VINTE. Você vai correr, piranha?

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O tempo pode ser cruel por vezes e correr muito rápido. Medeia sabia disso e sentia a velocidade implacável do tempo.

Joel abriu sua pequena empresa de serviços de jardinagem, onde era o chefe de outros dois jardineiros e apenas três semanas se passaram quando o seu pequeno negócio já chamou a atenção de investidores da cidade grande. Ele já tinha uma reunião marcada com uma tal de Cybelle que iria até ao campo para fazer uma proposta de parceria com ele.

Naquela tarde, alguém da cidade grande chegou ao campo para uma visita antes da prometida Cybelle, no entanto. Era Noemi. A melhor amiga de Medeia se encontrava com ela em sua casa e Medeia servia um refrescante chá de ervas para que elas degustassem enquanto colocavam a conversa em dia. Noemi batizou o seu chá com uísque mesmo assim.

- Para de falar daquele despacho ruim de encruzilhada que você insiste em chamar de filha – Noemi a disse.

- Como, Noemi? Coloque-se no meu lugar. Eu descobri que a minha filha é uma criminosa de alto nível, uma procurada, que está acabando com as vidas de um monte de gente.

- Ah, e você pretende fazer o quê? Vai enfiar a cabeça dela no meio dos teus peitos, vai fazer com que ela mame, retroceda, volte a ser um bebê para você ver se recomeça do zero e tenta transformá-la em um ser humano que preste, com alma? Desiste minha amiga. O leite que azedou... Azedou. 

- Você não me ajuda mesmo – Medeia protestou.

- Claro que ajudo. Sendo realista. Agora fale sobre qualquer outra coisa.

- Vamos falar sobre o seu divórcio então. Não vai voltar atrás mesmo?

- Sua filha de uma puta! – foi como Medeia resolveu mostrar a sua frustração por Noemi ter escolhido logo aquele assunto.

- Ué? Você disse "fale sobre qualquer outra coisa".

- Você não vai ser tão sádica a ponto de me fazer repetir que eu flagrei o meu marido na cama com outro homem.

- Traição. É duro. E com outro homem. Eu entendo.

- Não, é claro que você não entende nada. O que me irritou não foi o fato de ele estar oferecendo a bunda para outro homem... Mas sim o fato de não ter me chamado para participar. Ter me deixado de fora... Isso sim foi imperdoável.

- Você não é desse mundo – Medeia disse e riu fraca.

- Mas será que você pode de uma vez por todas parar de esconder os seus problemas tentando se esconder atrás dos meus? Anda. Fale sobre a sua terapia, por exemplo. Quando vai começar as consultas?

- Eu vou marcar, eu vou marcar. Eu vou esperar que o Joel veja como ficará o futuro dos seus negócios com essa empresária da cidade primeiro. Uma coisa de cada vez – Medeia disse e bebeu mais chá.

No dia seguinte, relativamente cedo, Medeia acompanhou Joel até a reunião com a empresária. Ela o obrigou a usar terno e gravata (o que ele nunca usava) e de repente só conseguia pensar como ele conseguia parecer ainda mais atraente com aquelas roupas sociais.

Lá estava Cybelle os esperando e Medeia não gostou nada do que viu. Cybelle era jovem, loira, linda. Não deveria ter mais do que 27 anos, tinha seios duros, grandes, empinados, apontado para o sol e usava um vestido de cor vermelho sangue com decote que demarcava todas as suas formas provocantes.

- Que prazer conhecê-lo – Cybelle disse apertando a mão grande de Joel e olhando fixamente em seus olhos – Você verá que eu não sou uma mulher de rodeios, então já adianto isso: o meu plano é estender os serviços da sua pequena empresa de jardinagem para a metrópole, expandir a sua prematura empresa. O quanto gosta disso?

- Acho que gosto muito – Joel disse como um ingênuo homem do campo todo tímido.

- Vamos – Cybelle disse e o guiou para a salinha. Medeia teve que esperar lá fora.

A reunião só entre os dois levou exatos 40 minutos. Joel saiu só. Medeia sempre havia sido a mulher que reprovava as outras mulheres que se diminuíam pelo ciúme e se deixavam levar por tal sentimento que ela considerava imaturo, mas ela quebrou a sua regra ao pular nos braços deles, colar seu nariz no pescoço do homem grande e forte que ela chamava de seu. Não sentiu nenhum cheiro diferente.

- O que você está fazendo? – Joel a perguntou.

Ela não respondeu com palavras, mas sim com ações. Medeia arrastou Joel para o banheiro masculino daquele pequeno escritório e começou a tirar o seu terno com urgência.

- Medeia... Essa não é você. O que está acontecendo?

Mas Medeia só quis empurrá-lo contra a pia, abaixar a calça social que ela mesma usava e posicionar com a sua própria mão o órgão comprido e rígido dele dentro dela. A sua mais nova insegurança latente a levou a fazer aquilo.

Na Argentina, Isadora estava escondida em seu barraco escuro habitual. Havia um bebê roubado dormindo dentro da pia e outro dormindo dentro de uma caixa de papelão no chão.

Isadora cheirava uma fileira de pó de cocaína sobre a mesa suja, inalava todo o conteúdo como se não houvesse um amanhã e sentia a sua cabeça girar logo em seguida. O seu celular tocou.

- O que é? – ela atendeu com o seu mau humor de costume.

- Mete o pé, piranha branquela – o homem no outro lado da linha a disse.

- O quê?

- Ficou surda, piranha? Os canas estão no seu rastro e entraram na direção certa. Já bateram a informação pra gente. Estarão aí em minutos. Mete o pé, branquela. Rala peito da Argentina. Se não sumir daqui por uns tempos, vai ser fim de linha pra tu.

Isadora largou o celular, abandonou os bebês ali mesmo, enfiou algumas peças de roupa em uma pequena mala de mão, pegou seus óculos escuros da marca Chanel e o seu passaporte falso e deixou o lugar o mais rápido que pôde.

- Corre, piranha! Corre! – a voz do homem ainda era ouvida do aparelho no chão.

Isadora chegou ao Brasil. Ela sentiu todo aquele típico aroma brasileiro que não sentia já fazia algum tempo. Ela parou na entrada do aeroporto, olhou para os lados, ergueu o seu queixo e respirou profundamente, estava confiante.

- Mamãe... Eu voltei –ela disse para a rua movimentada que nunca parava. 

O Jardineiro AmadoOnde histórias criam vida. Descubra agora