O caminho até minha casa eu não falei um "ai" com Carlos Eduardo. Conversei com sua mãe naturalmente, mas como ele, ignorei ao máximo. E ele percebeu isso. E na sua face eu via as confusões se entrelaçando. Eu não queria entrar na vida dele com ele ainda com uma história pendente. Não tinha como comparar entre nós duas; ela era mulher, e eu... Apenas uma garota de dezessete anos que mal sabe o que fará da vida.
Eu estava deitada em minha cama pensando no que fazer. Tentava bolar planos que pudessem der certo dessa vez. Mas, parecia que tudo que eu tentava, tudo que eu encostava... Destruía.
Decidi, por fim, fazer o que eu sabia de melhor. Levantar a bunda da cama e ir até a livraria. Pelo menos lá eu teria paz por alguns minutos. Vesti rapidamente um casaco de moletom e uma calça jeans surrada. Peguei meu celular quase inutilizável e sai do meu apartamento rumo ao paraíso.
Primeira coisa que fiz quando cheguei foi comprar um copo de café bem quente, o tempo nublado pedia isso. Sentei na parte de fora da biblioteca e acendia meu cigarro enquanto bebia lentamente meu café. Hoje, o livro que me acompanhava era Alice No País Das Maravilhas. Era um dos livros que meu pai costumava ler para mim quando pequena. Eu tinha uma paixão descomunal por essa obra.
Ali estava Alice, parada e a observar qual o caminho certo a percorrer. E era assim que eu me sentia.
Parada.
Não conseguia definir mais nada.
Talvez eu seja muito dramática, e leve tudo para o lado tão pessoal.
Uma mão encostou em meu ombro. Olhei para trás assustada.
-Olá sobrinha do Carlos. — aquela mulher novamente. Maldito encosto.
-Hum... Olá! — fui totalmente indiferente a sua presença. Virei para frente novamente e continuei a fumar e beber meu café. Ouvi ela bufar.
-Não tem ninguém sentado aqui certo? — ela apontava para a cadeira ao meu lado. Olhei para ela como se avisasse que nem tentasse fazer isso. — Ou está esperando alguém... em especial? — ela arqueou uma sobrancelha.
Sério mesmo?
Qual era meu propósito de vir para a biblioteca? Ter paz...
O inferno me perseguia até aqui...
-Tanto faz... Não sou dona da cadeira, sente se quiser — dei de ombros.
Annabel se sentou ao meu lado e direcionou seu corpo para mim.
-De que parte da família? — ela estava tentando me intimidar.
-Acho que não escutou quando te disseram que nem tudo é da sua conta. — apenas sorri cinicamente.
Ela abriu a boca para protestar. Olhou-me com raiva e encostou suas costas na cadeira. Ela realmente estava tentando me intimidar... Sem sucesso.
-Você sabe o que significa namorar uma aluna... E menor de idade?- ela foi direto ao ponto. Um frio percorreu minha espinha.
Era tão obvio assim?
-Sim... Mas isso não é referente a mim e a ele. — eu tentei desconversar. Não queria tocar nesse assunto, muito menos com essa mulher.
-Ah... É sim! Você não acha que não notei o modo que olha para ele? — ela se inclinou até perto de mim e riu. — Você me lembra eu mesma quando me apaixonei por ele... Tão cega... Que é capaz de mover o mundo se ele te pedir.
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Café, livros e cigarros.
RomanceUma doce garota de dezessete anos comum, com problemas comuns. Criou seu próprio mundo e nele se trancou. Sem pai, somente na companhia de uma mãe com sérios problemas com o álcool. Se refugiou na biblioteca de sua pequena cidade e ninguém se...