Capítulo 10

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Estávamos sentados na mesa que ficava na parte em que a parede era de vidro e conseguíamos ver a rua. O lugar estava lotado e metade das pessoas ali eram conhecidas. Era um restaurante pequeno e popular, mas era um dos meus favoritos. Fiquei feliz por ele acertar nessa escolha. As mesas eram de madeira e cobertas por um pano xadrez, o mesmo com nossas cadeiras. Um restaurante todo feito em madeira e serviam a melhor pizza da região.

A garçonete mascava seu chiclete e segurava seu bloquinho em branco. Estampava um sorriso em seus lábios e encarava Matt, esquecendo de que eu era a acompanhante. Quase perguntei se ela queria trocar de lugar comigo.

-Eu gostaria de uma pizza portuguesa, por favor. E duas cervejas. - Matt fechou o cardápio e entregou para a moça. Ela virou as costas e sumiu entre as pessoas.

Batuquei os dedos na mesa, mordia o interior da minha bochecha. Isso era um sinal de impaciência, falta do que falar. Ele não tirava o sorriso da cara.

Sua mandíbula não doía não?!

-Então... –eu comecei.

-O que você gosta de fazer? – ele perguntou apoiando o cotovelo na mesa e apoiando o queixo na mão.

-Depende... Normalmente gosto de ler, de ir para praia.

-Legal... Eu também gosto de praia, principalmente de pular daquela pedra que tem.

-Eu pulei esses dias.

-Sério? Não são todas as garotas que tem coragem. O que você achou? –ele estava surpreso. Legal.

-Achei maneiro... Uma sensação de liberdade...

-É como voar. Acho que é melhor que voar de asa delta.

-Você já voou nisso? –arqueei as sobrancelhas.

-Sim, todo fim-de-semana subo as montanhas com o pessoal e praticamos.

Confesso que fiquei surpresa. Eu tinha medo de altura, mas sempre quis poder fazer isso.

-Isso deve ser... Mágico!- eu disse bastante animada. Ele se inclinou mais para perto de mim e piscou os olhos tentando mostrar seu charme.

-Quem sabe na próxima eu não te levo... - um sorriso para terminar a frase.

-Quem sabe... - eu disse me inclinando também e sorri.- O que seus pais pensam disso?

-Sinceramente? Eles pouco ligam para o que faço, até se estou vivo. –ele voltou a sua postura normal e deu de ombros. –Meu pai se importa mais com a bebida dele e minha mãe com sua aparência.

-Sinto muito... Sei como é isso. Minha mãe também é assim, na verdade ela é os dois ao mesmo tempo! – eu conseguia entender o porquê que ele fazia tantas loucuras. Não tinha pai nem mãe que o guiasse. A minha sorte era ter meus livros, eles me impediam de cometer esses erros.

Alguns deles...

-Sinto muito também... Isso é uma merda mesmo!- ele virou o rosto e encarou a rua.

Por menor que seja, eu senti uma vontade de conhecê-lo melhor. Talvez eu o tenha julgado cedo demais, e sem saber seus motivos. Quem era eu para dizer algo sobre sua vida?

A garçonete retornou com nosso pedido e parecia que seu peito tinha aumentado no decote. Revirei os olhos.

-Obrigada, já pode se retirar!- ele disse enquanto abria a lata de cerveja e me servia.

Café, livros e cigarros.Onde histórias criam vida. Descubra agora