VINTE E QUATRO. Você quer paz na sua vida?

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- Então você voltou – quando finalmente conseguiu respirar propriamente, Medeia disse para Isadora, sempre a encarando e apontando a grande faca.

- O que você esperava. Somos mãe e filha. Não somos? A vida naturalmente vai sempre nos atrair para perto uma da outra em algum ponto – Isadora disse pronta para usar as grandes seringas que segurava.

- Eu queria que você estivesse morta – Medeia confessou.

Isadora riu. Ela riu bem alto.

- Mas, meu Deus. Que horror. Que mãe horrível você é por dizer uma coisa desse tipo.

- Pare de abrir a sua boca suja e maldita para me chamar de mãe. Você não é filha de ninguém, não pertence a ninguém. Olha só no que você se transformou. Olha o que fez com o Joel! – e rapidamente Medeia apontou para Joel deitado no chão do corredor com as marcas roxas de chupões por seu corpo, outros hematomas, pequenos cortes e as marcas de mordidas com sangue.

- Ah, o seu jardineiro Joel é delicioso como eu sempre imaginei que era. Hoje eu provei. Consegui entender porque você se apressou em catar o jardineiro gostoso para você. Sua vagina velha e seca deve urrar de felicidade sempre com ele. Não é mesmo?

- Cale essa sua boca, Isadora! Apenas me respeite e me dê paz. É só o que eu quero. Um pouco de paz! É pedir demais?

- Eu estou entendendo. Aposto que no cenário do seu futuro perfeito eu estou morta e você está trepando com o jardineirão todos os dias sobre uma pilha de macias flores rosas. Velha safada! – e Isadora riu mais.

Foi quando Isadora se abaixou próxima a Joel e guiou a comprida seringa na direção do olho dele.

- Que tal se eu matar o seu jardineiro bem dotado e matar você em seguida de uma vez? Você disse que quer paz. Serve a paz que espera por vocês no "além-vida"?

A agulha da seringa estava a um centímetro de entrar no olho direto de Joel, quando Medeia liberou o grito preso em sua garganta e pulou sobre Isadora mais uma vez a impedindo.

Quando elas se levantaram, aquela luta começou a ser travada. Medeia balançava a faca no ar, rápida, para todos os lados, fazendo Isadora ir se afastando caminhando de costas. Isadora se esquivava e tentava igualmente acertar uma das seringas em Medeia.

Então Medeia conseguiu bater com a parte não cortante da faca na mão esquerda de Isadora e ela largou uma das duas seringas. Quando Isadora se abaixou para pegá-la de volta, Medeia a chutou bem no estômago e Isadora rolou no chão de dor.

Medeia se aproximou para recolher as duas perigosas seringas do chão, conseguiu, as jogou para fora da casa pela janela ao fim do corredor atrás dela, mas nesse instante, Isadora acertou um soco na bochecha direita de Medeia e ela caiu.

Isadora pisou sobre a mão de Medeia com toda a sua força e Medeia não apenas largou a faca grande, como teve três dedos da sua mão quebrados no mesmo instante. Isadora chutou a faca para longe que caiu quicando escada abaixo e partiu para cima de Medeia.

- Sua velha! Velha! Velha! – Isadora gritava e distribuía os golpes.

Lá fora alguém chegava. Era Noemi. O seu pressentimento certeiro havia a mandado ir atrás de Medeia ali na zona rural, então ela pagou uma babá temporária para ficar com o pequeno Ulisses e agora parava o seu carro vermelho em frente à casa. Ela logo ouviu os gritos de Medeia e Isadora e não hesitou. Abriu o porta-luvas do carro, retirou o seu pequeno revólver cor de rosa e correu para dentro da casa.

Medeia acertou um tapa em cheio no rosto de Isadora e em resposta, Isadora correu a sua mão no ar, arranhou o rosto de Medeia com as suas unhas vermelhas compridas e desenhou aqueles quatro cortes paralelos e profundos da bochecha dela. O sangue correu em seu rosto no ato e então tudo parou. Algo estranho aconteceu. Isadora não conseguia mais se mover. Era como se ela estivesse ficado hipnotizada olhando para o rosto ferido de sua mãe, ferimentos que ela provocou. Ela nem piscava e o seu rosto estava livre de emoções. Refletia. Era um inédito arrependimento? Medo de si mesma? Nem mesmo a própria Medeia conseguia interpretar.

Então Noemi chegou ao corredor onde os três se encontravam, eufórica e apontando o pequeno revólver cor de rosa.

- Sai já de perto da sua mãe, seu resto de estrume! – Noemi gritou.

Mas Isadora estava estranhamente tomada por aquela tranquilidade paralisante e apenas levantou em silêncio, erguendo suas mãos no ar, se rendendo.

Medeia arrastou Joel, nu, para a outra ponta do corredor e de repente estavam naquela posição. Em uma ponta do corredor Isadora com as mãos erguidas em rendição e distante na outra ponta, Joel, Medeia e Noemi. Todos se encarando.

- Eu vou matá-la, Medeia. Eu vou meter uma bala no meio da testa dessa vagabunda para que você finalmente tenha paz na tua vida! – Noemi anunciou sempre apontando o revólver para Isadora.

- Noemi...

- Nem ouse me pedir para não fazer isso!

- Deixe que a minha mãe faça – por fim Isadora falou e a sua voz tinha tom sereno como há anos não era ouvida. – Faça mãe. Atire em mim. Mate-me. Eu estou dando permissão. Eu estou pedindo. Eu estou cansada.

- Isadora, para de...

- Eu sei. Você também sabe que você nunca conseguirá ter uma vida feliz e calma enquanto eu viver, então acabe com isso.

Silêncio.

- Eu só peço um instante para que eu me ajeite um pouco. Eu quero morrer estando bonita – e dizendo isso Isadora entrou no banheiro ao lado e fechou a porta

- Ela vai voltar lá de dentro com uma faca, um machado e uma metralhadora carregada – Noemi disse e passou o revólver para as mãos de Medeia.

- É a minha filha, Noemi – Medeia dizia com a garganta transbordando em lágrimas. – É a minha...

- NÃO! NÃO! Ela é um monstro.

Isadora saiu. Voltou ao centro do corredor. Nada em suas mãos. Ela havia gastado cerca de dois minutos dentro do banheiro. Ela havia lavado os traços de sangue de seu corpo, lavou bem o rosto e penteou bem o cabelo todo para trás.

- Você vai atirar em mim, mamãe? Você vai?

- Faça, faça. Você precisa ter uma vida sem ameaças, sem perigos. Atire. Faça – Noemi sussurrava no ouvido de Medeia.

Logo, Isadora correu em direção as duas e Medeia o fez por instinto. Ela disparou. Ela acertou?Isadora estava morta? Ela perdeu o tiro? O que aconteceu naquele fragmento de segundo?

 Ela acertou?Isadora estava morta? Ela perdeu o tiro? O que aconteceu naquele fragmento de segundo?

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O Jardineiro AmadoOnde histórias criam vida. Descubra agora