Eu estava deitada na areia da praia. O sol estava escaldante hoje. Mantive meus olhos fechados e o corpo esticado. Meus cabelos se misturavam com a areia, destacando-se. Minha pele exageradamente branca se camuflava com a cor da areia. A única coisa que destacava era as pintas pelo meu corpo. Talvez eu esteja exagerando, mas sim, eu era muito branca.
Passei a mão pela areia e peguei um pouco, soltando logo em seguida.
O barulho que as ondas faziam quando se desmanchavam na beira da praia, era como música para meus ouvidos. Me acalmava. Parecia que as coisas estavam indo bem. O vento bagunçava meu cabelo. Virei o rosto de lado e vi Alef e Meggie juntos.
Ela estava deitada na areia e Alef por cima. Eles riam, algumas vezes ela colocava a mão no rosto dele e dava um beijo rápido em seus lábios. O sorriso que estampava na cara de Alef era contagioso. Ele era um garoto maravilhoso. Eu só esperava que Meggie soubesse o que estava fazendo. Ela era conhecida por ser inconstante, hora queria aquilo, hora desistia.
Heitor estava no mar. Ele agitava os braços para o alto me chamando. A praia era pequena, nas pontas tinha pedras enormes. Algumas pessoas costumavam pular dali. Eu nunca havia feito isso, tinha medo. Mas hoje eu estava sentindo uma descarga de adrenalina em meu corpo. Levantei. Caminhei em direção ao mar.
A onda batia em meus pés, fazendo com que eu me arrepiasse. Estava gelada. Não pensei duas vezes e corri e me joguei no meio de uma onda, quebrando-a. A água gelada deu um choque em minha pele quente. Uma sensação deliciosa. Nadei em direção a Heitor. Ficamos em silêncio apenas apreciando o mar.
-Estava pensando em pular da pedra hoje! – comentei.
-Tem certeza? Eu já pulei uma vez, tem que ter muito cuidado. Não é algo que eu repetiria. - ele parecia preocupado.
-Não tenho. - eu ri.- Apenas quero experimentar essa sensação. Quero voar!
-Ora essa... Viaje de avião. Não precisa tentar se matar!
Eu sorri e nadei em direção a areia. Fui caminhando em direção a pedra. Cheguei perto do caminho que fora feito por moradores locais. Para subir no topo era preciso caminhar um pouco pelo mato que ali tinha. Era um caminho fácil, porém cansativo. Eu estava descalça, por isso meu pé ficava queimando a medida que eu consegui subir. Pelo caminho tinha placas de madeira pregadas em algumas árvores com dicas de como pular.
• Corra, pegue impulso e pule o mais fundo que puder. (caso não fizesse isso, você bateria nas pedras e morreria.) Animador, não acha?
• Não mergulhe de cabeça.
• Não mergulhe de barriga.
• Tampe o nariz.
• Não morra.
Certo... Eu estava apavorada, mas eu precisava sentir isso. Continuei a subir e finalmente cheguei ao topo. Não era tão alto quanto eu imaginei, e isso me deixou mais tranquila. Eu conseguia ver cada um que estava na pequena praia, mas não distinguir quem era quem. Eu podia ver onde Alef e Meggie estavam. Fui para a ponta da pedra e olhei para baixo. As ondas batiam nas pedras com certa revolta. Acho que a sensação de tranquilidade havia sumido. Recuei alguns passos e respirei fundo algumas vezes. Olhei para a praia e vi alguém acenar com os braços e tentando gritar alguma coisa. Franzi a testa. Recuei mais um pouco e criei coragem. Peguei impulso e comecei a correr em direção ao precipício.
Eu gritei, mas gritei muito. Não senti mais meus pés na pedra e a sensação de cair rapidamente se apoderou de mim. Mantive meus olhos bem fechados e circulei as pernas com o braço. Eu continuava a gritar. O vento batia forte em meu rosto, fazendo com que meu cabelo ricocheteasse. Parecia uma eternidade essa queda. Eu não ousei abrir os olhos, eu iria me desesperar. Senti o impacto do meu corpo no mar e afundei... Afundei... Continuei de olhos fechados e comecei a me rebater para conseguir subir para a superfície.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Café, livros e cigarros.
RomanceUma doce garota de dezessete anos comum, com problemas comuns. Criou seu próprio mundo e nele se trancou. Sem pai, somente na companhia de uma mãe com sérios problemas com o álcool. Se refugiou na biblioteca de sua pequena cidade e ninguém se...