Com a festa chegando, fui obrigada a ir ao shopping com Heitor, o que era mil vezes mais preocupante do que sair com qualquer outra pessoa. Ele me fez entrar em todas as lojas possíveis e vestir milhares de roupas. Estávamos na ultima loja, eu espero. Era um pouco chique para mim, mas estava em liquidação.
Escolhi um vestido tomara que caia rodado todo florido. Peguei um salto alto bege e levei para o gabinete de provas de roupa. Eu não tinha muito peito, então o tomara que caia estava propício a cair de verdade. Abri a cortina e fui andando para perto de Heitor.
-Como estou?
-Ai meu deus... Se eu fosse mulher eu usaria esse vestido! - ele estava animado e pegou o celular para tirar uma foto. -Anda, faz uma pose!
Segurei as pontas do vestido e fiz reverência. Ele tirou uma foto e riu.
-Solte o seu cabelo!
Desfiz o nó e sacudi a cabeça fazendo com que meu cabelo ficasse rebelde. Eu ria e Heitor tirava fotos. Quando parei vi que tinha mais alguém me encarando. Um par de olhos escuros me encarava e sorria.
O que o professor fazia por aqui?
Sorri timidamente e acenei. Quando ele ia acenar uma morena extremamente linda foi até ele e segurou sua mão. Eles conversavam e ela saiu da loja, ele foi atrás dela, mas antes acenou para mim e sumiu pelas ruas.
-Nossa... Que roupa era aquela? Deve ser rica! - Heitor ainda olhava para onde, antes, estavam os dois.
-Deve ser namorada dele! - eu dei de ombros e fui trocar de roupa.
-Vamos logo, ainda tenho que arrumar um par para você ir à festa!
-Eu não preciso de um par. Deixa de ser chato, Heitor! - bufei e levei o vestido para o caixa. Paguei tudo no cartão e fomos a caminho da biblioteca. Me despedi de Heitor e entrei no prédio.
Acenei para os seguranças e fui até o balcão entregar o livro. Fiquei conversando um pouco com a senhora que me atendeu e fui para as estantes escolher outro livro. Caminhava entre as estantes cantarolando, passava as pontas dos dedos pelos livros. Hora ou outra parava para ler o primeiro capítulo de algum. Optei por pegar um clássico brasileiro: Dom Casmurro de Machado de Assis.
○•○
Sexta-feira.
Eu estava um pouco adiantada, fiquei esperando o pátio encher um pouco mais. Nada dos meus amigos chegarem. Resolvi ir para a sala sozinha mesmo. Caminhei enquanto ouvia música com meu fone, abri a porta da minha sala e o professor já estava lá arrumando alguns papéis na mesa. Ele estava um pouco adiantado, faltavam quinze minutos para começar o primeiro tempo. Ele não tinha notado minha presença, também estava de fone de ouvido. Ele rabiscava alguns papeis e sua testa franzia algumas vezes.
Acho que eu tinha sido um pouco rude com ele no dia do campo, então decidi me desculpar. Peguei na minha bolsa um cigarro e fui caminhando até a mesa dele. Estendi o cigarro na direção dele e ele olhou primeiro para minha mão estendida e acompanhou até meu rosto. Sorri gentilmente. Retiramos o fone de ouvido ao mesmo tempo. Ele me olhava curioso, coçou o queixo e arqueou uma sobrancelha.
-Um pedido de desculpas por ter sido um pouco rude com você!
Acho que o peguei de surpresa, ele pegou o cigarro que ofereci.
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Café, livros e cigarros.
RomanceUma doce garota de dezessete anos comum, com problemas comuns. Criou seu próprio mundo e nele se trancou. Sem pai, somente na companhia de uma mãe com sérios problemas com o álcool. Se refugiou na biblioteca de sua pequena cidade e ninguém se...