Sabe quando você sente que seu coração está prestes a explodir? Quando o sentimento quente e de satisfação toma posse de todo o seu ser... Não digo apenas pelo fato de Cadu ter me levado as nuvens... Mas, eu conseguia ter mais certeza do que eu queria, do quanto eu queria ele. Eu conseguia saber onde eu deveria estar. Com quem eu deveria estar.
Não havia mais dúvidas.
Cadu me deixou em meu apartamento, se despedindo com um beijo quente em meus lábios.
Eu abri a porta e minha mãe estava em casa. Ela vestia um pijama preto e seus longos cabelos ruivos estavam emaranhados. Sentava no chão perto da mesinha da tv, suas costas sacudiam. Ela estava chorando.
-Mãe...-apressei meus passos em sua direção e abracei por trás.
Em suas mãos estava um retrato de meu pai e nós duas juntas. Estávamos tão felizes nessa foto... Fora tirada no dia que eles voltaram comigo da maternidade. Eu, uma pequena bolinha branca com tufos de cabelos ruivos e imensos olhos verdes. Minha mãe e seus longos cabelos ruivos e um sorriso estonteante em seus lábios. Meu pai encarava a mim e a minha mãe com paixão em suas duas esmeraldas brilhantes.
-Eu sinto tanta a sua falta, Tom... – ela fungou e esfregou um de seus olhos.
Meu coração apertou. Um nó na minha garganta se formou.
Minha mãe me encarou com seus olhos escuros. Estavam tão vermelhos e inchados.
-Eu me sinto tão culpada, minha filha... Foi tudo por causa de uma briga estúpida! –ela voltou a encarar a foto.
Abracei ela fortemente.
-Não se culpe... Não se destrua assim.- não tinha reparado que meus olhos estavam molhados, apenas quando minha visão ficou turva. Minha mãe me encarou docemente e acariciou minha face com uma de suas mãos. Eu conseguia ver a minha antiga mãe nesse momento, aquela doce pessoa...
-Você tem os olhos dele... Tão parecidos. É como olhar para um fantasma todos os dias. – ela suspirou e sorriu tristemente.
Fiquei sem o que falar para ela. Prendi a respiração e o nó em minha garganta se intensificou. Deus sabe o quanto foi duro para nós duas essa perca... O quanto lutamos para nos mantermos firmes. Com alguns deslizes aqui e outro lá, mas sempre estávamos apoiadas uma a outra.
Tentei sorrir para encoraja-la a melhorar, mas fora em vão.
-Ele está olhando por nós, mãe... Ele sempre me dizia que não iria embora tão fácil, que até se ele morresse sua presença em espírito permaneceria por nós. – funguei e segurei na mão de minha mãe.
-Às vezes posso jurar que chegarei em casa e ele estará aqui junto a ti. – ela pôs a foto em cima da mesinha.
Confesso sentir o mesmo. Apesar de já fazer um tempo, a dor de uma perda tão grande nunca se dissipa, apenas ameniza e se torna mais suportável. Aprendemos a conviver com ela lado a lado, sem nos permitir cair. Não importa o quanto doa, você tem sempre que erguer a cabeça e enfrentar. Não podemos fraquejar.
○•○
Heitor estava louco atrás de mim. Queria respostas para meus comportamentos estranhos. Eu estava tentando fugir de suas tentativas de abordagens. Desde a festa da cidade ele me ligava exigindo respostas. Combinei com ele de me encontrar na biblioteca da cidade.
Eu me encontrava sentada na mesinha de sempre, batia o pé impacientemente. Olhei o relógio e Heitor estava atrasado quinze minutos. Isso por que ele queria muito saber o que acontecia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Café, livros e cigarros.
Storie d'amoreUma doce garota de dezessete anos comum, com problemas comuns. Criou seu próprio mundo e nele se trancou. Sem pai, somente na companhia de uma mãe com sérios problemas com o álcool. Se refugiou na biblioteca de sua pequena cidade e ninguém se...