Estávamos sentados na mesa que ficava na parte em que a parede era de vidro e conseguíamos ver a rua. O lugar estava lotado e metade das pessoas ali eram conhecidas. Era um restaurante pequeno e popular, mas era um dos meus favoritos. Fiquei feliz por ele acertar nessa escolha. As mesas eram de madeira e cobertas por um pano xadrez, o mesmo com nossas cadeiras. Um restaurante todo feito em madeira e serviam a melhor pizza da região.
A garçonete mascava seu chiclete e segurava seu bloquinho em branco. Estampava um sorriso em seus lábios e encarava Matt, esquecendo de que eu era a acompanhante. Quase perguntei se ela queria trocar de lugar comigo.
-Eu gostaria de uma pizza portuguesa, por favor. E duas cervejas. - Matt fechou o cardápio e entregou para a moça. Ela virou as costas e sumiu entre as pessoas.
Batuquei os dedos na mesa, mordia o interior da minha bochecha. Isso era um sinal de impaciência, falta do que falar. Ele não tirava o sorriso da cara.
Sua mandíbula não doía não?!
-Então... –eu comecei.
-O que você gosta de fazer? – ele perguntou apoiando o cotovelo na mesa e apoiando o queixo na mão.
-Depende... Normalmente gosto de ler, de ir para praia.
-Legal... Eu também gosto de praia, principalmente de pular daquela pedra que tem.
-Eu pulei esses dias.
-Sério? Não são todas as garotas que tem coragem. O que você achou? –ele estava surpreso. Legal.
-Achei maneiro... Uma sensação de liberdade...
-É como voar. Acho que é melhor que voar de asa delta.
-Você já voou nisso? –arqueei as sobrancelhas.
-Sim, todo fim-de-semana subo as montanhas com o pessoal e praticamos.
Confesso que fiquei surpresa. Eu tinha medo de altura, mas sempre quis poder fazer isso.
-Isso deve ser... Mágico!- eu disse bastante animada. Ele se inclinou mais para perto de mim e piscou os olhos tentando mostrar seu charme.
-Quem sabe na próxima eu não te levo... - um sorriso para terminar a frase.
-Quem sabe... - eu disse me inclinando também e sorri.- O que seus pais pensam disso?
-Sinceramente? Eles pouco ligam para o que faço, até se estou vivo. –ele voltou a sua postura normal e deu de ombros. –Meu pai se importa mais com a bebida dele e minha mãe com sua aparência.
-Sinto muito... Sei como é isso. Minha mãe também é assim, na verdade ela é os dois ao mesmo tempo! – eu conseguia entender o porquê que ele fazia tantas loucuras. Não tinha pai nem mãe que o guiasse. A minha sorte era ter meus livros, eles me impediam de cometer esses erros.
Alguns deles...
-Sinto muito também... Isso é uma merda mesmo!- ele virou o rosto e encarou a rua.
Por menor que seja, eu senti uma vontade de conhecê-lo melhor. Talvez eu o tenha julgado cedo demais, e sem saber seus motivos. Quem era eu para dizer algo sobre sua vida?
A garçonete retornou com nosso pedido e parecia que seu peito tinha aumentado no decote. Revirei os olhos.
-Obrigada, já pode se retirar!- ele disse enquanto abria a lata de cerveja e me servia.
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Café, livros e cigarros.
RomantikUma doce garota de dezessete anos comum, com problemas comuns. Criou seu próprio mundo e nele se trancou. Sem pai, somente na companhia de uma mãe com sérios problemas com o álcool. Se refugiou na biblioteca de sua pequena cidade e ninguém se...