NOVE. Que Joguinho É Esse?

589 41 23
                                    

Medeia deixou aquele lugar. De repente ela foi tomada por um grande enjoo. Enjoada pelo cheiro do chão podre, os homens sujos. Enjoada pela imagem da sua filha seminua cantando e dançando e sendo agarrada.

Ela esperou. Duas horas, três horas. Esperou encostada a uma árvore de tronco grosso e morto mais a frente, até que Isadora saiu usando um sobretudo cor creme. Ela imediatamente viu a mãe. Muito surpresa ela caminhou até ela. Seu queixo tremeu, o choro tomou toda a face de Isadora e então ela caiu de joelhos bem aos pés de sua mãe.

- Me perdoa mãe – Isadora chorou pedindo e agarrou as pernas de Medeia, abraçou. – Eu fui um monstro, não era eu.

Logo Medeia não sabia o que fazer e então apenas tremia. Tentava manter o rosto de mãe dura, implacável, mas estremecia por dentro.

- Me tira desse lugar, mãe. Eu nunca quis estar aqui. É o inferno aqui. Me salva. Me leva de volta com você. Por favor.

- Você... Você se deita com aqueles homens? Eles...? – Medeia finalmente conseguiu coragem para dizer as palavras.

- Nunca. Nunca! Eles são desprezíveis. Eu dancei e me apresentei por todos esses dias para ter o que comer, um teto pra me proteger – e Isadora levantou. Segurou os ombros de sua mãe agora e olhava no fundo de seus olhos enquanto falava com a sua voz chorosa e as suas bochechas molhadas de lágrimas. A chuva havia parado. – Em toda a minha vida eu ainda não me deitei com homem nenhum, mãe... E eu mudei. Por favor, acredita que eu mudei. Me dá uma segunda chance. Eu amo você, eu amo.

Medeia não conseguiu manter a sua dura fachada mais. Ela agarrou a sua filha em um grande e apertado abraço de mãe ursa protetora e deixou que a emoção a dominasse também. A sensação que tinha era de reencontrar a sua filha após anos distante e não apenas as três semanas que passaram. Era como tê-la como um bebê que havia acabado de deixar o seu interior novamente.

- Oh, minha pequena. Vamos, vamos sair daqui.

Quando Medeia chegou segurando a mão de Isadora naquele ponto onde o seu carro se encontrava, Joel estava lá encostado ao capô, braços cruzados, usando apenas calça, seu peitoral definido exposto e uma expressão zangada.

- Eu acredito que deveria ter avisado antes que ele estaria...

- Está tudo bem, mãe. Eu já não disse que mudei? – Isadora a interrompeu dizendo.

- Eu não acredito no que vejo. Então concluiu o seu plano louco? Achou mesmo esse projeto de coisa ruim, esse rascunho do capeta e a trouxe com você.

- Você olha essa sua boca de cafajeste de quinta quando fala da minha filha – Medeia brigou e disse ao mesmo tempo em que já batia a palma de sua mão contra a boca de Joel, empurrava a cabeça dele para trás.

- Mãe, não. Não! Deixa as brigas e a violência no passado. Deixa – Isadora interveio segurando e afastando Medeia do conflito. – Então ele vai com a gente?

- E só porque eu sou uma mulher de palavra. Tudo isso foi um trato feito. Eu pedi a ajuda dele para encontrar você e não posso deixá-lo no meio desse buraco.

- Vamos logo – Foi tudo o que Isadora pediu e foi a primeira a entrar no carro.

Medeia dirigia, Joel sentava ao seu lado e Isadora no banco de trás. Naquele preciso momento o carro percorria a perigosa estrada estreita que ficava naquela parte altíssima, formando praticamente um precipício com o rio de correnteza selvagem lá embaixo, vários metros abaixo.

- Eu só gostaria de esclarecer isso. Só para saber – Isadora recomeçou quebrando o silêncio que já dominava o interior do carro há muitos minutos. – Ele apenas veio com você para ajudar na busca por mim ou vocês estão oficialmente juntos agora? Quero dizer, um casal ou...

O Jardineiro AmadoOnde histórias criam vida. Descubra agora