DEZOITO. Sabia Que Eu Te Odeio?

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CAPÍTULO FINAL DA FASE DOIS - Encontre informações sobre a fase três (a última fase de "O Jardineiro Amado") no capítulo que segue este. 

O barulho da porta desabando foi ouvido de imediato por todos.

Antes que Isadora pudesse deixar o quartinho para ver o que acontecia, Joel entrou naquele lugar onde Medeia era torturada e ele agiu por instinto. Ao ver o pé ensanguentado de Medeia com o dedão cortado fora (a cama ensanguentada) e a enorme tesoura na mão de Neto, ele pulou sobre o ex-marido de Medeia, o atingiu com tudo.

Os dois homens alcançaram o chão. Joel, por cima de Neto, começou a socar o rosto dele. De novo, de novo. Neto largou a tesoura de jardinagem e Joel socava tanto o seu olho direito, que logo inchou e fechou, se tornou vermelho.

- Se finge logo de morto para parar de apanhar, seu idiota! Aprende a perder! – Isadora gritava para o seu pai.

Depois de bater até cansar, Joel levantou, puxou Isadora pelo braço e a jogou por cima de sua mãe na cama.

- Agora desamarra a tua mãe, sua piranha – Joel ordenou – Vai ficar tudo bem, meu amor. Agora vai ficar tudo bem. Eu estou aqui – ele dizia para Medeia, que chorava, enquanto ela seguia sendo desamarrada por Isadora.

Quando estava totalmente livre, Medeia fez o movimento para se jogar nos braços de seu amado Joel, mas nesse instante Neto se levantou e a agarrou. Ele manteve Medeia imobilizada cruzando o seu braço pelo pescoço dela e apontou para a sua cabeça o revólver que ele escondia por todo aquele tempo.

- Se afasta seu pirocudo de merda! – Neto gritou com apenas um olho aberto. – Ficou surdo?! Mete o pé! Cai fora. Abre passagem. Eu vou me mandar daqui com a sua vadia. Sai do caminho ou explodo os miolos dela aqui mesmo e você vai ver um monte de pedacinhos de cerebrozinho esparramados pelas paredes. SAI!

Joel não teve alternativa a não ser se afastar, ir para o lado liberando a passagem da porta e Neto saiu levando Medeia.

- Você incentivou tudo isso! – Joel acusou berrando e puxou Isadora pelo braço de novo.

- Ui! Cuidado. Se você for bruto assim, eu me apaixono de novo – Isadora disse e irritado, Joel a jogou longe, saiu correndo atrás de Neto e Medeia.

Isadora pegou o seu bebê e saiu correndo atrás de todos.

Neto corria e ia puxando Medeia pela mão.

Joel acelerou os passos da sua corrida. Mais, mais, então ele pulou, lançou todo o seu corpo como se mergulhasse e caiu por cima de Neto.

Medeia rolou para longe. Neto e Joel se embolavam a beira do pântano preto e Neto lutava para atirar enquanto Joel segurava para cima aquela mão dela que segurava o revólver, impedindo.

Então aconteceu. Eles rolaram para dentro do pântano preto e aquele era a pior parte do pântano que poderiam ter alcançado, porque ali a lama era movediça. Afundavam e lutavam pela posse do revólver. Afundavam e lutavam. Então afundaram por completo. Isadora e Medeia, apreensivas, não os viram mais.

POW! O revólver foi disparado lá embaixo, lá no fundo da lama. Vitória! Joel foi aquele que voltou a superfície, com o corpo, o rosto todo tingindo de preto, de lama. Medeia ignorou a dor no seu pé mutilado e correu para ajudá-lo, estendeu a mão e o puxou para fora, para a terra firme.

Então um monte de lama preta foi lançada para o alto porque Neto subiu também. Ele tinha o revólver na mão.

- Me ajuda Isadora. Me ajuda minha filha. Eu não vou conseguir mexer os pés por mais tempo. Me puxa pra terra. Eu tenho o revólver, eu vou atirar nos dois, eu vou matar os dois. É o que você quer também! – Neto a pediu.

- Escute a sua consciência, Isadora. É o seu destino. Você pode mudar o seu destino. Faça a escolha certa – Medeia a disse abraçada a Joel.

Então Isadora o fez. Primeiro ela ameaçou estender a mão para o pai, mas logo em seguida meteu um chute na cabeça dele e o fez afundar para sempre.

- Agora me dê o bebê – Medeia a disse.

- Jogue-a no pântano junto com o pai! – Joel se intrometeu. – Ela não vai mudar, não vai mudar nunca. Ela precisa morrer para que a gente tenha paz!

- Para Joel! Ela vai me entregar o bebê e vai tomar o rumo dela. Não é o que você vai fazer, Isadora? Em paz. Você não quer que o seu bebê sofra, não quer que eu sofra.

- Me chama de "filha" – calmamente Isadora a pediu.

- Minha filha.

Então Isadora riu. Bastante. Mas em contrapartida uma lágrima escapou de seu olho esquerdo mesmo assim.

- Ai, te odeio mamãe. Sabia disso? – Ela perguntou. – Eu te odeio pra caralho.

E quando terminou de dizer Isadora jogou o seu bebê dentro do pântano como alguém que dispensava um saco de produtos.

Medeia se jogou no pântano para salvar o seu neto sem pensar e Isadora correu floresta à dentro. Fugiu sem ser mais vista.

Joel puxou Medeia que agora tinha o bebê que chorava muito em seus braços. Os três, inteiramente cobertos de lama preta e pegajosa se abraçaram, bem apertado e caíram ajoelhados chorando todos juntos.

Noemi dirigia, o seu marido ao seu lado. Eles já chegavam próximo ao centro da cidadezinha rural. Noemi não havia aguentado mais esperar por notícias de Medeia que nunca chegavam enquanto o seu mau pressentimento só crescia.

Enquanto ela estacionava em frente à pequena farmácia de remédios naturais, o seu marido começou a correr a mão por sua pena, subindo. Sabia que ela não usava calcinha por debaixo de sua saia.

- Dá um tempo cara! Está pior do que aqueles hamsters que ficam roçando na gente – Noemi disse e saiu do carro.

Algumas pessoas logo se aproximaram.

- Com licença. Eu estou procurando por...

Mas Noemi logo entendeu que a pequena aglomeração de pessoas que ia se formando, se juntando olhava para algo mais distante e ela se virou para olhar naquela direção também. Lá vinha Joel e Medeia com o bebê. Cobertos de lama preta, exaustos.

- O quê? Mas o quê? – Noemi nem sabia por onde começar e muito menos eles.

UM MÊS DEPOIS

Que tarde linda. Céu claro. Poucas nuvens a vista. Medeia havia retornado para a casa grande de dois andares que foi a sua primeira moradia quando ela se mudou para o campo. Não se preocupava com as memórias de tudo de ruim que havia vivido ali porque agora só o feliz futuro a importava. Ela estava no jardim da frente plantando mudas de rosas brancas junto com Joel. Como sempre ele se distraia. Logo largava as mudas e começava a beijar os ombros dela, o pescoço.

- Para, o Ulisses está bem aqui – Medeia disse sorrindo.

- E daí? Ele é só um bebê. Um lindo bebezão que ainda não entende nada disso que estamos prestes a fazer.

Medeia retirou o bebê de dentro do berço feito de palha trançada em formato de cestinha. Ulisses. O nome que ela havia escolhido para o seu neto. O bebê gordinho tinha o seu bracinho engessado. Havia quebrado quando foi atirado dentro do pântano por sua mãe Isadora.

Joel beijou Ulisses na testa, depois beijou Medeia na testa, abraçou os dois e juntos eles observaram as rosas, porque de repente, eram as coisas mais lindas de todo o mundo.  

  

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