Imagine-se em uma rede de mentiras.
Imagine-se descobrindo quem sua família é através de cartas de uma estranha.
Eu segurava os papeis em minhas mãos e encarava o nada. Minhas pernas estavam cruzadas e minhas costas apoiada na cabeceira da cama. A única coisa que eu tinha em mente era saber o que realmente aconteceu com essa história toda recém-descoberta.
Se tem alguém que estava se sentindo enganada e traída, essa pessoa seria eu. Eu não conheço mais nada ao meu redor. Conseguia me sentir uma leitora de minha própria vida.
Ouvi o barulho da porta do meu quarto abrir e encarei minha mãe, que entrava sorrateiramente e com cautela.
-Ainda está chateada comigo? – perguntou na defensiva.
-Estou decepcionada. Poderia ter me contado tudo isso, não sou criança!-bufei e guardei as cartas dentro da caixinha.
Minha mãe veio em minha direção a sentou-se à minha frente, na beirada da cama. Segurou em suas mãos uma foto antiga e sorriu.
-Sabe... Eu me lembro como era essa época. Seu pai era encantador e conseguia a garota que quisesse. – ela sorriu abertamente e suspirou, olhou-me me meus olhos.- Não sei o que aconteceu com ele. Tudo mudou algumas semanas antes do acidente.
Me remexi inquieta e me inclinei em sua direção.
-Você acha possam ter feito algo? – praticamente sussurrei.
-Não posso afirmar nada... Nem eu sei o que aconteceu realmente.- ela guardou a foto novamente dentro da caixa e levantou da cama. – Não sinta raiva dele... Ele movia o mundo por você, Elize! –sorriu docemente e saiu de meu quarto do mesmo modo que entrou. Silenciosa e cautelosa.
O que eu poderia dizer sobre o que se passava em minha mente? Milhões de suposições. Eu queria saber o que realmente aconteceu. Queria saber o porquê Janie Corben me odiava tanto se nada fiz a ela.
Era ressentimento por eu ser a filha legítima? Por meu pai ter escolhido minha mãe? Ela era capaz de tentar algo contra?
Não duvidava de nada vindo de ninguém.
Mas eu iria confronta-la.
Eu merecia a verdade.
Levantei da cama apressada e vesti uma roupa mais adequada. Ajeitei meus cabelos em um rabo de cavalo e joguei a caixinha com todas as cartas e fotos dentro da bolsa. Eu iria confrontar. Não me importa se eu fosse tratada como maluca ou surtada.
Peguei meu celular e disquei o número de Cadu. Ele falou que estaria nessa por mim, certo?
-Está tudo bem? –sua voz soava preocupada.
-Você poderia me buscar? Estou em casa... Te explico quando chegar.- desliguei o celular e sai do meu quarto apressada.
Desci as escadas do meu apartamento rapidamente e fui para a calçada, sentando no meio fio e a espera de Cadu. Eu mordia a parte interna da minha bochecha, o que era sinal de puro nervosismo.
O que eu falaria?
"Oi, eu estou aqui para saber o porquê de ter escondido que Madson é minha irmã. E, ah.... Por acaso você tem algo a ver com a morte do meu pai?"
Suspirei e passei as mãos em meu rosto.
Ouvi o barulho de carro e olhei para a rua. Carlos Eduardo dirigia rapidamente e logo estava com o carro parado a minha frente. Levantei e entrei pela porta do carona.
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Café, livros e cigarros.
RomanceUma doce garota de dezessete anos comum, com problemas comuns. Criou seu próprio mundo e nele se trancou. Sem pai, somente na companhia de uma mãe com sérios problemas com o álcool. Se refugiou na biblioteca de sua pequena cidade e ninguém se...