desesperado para mudar de vida. A sua vida e a vida de sua irmã mais velha.

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