Unpack Your Heart

Broken

A semana de Mabelle havia sido péssima.

Não tinha acontecido nada necessariamente ruim. As aulas com as crianças ocorreram tranquilamente - se você  considerar ficar correndo atrás de vinte crianças durante uma manhã inteira como sinônimo de tranquilidade - e tendo feito sua apresentação da pós- graduação com sucesso, em tese, tudo deveria estar bem.

Mas todos os dias, quando se pegava observando as coisas por tempo demais - o formato peculiar de algumas casas, ou o reflexo do sol na àgua - Mabelle sentia o pânico lhe invadir.

Não conseguia imaginar que dali a algumas semanas não mais veria o sol da manhã de Dortmund. Ou o sorriso de seus pequeninos lhe chamando de ' tante' Mabel. Ou Marco resmungando enquanto assistia aos jogos com ela lhe chamando de pé-frio.

Mabelle se sentia suja. Uma traidora. Uma covarde. De alguma forma tinha deixado o tempo correr, não conversara com o namorado. Nem sabia se Marco iria querer que as coisas fosse pra frente, já que estavam juntos à pouco tempo. Todos conheciam a dificuldade de um relacionamento à distância.
Ela não tinha planejado nada, no fim das contas. Não sabia como contaria isso ao namorado. Contar só ia deixar as coisas definitivas. Ela ainda não estava pronta pra abrir mão de Marco.

Ela estava em sua casa naquele dia, sentada em sua cama, olhando absorta para a passagem em suas mãos. Enquanto Marco treinava, sem sequer desconfiar que a pessoa com quem dividia a última fatia de pizza iria embora dali a algumas semanas. No notebook esquecido no chão, estavam as palavras que ela queria lhe dizer naquele que era o dia do seu aniversário. Ainda era cedo, e ela tinha decidido mandar a mensagem quando ele menos esperasse.

Sentia o peso lhe consumir, sabia que isso não ia acabar bem. Mas teria que acabar de qualquer jeito. Era inevitável. Ela não pediria pra continuar. Sabia que seria complicado demais. Ela temia qual seria a reação dele. Torcia para que ele fosse compreensivo.

Mas será que ele entenderia quando ela disse que o estava deixando? Quando explicasse que tinha algo mais importante do que ele?

Mabelle tentava esconder essa confusão, mas era quase impossível ultimamente. As conversas não fluíam, Mabelle não conseguia disfarçar a tristeza, mas dizia que era a saudade. O que não era uma mentira.

Marco parecia diferente também. Mais rígido. Sem muitas brincadeiras.
E dizia que era por conta dos treinos, que estava tendo dificuldade.

Mabelle não sabia o que fazer. Em algum momento teria que falar com ele. Só não queira que fosse por telefone.

Seu telefone tocou e o nome de Marco apareceu na tela.

Imediatamente um sorriso substituiu sua expressão preocupada.

- Bom- dia! Como está? Como... - ela falou subitamente animada.

- Mabelle?  Sou eu, Mário. Mário Gotze - uma voz grave lhe cumprimentou.

Mabelle instantaneamente sentiu um frio percorrer sua espinha.

- Mário? Onde está o Marco? Aconteceu alguma coisa? - Mabelle disparou, o cenho franzido de preocupação de novo.

- Presta atenção, não tenho muito tempo. Eu peguei o celular do Marco escondido para te ligar. Não tenho boas notícias - a voz dele já baixa, foi sumindo, como se pra deixar claro que nada estava bem.

Mabelle suspirou.

- Estou ouvindo.

- Marco se lesionou. Seis meses fora de campo - Mabelle podia sentir a mistura de tristeza e raiva na voz do melhor amigo do namorado.