DEZ. Sem Camisa Em Um Cemitério?

496 36 19
                                    

UM ANO DEPOIS

A cama era confortável. Muito confortável. Medeia acordava. 7 horas da manhã em ponto. Ela poderia dormir mais. Não haviam compromissos para o dia, ela estava livre. Mas não conseguia passar mais tempo deitada ali ao lado dele. Logo ele.

Medeia se levantou. Sua camisola preta era transparente e provocativa. O homem que despertou junto com ela era Simão. Grisalho, 49 anos (sendo assim 10 anos mais velho do que ela), empresário do ramo de hotéis, exageradamente rico. Medeia e Simão estavam em um relacionamento há 4 meses.

- Não. Não vá – Simão a pediu como um menino que lamenta.

- É preciso.

- Não diga. Não essa palavra. "Preciso". Você sabe que não precisa. Eu sei que você não precisa.

- Culpe os meus pais – Medeia disse terminando de vestir sua roupa. – Pelo pouco que me lembro foram eles que me ensinaram enquanto eu crescia que não é bom passar tempo demais na casa dos outros.

- Pois eu tenho notícias para você. Eu não sou "os outros". Eu sou seu. Só seu – E Simão puxou Medeia para perto dele.

Medeia já estava completamente vestida e até já segura sua grande bolsa marrom de couro, pronta para partir. Simão usava apenas cueca branca. Ele era calvo. Grisalho e calvo. Peitoral flácido, mamilos que apontavam para baixo. Sua bunda era pequena e quadrada. Tinha uma tímida pança. Ele abaixou a sua cueca. Tinha pelos grisalhos na área do seu pênis também, seu pênis rosado e molengo que ele balançava para ela agora.

- Chupe.

- Ah, Simão. Dá um tempo – Medeia resmungou.

- Vamos. Você disse que gosta. Você mentiu? – Simão quis saber.

- Eu gosto. Às vezes. Mas definitivamente não às 7 da manhã quando eu já estou praticamente com o pé na porta pronta para ir.

- Vá – e ele sorriu. – Vá. Está tudo bem. Temos tempo. Todo o tempo. Pressa e impaciência são para os jovens idiotas que ainda não sabem o que é a vida. Não concorda?

- Por que você continua com essa ameixa seca de bunda branca? – Noemi perguntou para Medeia mais tarde, sem rodeios.

Era a noite delas. Noemi e Medeia. As melhores amigas. Simão tinha a sua cobertura luxuosa, Medeia tinha o seu apartamento modesto e ela não pretendia morar junto com mais ninguém ou se casar com ninguém. Por isso ela tinha o seu próprio espaço e Noemi passava muitas noites com ela por lá. Elas cozinhavam alguma pasta, enchiam as suas taças de vinhos e conversavam sobre homens, sobre a louca vida. Era o que faziam em mais aquela noite.

- Bom, eu continuo com o Simão porque... – Medeia tentava responder Noemi.

- Vamos ver... Não é porque ele te faz rir, não é porque ele é um cavalo selvagem na cama que te faz delirar, então... É por que ele é rico e tem casas até no Havaí?

- Quem você pensa que eu sou, sua vadia? Uma jovenzinha que precisa dar para moleques do colégio por uns trocados para poder pagar a sua assinatura da Netflix ao fim do mês? Eu tenho o meu dinheiro.

- O dinheiro dos seus pais, você quer dizer. Seus pais de quem você nem gosta.

- Uso a herança deles mesmo. E daí? Eles me causaram traumas que ficaram bloqueados aqui na minha cabeça de tão ferrados que foram... Usufruir do dinheiro deles é o mínimo que posso fazer – Medeia disse e bebeu mais vinho.

- Isso. Vá em frente. É a sua vida. Não trabalhe. Não termine o seu namoro com o coroa que enfia a vara molenga em você e acha que está sendo o garanhão do século. As escolhas são suas – Noemi disse e bebeu ainda mais do que ela.

- Do que você quer falar afinal, sua implicante?

- Que tal do passado? – Noemi perguntou trazendo alguns segundos de silêncio reflexivo para o apartamento. De repente só os sons dos carros lá fora.

- Falar de Isadora? Do jardineiro Joel Bullmap? Pra quê? Por que? Você quer que eu chore ou...?

- Sufocar o que sentimos causa infarto, sabia? E causa aumento das varizes na área mais visível da bunda. Eu nem consigo decidir o que é mais assustador – Noemi disse.

- Olha aqui, eu não estou sufocando nada. Isadora, a minha filha, tentou me matar. Ela tentou enfiar um canivete no meu peito depois que eu dei uma segunda chance para ela. Joel, o homem que mais me proporcionou prazer em toda a minha vida até este ponto se sacrificou para me defender e pronto. Fim da história. A minha única filha está morta, Joel o jardineiro está morto. O meu ex-marido desapareceu sem nem mesmo me dar o direito de assinar papéis de divórcio. Simplesmente evaporou do planeta Terra. Então, realmente, consegue ver como não existe nada para ser conversado?

- Bom... Ao menos as coisas parecem ter tomado o rumo adequado. Você que nunca gostou de romance deixou de ser uma dona de casa casada para ter um namoro liberal. Eu que amo amar deixei de me meter em orgias nos fins de semana e... Fiquei noiva.

- Se você me mostrar a sua aliança mais uma vez e disser mais uma vez que ela custa 4.000 reais eu enfio a garrafa de vinho em você – Medeia ameaçou.

- Por onde? Dependendo do caminho pode se tratar de algo que eu já tenha feito.

Medeia e Noemi então apenas riram bastante.

1 hora da manhã. Fazia pouco tempo que Noemi havia partido. Medeia conversou por no máximo vinte minutos com Simão através da câmera no notebook. Ela estava pronta para dormir, mas logo alguém familiar invadiu a sua mente. Joel. E por que não? Ela estava só em seu apartamento. Ninguém iria vê-la e recrimina-la por estar fazendo aquilo. De repente ela se encheu do desejo de realizar o ato. Retirou a sua roupa inteira. Deitou-se nua sobre sua cama. Medeia apertou os seus olhos. Via claramente Joel agora surgindo em meio a escuridão traiçoeira de suas mais profundas memórias. No exercício de imaginação, Joel chupava os seus seios como só ele sabia e Medeia começou a brincar com os seus próprios mamilos. Ela imaginou Joel a invadindo por inteiro, tão dentro dela que ela sentia todo o abdômen marcado dele pressionando contra a barriga dela e então ela levou os seus dedos até entre as suas pernas. Ela se tocava e imaginava que era ele. Teve o seu primeiro orgasmo em mais de um ano. O primeiro orgasmo desde a última vez que teve Joel por inteiro. E de verdade.

Todo aquele turbilhão de recordações fez Medeia visitar um lugar incomum na manhã seguinte. Lá estava ela no cemitério e era um dia cinza, com neblina.

Medeia parou em frente as jazidas que ela havia mandado fazer em memória de Isadora e Joel. No mármore da jazida de Joel havia apenas a data da morte e não de nascimento. Ela não sabia.

Medeia levou flores. Eram amarelas. Bem parecidas com aquelas que Joel cultivava com excelência. Ela não chorou. Sentia que havia gastado todas as suas lágrimas muitos meses atrás e agora não restava nada, por isso se virou para partir. Então ela viu. O homem. Sem camisa, apenas calça preta (E quem perambula sem camisa por um cemitério? Ela pensou em seguida). Ele estava de costas para ela e Medeia foi se aproximando. Estranhamente era como a força de um imã que ia atraindo para perto. Ela começou a analisar que suor corria pelas costas do homem e que eram costas largas, musculosas. Notou a cor do cabelo curto, os braços, o cheiro de homem viril. Era... Joel? Como? Não. Não podia ser. Não teria como... Ela tocou o ombro dele. Estava prestes a entender, a descobrir. 

 

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
O Jardineiro AmadoOnde histórias criam vida. Descubra agora