Capítulo 21

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O dia estava extremamente calmo. Ninguém nem direcionou qualquer palavra para mim. As pessoas a minha volta estavam calmas. Era tudo estranho. Por dentro eu me sentia conturbada, em guerra. Não sabia o que pensar, o que fazer e como agir. Eu não conseguia entender o que se passava em minha luta interna. Eu estava com medo. Muito medo.

- Para essa nova matéria, quero que todos leiam O cortiço. Uma das melhores obras que podemos observar o naturalismo. – ele escreveu com sua letra perfeita no quadro e eu apenas copiava. – Já comentei com vocês o que é naturalismo, e não se esqueçam que a perspectiva evolucionista é o que inspirava os naturalistas.- ele falava com paixão em seus olhos. – E para a semana que vem, quero um resumo sobre o livro que pedi para lerem, na perspectiva de vocês! Nada de copiar de outros lugares!

Alguns resmungos tomaram conta da sala. Eu apenas dei de ombros, afinal, eu já tinha lido esse livro, não seria um problema. Olhei para meu querido professor e sorri abertamente por dentro.

Eu já comentei como ele estava maravilhoso hoje? E que, por conta disso, algumas alunas se atiravam descaradamente em cima dele?

Se eu pudesse, puxaria cada uma pelos cabelos para longe dele.

O horário do intervalo chegou, e eu comecei a arrumar minha bolsa lentamente e com calma. Metade da turma já tinha corrido para fora da sala de aula, e foi ficando cada vez mais vazia. Terminei de arrumar minha bolsa e me arrastei para ir embora da sala quando as mãos fortes de Cadu me puxaram para dentro rapidamente. Olhei assustada em volta para ver se alguém tinha visto. Ninguém notou qualquer coisa estranha, cada um seguia seu rumo distraidamente. Carlos Eduardo fechou a porta da sala e eu encostei minhas costas na mesma. Encarei-o com dúvida.

-Achei que éramos para sermos discretos... Isso não é nada discreto! – eu sussurrei. Ele me olhava preocupado.

-Fiquei sabendo que foi presa por furto em loja. Quer me contar algo? – ele apoiou uma de suas mãos perto de minha cabeça, inclinando seu corpo em minha direção.

Pisquei rapidamente.

Com ele assim tão próximo era difícil eu conseguir formular qualquer frase.

-Eu não roubei nada! Foi culpa da sua ex obsessiva compulsiva! – eu sentia a raiva voltar a tomar conta de mim só em lembrar no episódio infeliz no shopping.

Cadu arregalou os olhos e se afastou de mim.

-Ela fez o que? – ele passou as mãos no rosto e suspirou pesadamente. – Ela está passando dos limites... Terei que ter uma conversa muito série com essa maluca! – ele murmurava sozinho.

No momento eu não consegui me importar tanto com esse assunto, minha cabeça só passava uma coisa: Que éramos um caso, não um namoro sério.

Futilidade?

Talvez...

Ele se aproximou novamente de mim, apoiando sua mão no mesmo lugar, com a outra ele encostou a ponta dos dedos em minha testa. Seus olhos estavam doces e um sorriso bobo tomava conta de seus lábios.

-Por que enruga sua testa? – ele perguntou.

Nem havia reparado que eu estava deixando transparecer qualquer coisa.

-Somos um caso? – fui direta em minha pergunta. Ele olhou-me confuso e surpreso.

-Como assim um caso? – ele continuava a passear a ponta de seus dedos pela minha testa. Minhas mãos estavam agarradas em minha bolsa. Era uma cena cômica, uma pobre e doce garota sendo encurralada por sua perdição, pronta para devorá-la.

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